segunda-feira, 22 de outubro de 2018

De saco cheio e de mau humor





 
Hoje eu acordei insuportável, com um gosto de sangue na boca.

Mas não era nada físico, era simplesmente ódio.

Estava raivoso por algo que eu não fazia ideia do que era.

Sai da cama, com um único sentimento, precisava matar alguém.

E fiquei assim pelo resto do dia.

Uma sensação estranha, que parecia ser algo relacionado aos instinto mais primitivos e violentos dos animais.

Mas eu não era um serial killer para suprir esse meu sentimento com múltiplos assassinatos.

Também nunca fui de briga, logo não fazia sentido  ir sair na porrada com ninguém.

Eu sou um cara que acredita em qualquer superstição ou fato religioso que você me ofereça, ao mesmo tempo que estou sempre questionando tudo.

E certa vez Faith que era uma católica nada praticante e fã de horóscopos ,falou para mim sobre a teoria dela de que as vezes pessoas pensando em você, podia talvez ter esse poder de te incomodar.

E por ser uma ligação cheia de interferência, seja positivo ou negativo o pensamento da pessoa, isso te tirava dos eixos.

Se isso tiver alguma lógica, acredito que todas as pessoas que me odiavam, e não eram poucas, estavam tentando me afetar.

Pois bem,esse conto é uma carta velada de ameaça a essas pessoas.
Eu estou deitado na cama ao cair da noite, sem nenhuma gota de álcool, escrevendo esse texto.

Eu desejo a você um caminho completamente fora da minha vida.

Que você desapareça do meu caminho e cruze caminhos de serial killers de verdade, já que você procura por diversão.

Eu sou um cara entediante e que 99% das vezes não dá a mínima para o meu próximo.

Torcer pela minha desgraça é algo tão desestimulante como torcer para o coiote matar o papa-léguas.

Eu já sou desgraçado por natureza, minha alma sempre foi medíocre e miserável, e nada do que você faça vai mudar isso.

No meu fundo do poço não tem raio de sol, então a escuridão de nada me afeta.

Esse ódio que estou sentido é realmente algo incomum, mas que em nada vai afetar na minha vida.

Flertei com suicídios mais vezes do que sua mãe transou na vida, logo negatividade é meu sobrenome.

Se você realmente quer me afetar, pegue uma arma e venha me acertar.

Mas não seja patético de me dar um tiro para ferir, seja competente e dê na cabeça.

Para mim vai ser um alivio, já para você talvez apenas uma descarga de adrenalina por alguns minutos.

Se colocar no meu caminho para me prejudicar, também não vai ser algo producente.

Só me importo com minha gata e mesmo assim nada que faça de mim um militante da causa animal.

resumindo, se você quiser me prejudicar, vai falhar gloriosamente, já que prejuízo é algo que não mais afeta meu mundo.

Faça um favor a si mesmo e vá transar.

A queda do muro




“A vida tem que continuar”...

Esse é o lema que muitos têm para a vida.

Eu acredito nesse lema, a diferença é que não crio uma estratégia na vida que faça esse lema seguir em um caminho mais seguro.

Vivo o hoje, da forma que você pode considerar, o caminho mais egoísta possível.

Porem existe algo que me tira dessa bolha de tranquilidade e lobo solitário, vínculos afetivos.

Amizades no geral, tem maiores dificuldades para entrar no meu mundo.

John e os outros são realmente grandes amigos, mas acima de tudo, pessoas super evoluídas.

Eu não teria a metade da paciência que eles tem comigo, eles realmente lutam por mim.

Porém, relacionamentos são sempre mais profundos.

Os amores da minha vida, chegam e edificam um lugar seguro na minha história.

Essa minha proteção das relações afetivas é algo automático, uma defesa natural.

E eu sempre crio um muro, um muro simbólico, onde deixo marcado todos esses bons sentimentos.

As partes negativas também estão lá, para me lembrar sempre, que isso faz parte do convívio social.

Esse muro sempre me fez bem, sempre.

Mas agora eu vejo ele desmoronando aos poucos.

Cada dia uma parte da estrutura se deteriora mais.

E isso vai me fazendo mal, cada dia que passa com esse sentimento e assistindo a isso, vai me deprimindo, vai me machucando.

Enquanto o muro está ali, eu fico estagnado, não consigo caminhar.

Eu não quero me relacionar com ninguém, sou assim de espírito.

Não procuro por diversão ou novas experiências, pelo contrário.

Não tenho paciência nenhuma para jovens ou velho, na verdade não tenho paciência para pessoas.

Na minha longa vida, passaram  várias pessoas que chegaram a conclusão de que eu era apenas amargo, faz sentido.

Sou uma alma que reencarnou por engano.

Cheguei aqui sem missão, e ai me entediei.

Existe uma lenda antiga, que diz que vampiros, seres imortais ,viviam séculos e séculos ,amaldiçoados por não conseguir morrer.

Com isso eram obrigados a assistirem filhos, amores e amigos morrendo por eras.

Certo dia um vampiro encontrou um elixir que prometia o fim da imortalidade.

Ele bebeu e foi amaldiçoado novamente, seu corpo morreu e sua alma foi para reencarnação com o sentimento de tédio que ele trazia de todos esses séculos andando pelo mundo sem sentido.

Talvez eu seja essa reencarnação.

Tenho esse tédio, esse desgaste de sentimento e a sensação de imortalidade, com essa rotina nada saudável e alcoólica do meu dia a dia.

Hoje quando acordei, ouvi um estrondo, senti a garganta seca e uma lágrima desceu.

Fiquei pensativo tentando entender aquele sentimento de vazio que apareceu.

Fui interpretando todos os sinais dados e cheguei à conclusão.

Chegou o dia da queda do muro.



Mulheres como Faith





Sabe o primeiro brilho do sol no amanhecer?

Talvez seja o mais próximo que eu possa me aproximar de uma descrição do que era Faith.

Ela era exatamente isso, um brilho sem igual que reluzia quando você a encontrava.

Aquela pele branca tão adorável que te encantava como algo com poderes mitológicos e, ao mesmo tempo, te transmitia uma paz absurda.

Bastante reservada, mas, ao mesmo tempo, chamava atenção de todos com sua beleza e seu ar de mulher fatal, contra sua vontade.

Por sinal, esse lance de beleza a incomodava, fazendo até largar sua carreira de modelo na adolescência.

Tinha cabelo comprido bem preto e usava óculos que fazia ela ficar muito mais atraente.

Sempre foi uma mulher independente, mesmo nos tempos da faculdade, onde nos conhecemos.

Ela e John eram amigos de infância e se formaram juntos na faculdade de Direito.

Além disso, era a aluna preferida do velho Rudolph Krauss, um delegado da polícia Civil e professor de Penal.

Rudolph virou parte do nosso grupo seleto de amigos com os anos.

Além de ser uma ótima conversa, era um grande e louco bom vivant.

Faith se tornou uma advogada absurdamente competente, e você já imaginava seu futuro de sucesso na profissão desde o seu primeiro semestre da faculdade.

Estávamos sempre no mesmo grupo bebendo depois da aula, Faith, eu, John, Latini, Ari e Rudolph.

Depois que John e Faith montaram o escritório, eles trouxeram seu estagiário, Elliot, para o nosso grupo de alcoólatras.

Faith era a única mulher no meio de nos, e sabia lidar muito bem com essa situação.

Ela sempre estava se esquivando das investidas de Ari e das propostas de orgias de Latini.

Rudolph sempre gostou de alunas na casa dos 19 anos, então Faith sempre esteve fora do seu radar.

Como ele dizia, sobre seus amores de 19 anos, “um ano a mais da maior idade é a melhor fase da mulher adulta”.

Ari era apaixonado por Faith e nunca desistiu dela.

Trocaram uns beijos, algumas vezes, mas Faith estava sempre fugindo de algo sério com Ari.

John e eu, olhávamos para ela como uma grande amiga.

Porem Faith tinha um defeito, um dos grandes.

Tinha uma queda por mim.

O velho vigário que não era de negar fogo, sempre esteve numa sinuca de bico com Faith.

O primeiro fato que sempre me afastou, era que Ari era um grande amigo e eu sabia que ele realmente amava ela, então não queria estar no meio dessa confusão.

Por sexo, essas loucuras só valem a pena muito bêbado, mas nesse caso específico sempre evitei.

E o segundo fato era a paz.

Faith tinha o dom de transmitir uma paz absurda, que te invadia.

Porem isso me entediava.

Para uma amizade não tinha problema, mas em questão de relacionamentos amorosos, eu sempre gostei das que deixavam minha alma completamente desnorteada e enlouquecida.

Latini após virar político, virou um sócio fantasma do escritório e levava contratos de empresas e até mesmo de entes públicos em todas as matérias.

O que fez de Faith umas das maiores especialistas em Direito Tributário.

Eu estava sempre perturbando Faith por ser vegetariana nas mesas de bar.

Ela era, assim como o nosso grupo, incansável na tentativa de me manter vivo para o mundo.

Era completamente louca quando bebia demais e estava sempre nas confusões de John, diziam ser a dupla dinâmica da arte da mentira.

Nessa minha fase internacional, ela apareceu algumas vezes, e nós tivemos grandes histórias juntos.

E posso adiantar que ela deixou homens do mundo todo aos seus pés.