terça-feira, 26 de março de 2013

Roleta russa para um futuro





Quando sua vida congela,aquele momento em que você se vê sem saída, sem escapatória, pois bem, todos passam por isso um dia.

Por mais maduro ou psicologicamente forte que você seja e enfrente seus problemas, um dia você vai parar e respirar fundo para continuar.

E
ssa hora chega como uma bela porrada na boca do estômago que te pegou desprevenido.

Achava que já tinha passado por isso,tendo em vistas as grandes tristezas e fatos amargos que já vivi.

E
esse foi meu erro.

Com esse pensamento minha guarda baixou.

Já estava sendo minado constantemente por uma pressão de futuro,problemas cotidianos,amores frustrados e malditas ressacas.

Foi então que me vi sem saída e enojado com o pensamento de continuar.

M
inhas opções se apresentavam como uma estranha roleta russa.

C
om um revolver de cano bem longo apontando para minha boca.

Seu tambor era enorme e completamente preenchido por suas balas.

D
epois de alguns minutos de agonia, percebi que havia um espaço vazio no tambor.

U
ma saída pelo menos existia.

Minha mão é que segurava a arma,sem nenhuma respostas aos meus comandos.

E
eu ali na velha brincadeira da roleta russa.

U
ma piada ácida eu diria.

Ali esperando meu dedo cumprir seu papel,pensei em toda minha vida.


O
s poucos que eu sentiria falta,e como eles superariam essa perda velozmente.

Sabe,quando se pensa em depressão,sofrimento,angustia e todos esses sentimentos que te causam dor, tem algo de muito estranho que te mantém nisso.

A
lgo que você saboreia sem perceber.

As vezes acho que toda dor tem um lado de prazer,e por isso que ela se prolonga.

Me sinto assim,na pior fase da minha miserável vida.

S
entindo um prazer em todo esse sofrimento.

E
ao mesmo tempo sem saco para continuar.

P
ronto para explodir e sair fora dessa tortura que é o mundo.

Agora não mais me vejo em desespero com aquela arma apontada para minha boca a espera de um espasmo do meu dedo.

T
alvez um pouco triste por me sentir incapaz de uma saída.

Um pouco de orgulho ferido por essa fragilidade aparente.

M
as uma boa sensação por me comportar tão bem diante uma derrota.

R
eação essa que nunca fui bom,admito.

No final de tudo teria superado meu pai,com toda aquela arrogância e sua pseudo superioridade perante todos,que jamais admitiria que perdeu mesmo diante sua derrota.

Meu velho era muito bom para ajudar a te diminuir,te derrubar,um grande falso moralista e sem erros,viria com seu discurso pudico,e eu já teria apertado o gatilho repetidas vezes atrás da bala.

Agora continuo preso dentro deste pesadelo,aguardando que a vida faça seu trabalho.

C
omo não vejo saídas fico aqui me alimentado desse pequeno prazer que essa dor me traz.

Um sentimento triste,talvez ate mórbido, porem real...


quinta-feira, 7 de março de 2013

O dia em que eu morri...





 Me pego lendo Sartre, Les mots as duas da manhã, isso só prova que estou deprimido e sem saída.

Por mais culto que pareça a atitude, só mostra o quão fora da minha rotina eu sai.

Por não ter mais vontade de continuar,a leitura pode te ajudar a se afundar quando necessita,pois vira uma espécie de mundo alternativo,te tirando da realidade.

Estou a duas semanas trancado no quarto,bebendo meus uísques e minhas cervejas.

Fumando meus charutos,sem banho desde então.

Lendo compulsivamente.

Telefones desligados,casa trancada e horários trocados como de costume.

Para muitos, devo ter morrido.

Para alguns, simplesmente enfim enlouqueci.

E para outros não faço falta alguma.

O mais impressionante é que me sinto cada dia mais forte.

A solidão trabalha me fortalecendo.

Sempre foi assim.

Sozinho raciocino melhor,olhando tudo com mais clareza.

Termino a minha leitura e olho em volta.

Me sinto estranho.

Na minha cama tem um corpo esverdeado em meio a muitas garrafas.

Olhando bem, percebo que o corpo é meu.

Ao seu lado o livro de Sartre aberto nas primeiras paginas.

Difícil se ver morto.

Fiquei olhando ali aquele corpo e seus abusos.

Num piscar de olhos,estava em um jardim ensolarado,com uma aglomeração de pessoas chorosas e revoltadas.

Estava em meu enterro.

Dentro do caixão com aquele tom branco fúnebre e um sorriso sádico no rosto. - menos mal pensei.

Eu andava entre os grupos e ouvia suas lamentações e reclamações.

No geral eu era um cara egoísta que nunca quis ajuda e procurou se afundar a vida toda.

Pois bem,não deixava de ser verdade.

Meu pai tinha aquele ar de superioridade e ao mesmo tempo de repulsa.

Se sentia envergonhado pelo fracasso que foi seu filho.

O qual ele esperava que fosse uma espécie de copia fiel de sua personalidade.

Esta ai o maior dos fracassos.

No canto havia seis amigos,do qual sempre pude contar.

Estavam a falar de nossas loucuras e situações engraçadas passadas pela vida.

E ai entendi o porque estavam tão afastados.

Estavam todos a beber a minha garrafa de uísque preferida.

Esses sim,bons amigos.

No fechar da tampa do caixão,olhei e vi uma linda moça que chorava quietinha.

Muito branca,daquelas de palidez típica das deusas antigas,mas não conseguia lhe ver o rosto.

Ouvi um primo meu que estava próximo,comentar a uma senhora.

- Esse era o amor da vida dele

Entrei em desespero.

Tentava sem êxito enxergar o rosto da linda menina pálida.

Ouvi a tampa do caixão fechar e simplesmente desapareci.

Levantei da cama,com uma péssima dor de cabeça.

Olhei ao meu lado e estava varias garrafas de bebidas vazia e meu livro do velho Sartre.

Olhando no espelho me vi normal e percebi que estava com ressaca.

Uma das brabas,algo que nenhum morto teria.

Peguei meu copo enchi com mais uísque e com aquela sensação de esta de volta,renovado.

Meu amor,a linda branquinha pálida ainda não existia,o que me deu uma certa frustração.

Parti em direção ao banco para pagar minhas contas,pois ainda estava vivo para ser cobrado.