Com certeza as vezes me arrependo das
minhas escolhas.
E hoje foi um desses momentos.
Eu e John fomos a Itália encontrar Ari e Rudolph que moravam por Florença por uma temporada para aprimorar as investigações sobre o sumiço do irmão de Ari.
Era um caso muito complexo e estranho, e que ficava ainda pior com as particularidades de Ari.
Seu irmão já estava desaparecido a mais de um ano, deixando dados financeiros pelo mundo.
Mas incrivelmente nunca davam em nada as pistas e os rastros.
Mesmo com todo poderio de investigação que Ari podia pagar.
Era um mistério que vinha fudendo a cabeça de Ari, meses antes de eu vir definitivamente morar na Irlanda.
Lugar esse que foi um dos primeiros rastros, que como todos os outros não deram em nada.
John reservou um voo de classe A, mas eu como sempre neguei e fui fazer meu ritual natural.
Passaporte na mão, espera e desconforto do aeroporto e aquela classe econômica padrão.
Eu podia imaginar John com uma câmera escondida enquanto eu curtia meu inferno na terra.
Acho que todas as crianças pirracentas do mundo foram premiadas com um voo para Florença naquele dia.
A ironia do destino era que o voo premiado era exatamente o meu.
E com um Plus.
Todas as crianças em volta de mim.
Gritando, chorando e criando uma rebelião anarquista em pleno voo.
Eu suspirava fundo tentando imaginar alguma espécie de exercício mental que pudesse me salvar de perder minha sanidade.
Em um primeiro momento algumas crianças eu conseguia perdoar mentalmente, por serem novinhas e talvez estarem sofrendo com algum tipo de dor causada pela pressão do voo.
Mas esse meu lado empático estava indo ladeira abaixo em uma velocidade recorde.
Eu repetia um mantra de dar inveja aos budistas no meu eu mais profundo.
-Essa porra vai acabar mais rápido do que começou.
Porém, Buda não assinou embaixo.
E eu continuava ali naquela situação adorável.
Quando meu corpo estava próximo de um comodismo em relação aquela loucura, eu tive uma nova cereja no bolo.
Eu sentia porradas na minha poltrona na parte de trás.
E elas aconteciam com um grande intervalo de mais ou menos 3 segundos.
Eu já não aguentava mais, preferia uma surra bem dada do que aquilo.
Olhei para trás e vi um moleque de seus 7,8 anos, não mais do que isso.
Tentei a velha e eficiente estratégia da encarada com cara de louco.
Mas aquele moleque tinha algo diferente.
Tentei novamente uma encarada, agora mais potencializada para um nível seriall killer.
Nenhuma reação.
Eu virava e as porradas continuavam.
Na minha cabeça, eu só pensava em como eu queria o nome todo e o documento daquele moleque,
para quando ele completasse a maior idade, eu pudesse lhe dar uma surra.
A mãe ao seu lado, simplesmente ignorava aquela situação.
Como se sua cria, o novo Messias, ao que parecia pela importância, fosse o rei daquele avião.
Eu resolvi ir além da minha encarada.
Fui para uma conversa.
Sempre tive um potencial em entrar nas cabeças das pessoas.
-Pequeno jovem rapaz, você já percebeu que suas batidas estão me incomodando, e eu já percebi que você está fazendo isso com essa intenção.
Então acho que já podemos encerrar esse jogo. - Eu falava com a calma peculiar de um psicopata.
Ele deu um sorriso, enquanto sua mãe ignorava até mesmo a nossa conversa tão adulta.
Ele começava a falar um monte de coisas e em uma velocidade impressionante.
Não tinha ideia de que língua era aquela.
E isso iria complicar um pouco a minha hipnose infantil.
A aeromoça percebeu e veio tentar fazer a ponte daquela discussão digna dos maiores chefes de Estado, no que diz respeito à maturidade.
-Ele é russo.
Você não vai conseguir ser entendido, mas pode ficar tranquilo que vou resolver a sua batalha. - A aeromoça se divertia com aquele embate de pequenos e descontrolados seres humanos.
Em um tom rude, que sempre parecia peculiar da língua russa, ela começou sua metralhadora de palavras.
Tanto para a mãe, como para o filho.
Ela realmente intimidava.
Parecia que um rottweiler chegava para apartar uma briga entre pinschers.
Em 1 minuto, ela encerrava seu discurso e sorria em minha direção dizendo que estava tudo resolvido.
O pequeno psicopata russo fechava seu semblante, e fuzilava com olhos de um agente da KGB, mas parecia respeitar o que foi dito.
A mãe depois da sacudida, parecia mais atenciosa a criança.
E eu, o velho mais rabugento daquele voo poderia ter de volta alguns momentos de paz.
Quando cheguei em Florença, eu estava sugado física e mentalmente.
Chegava na casa de Ari no meio de sua aula de culinária.
Ari para não pirar, começou a fazer coisas para manter a mente ocupada.
E a aula de culinária com um chef era um dos seus hobbies.
Eu só precisava tomar um banho e deitar.
Quando estava me despedindo, Ari me informou que iríamos a um show de uma banda alemã que ele apreciava no dia seguinte.
Quando ele falou onde, minha cabeça reagiu quase explodindo.
Moscou -Rússia.
Eu apenas sorria lembrando do meu embate de mais cedo.
Parece que agora iria para um lugar, onde milhares de versões daquele moleque seriam grandes.
Eu devo ser o cara mais punido pelo o universo.
No dia seguinte, resolvi não cometer o mesmo erro e acompanhei Ari na sua classe elite.
E como bom soldado, estava indo para o campo de guerra preparado.
Uma garrafa de vodka debaixo do braço e um sorriso no rosto.
Não foi dessa vez que vigário perdeu sua razão.