Maeve tem vontade de me matar sempre que vê um título de conto meu.
Ela diz que eu não trabalho com os algorismos da internet.
Eu realmente não me importo com essas modernidades.
Minha obra se cria do nada, o que acontece pós isso, realmente não me importa.
Folie à Deux
Nome de um capítulo do meu novo livro.
“Transtorno delirante induzido ou perturbação delirante partilhada.”
Uma obsessão compartilhada entre dois indivíduos que respiram o delírio do outro.
A sensação que eu tenho é que vejo vários casais vivendo essa doença sem perceber.
Um começa a mergulhar na paranoia do outro.
Você não consegue identificar quem é o dono do delírio que passa isso para seu companheiro como um vírus.
Eu e a Mafiosa.
O que tinha um tom de relacionamento com pretensões de futuro parecia estar se tornando algo meio toxico.
Mas no primeiro momento, pensei, ela só é possessiva.
Sangue italiano, filha de uma das maiores famílias da máfia de Nápoles.
Ela conseguiu com esse territorialismo me afastar da Cartomante.
O que, de certa forma, ela fez bem, já que a Cartomante tinha o potencial de ser quem me tirasse daquela loucura que eu tinha me enfiado.
A Mafiosa aqui vai ser descrita apenas no cenário anterior aos eventos do fatídico dia de Florença.
Depois de alguns encontros, ela decidiu que a gente tinha um potencial absurdo para ser um casal.
Eu não tinha feito essa analise, estava só vivendo.
Viver é algo fácil de se fazer, se você caminha com os olhos fechados.
E la estava eu, vivendo um dia de cada vez, sem grandes pretensões.
A cegueira às vezes é uma escolha, assim como a ignorância.
Mas essa coisa toxica dela estava se mostrando demais, até mesmo para mim e minha miopia seletiva.
Já estava afastado da Cartomante quando ela recebeu uma ameaça anonima para não pisar mais em Florença.
Aquilo mexeu comigo.
Me ligou um certo alerta.
E dali resolvi diminuir um pouco essa cegueira.
Fui para a fase seguinte.
A fase do observe, não absorva.
Talvez eu tenha observado demais sem nenhuma atitude.
E aquilo foi me moldando.
Um dia me peguei com ciúmes dela, por alguma cena que ela criou, que nem ao menos lembro.
E aquele foi o segundo alerta.
Eu nunca tive ciúmes.
Minha insegurança nunca foi negada, mas não para relacionamentos.
Sempre fui entediado demais para isso.
Mas aquilo fez brilhar os seus olhos.
Como se fosse uma forma de amor.
E ela esperava aquilo desde então.
Entao começou a fase onde ela estava sempre com raiva e agressiva.
E comecei a me pegar mais estressado do que o habitual.
Flertando com a possibilidade de uma raiva quase impossível de controlar.
Aquilo não era eu.
Um dia, sentado com meu amigo mimico bebendo umas cervejas de frente para um por do sol lindo de Florença, ele me falou sobre essa teoria.
A teoria onde dois indivíduos começam a compartilhar delírios, bipolaridades e outras pertubações.
Dentro da Folie, um dos indivíduos esta verdadeiramente doente, o outro esta apenas sendo afetado por esse transtorno.
Separando, você já consegue distinguir quem é o dono dessa síndrome.
Aquilo parecia um toque de um amigo.
Naquele fim de tarde, ela apareceu e de forma brusca e mal-educada, chegou na mesa dizendo que eu precisava sair com ela ao invés de perder meu tempo com qualquer um.
Enquanto eu ia indo embora constrangido, o meu amigo mimico levantava o copo como uma saudação e simulava um choro com o melhor que sua arte podia entregar.
Ali eu percebi que eu estava perdido.
Perdido em um mundo cruel.
Logo após aquele episodio, comecei a me colocar na posição de analisar esses fatos.
Como se eu estivesse de fora.
Faith não gostava muito da Mafiosa, e se sentia meio impotente perto dela.
Parecia até me evitar por essas épocas.
De modo geral, todos da galera tinha um afastamento quanto a ela.
Rudolph que nesse tempo de Florença eu convivi um pouco mais, era o único que agia de forma mais ríspida com ela.
Eles se odiavam.
E não faziam muita questão de representações na minha frente quando se viam.
Quando dei por mim, eu estava adquirindo todos esses delírios de ciúme e posse que ela tinha.
E as verdades dela, iam me levando para um cenário que não existia.
Ela já fazia minha cabeça para o conluio dos meus amigos para nos separar.
Era isso, eu estava compartilhando os delírios dela.
Como algo divino, resolvi sair daquele relacionamento.
E logico que abri as portas do inferno com isso.
Mas essa parte da história você não lerá nos contos soltos.
Foi fácil perceber que aquela obsessão e fase delirante tinha uma nascente.
E assim que fui afastado, voltei a ser o mesmo entendiado de sempre.
Sem grandes alterações de humor, um velho rabugento padrão.
Na prática, a teoria do mímico se mostrou eficaz.
Engraçado como hoje eu percebo o quão cego eu estava e quanto coisa eu poderia ter evitado.
Mas já brinquei de culpa tempo demais.
Você faz a merda, assume e vai de peito aberto para todas as consequências que vem com a sua atitude ou falta dela.
Sempre fui um apaixonado e posso dizer que até mesmo um viciado em mulheres loucas.
É uma beleza que se apresenta diferente e que normalmente se mistura com a minha.
Acaba rolando uma espécie de simbiose entre essas loucuras.
Esse é o melhor dos amores.
Quando a sua insanidade se encaixa com a insanidade de alguém e vira algo positivo.
Mas como tudo que é bom, é muito fácil de se perder nesse caminho.
Então boicote ao amor.
Não pense duas vezes.
Evite se transformar no palhaço apaixonado que coloca fogo no circo.
No momento estou mergulhando em diferentes loucuras.
Entrei em uma fase de caos.
Por escolha.
Acho que era uma adrenalina necessária para eu não me perder do personagem.
Mas no ritmo que esta, seria um favor que a mafiosa me derrubasse desse trono da liberdade.
Se existe droga mais potente que a liberdade, ainda não experimentei.
Não existe delírio a dois que alcance os danos que sua liberdade pode te dar.
Então coloque um sorriso nesse rosto, e surfe essa onda que é a loucura da vida.