Ok Ok, antes de contar essa experiência maluca, preciso
explicar alguns pontos.
Isso é um diário de cronologia incerta.
Fatos, épocas e momentos da minha vida chegam aqui de forma embaralhada e não
tem a pausa devida.
Então é sua escolha embarcar nessa loucura que não segue padrões socialmente
aceitáveis.
Outro ponto importante é o meu último relacionamento.
Eu tinha encontrado algo que parecia ser o relacionamento mais tranquilo de
todos esses anos.
Tranquilo demais.
E essa foi a primeira rachadura.
Eu vinha de uma fase boa e de um relacionamento saudável, que era raro.
Mas eu não parecia estar à vontade com aquela tranquilidade.
Minha sorridente das sete doses não parecia ter caos
suficiente.
E eu me via desestimulado.
Ela parecia não ter ambição, só movimentos robóticos.
E se eu tivesse uma terapeuta, ela iria me dizer que isso
não me atraia.
Porque procuro complementos do que me falta.
Mas isso não importa.
Não tenho terapeuta.
No inicio o fogo daquela paixão parecia ser suficiente.
Mas com o decorrer dos dias, aquela paz foi me entediando.
Nada mais clichê do que ,”Não é você ,o
problema sou eu.”
Mas não cheguei a isso.
Ela recebeu uma proposta de uma grande empresa e ia precisar ir para o Estados
Unidos por um tempo.
O que era uma piada de mau gosto, já que tudo tentava me levar para a terra do
Tio Sam naquele momento.
Mas aproveitei essa nova rachadura para um até logo oficial.
Combinamos de cada um seguir seu caminho, e quem sabe se encontrar no futuro.
Não teve luto.
Parecia que interrompemos a nossa relação antes de ela se transformar em algo
mais solido.
Duas semanas depois ela embarcava para o EUA e eu para a viagem com Ari.
Eu e Ari combinamos uma viagem com mistura de perfis.
Ari gostava de mais conforto, mais status e mais poder.
Já o meu perfil era muito mais mundano e simples.
Desconhecidos, problemas comuns e uma cama qualquer para acordar de uma
ressaca, eram o pouco que eu necessitava.
Então a viagem tinha uma energia diferente de todas as outras que já tive.
Fomos para a Itália intercalando entre albergues e hotéis 5 estrela.
A nossa vida noturna também tinha um abismo gigante.
Festa onde se encontrava a nata que estava no país, como artistas de Hollywood,
políticos influentes, Modelos internacionais e milionários.
Esse tipo de ambiente eu já conhecia muito bem, pois era por onde Ari sempre
estava.
E no dia seguinte uma noitada com a galera do albergue, no próprio quarto ou em
algum boteco mais raiz que encontrávamos andando pela cidade.
Foram ótimos dias pela Itália por várias cidades.
Ari não tinha problema com o meu estilo de viagem nem eu com a dele, e isso fez
com que a experiência fosse bem diferenciada e de um potencial nunca
experimentado.
Em Napoli eu me senti um pouco desconfortável, então não
ficamos muito tempo por lá.
Afinal a Mafiosa era de uma família muito conhecida na cidade, a Camorra.
E depois de todos os acontecimentos, eu não queria descobrir se algum parente
estava chateado comigo.
Ari deu risada depois de dez minutos de caminhada na cidade.
- Eu realmente não lembrei desse detalhe – Ele falava
sorrindo e providenciando uma nova logística na viagem.
E nossa próxima parada foram dias pela costa amalfitana.
E que dias.
Participamos de uma festa com o elenco do novo filme do James Bond uma noite em
Amalfi.
Ponto alto da festa, foi eu bebendo um gole de um conhaque interessante que o
barman dizia que parecia ser meu perfil, enquanto a Eva Green para do meu lado e
puxa assunto porque estava entediada naquela festa.
Que momento senhores e senhoras.
Que mulher sensacional.
E que olhos.
Olhos azuis penetrantes como eu nunca tinha visto antes.
Essa são experiências que só Ari consegue me proporcionar.
Ficamos ali conversando por alguns minutos, até que ela se despediu porque
precisava descansar.
Antes de se retirar, perguntou se poderia enviar o meu livro que ela tinha em
casa para eu autografar depois.
E completamente desnorteado fiz que sim com a cabeça e vi ela se retirar
sorrindo.
As vezes eu esqueço que minha escrita também pode chegar aos deuses.
Em Sorrento conhecemos uma galera bem divertida no albergue.
Americanos, argentinos, franceses, australianos, alemães e nos, os brasileiros.
Eu fui dar uma caminhada pelo centro e Ari foi direto para o albergue.
Ari era um cara muito carismático e quando voltei, ele já
era amigo de todos.
E já tinha a nossa noite combinada em uma humilde adega da cidade.
La estava eu, vinho barato uma lua cheia enorme e um pessoal
de uma energia ótima.
Em algum momento da noite, eu me dei um espaço do pessoal e
fiquei na parte de uma sacada que dava direto para aquela lua enorme, enquanto
tomava meu vinho na própria garrafa, sem muitas cerimonias.
- Você achou uma boa vista, posso dividir com você esse achado? – Uma
voz doce falava atras de mim.
E eu preciso ser honesto.
Eu estava meio aéreo aquela noite e não sei dizer por quê.
E por causa dessa desatenção, eu fui atencioso com a galera, mas nem reparei
nas meninas.
Era uma das australianas que estavam com a gente no albergue.
Ela era muito bonita mas não tinha me chamado atenção.
Dei minha garrafa para ela, e assisti ela dar um gole um pouco mais longo do
que eu imaginava no meu vinho.
- Desculpa, não sei agir quando me interesso por alguém.
fico meio idiota ate e não sei como começar uma conversa. – Ela falava meio
desconcertada.
Eu achei graça e tentava deixar ela mais confortável com aquela conversa.
Mas ela realmente estava em uma sintonia que parecia ser de uma rádio pirata, o
que me divertia.
Com um tempo de conversa, ela começou a se sentir mais confortável e ai ela me
deixava desconcertado.
E aquilo foi uma reviravolta engraçada.
Ela sabia o que estava fazendo.
Estava indo fundo na minha cabeça e eu não estava percebendo.
- Você conseguiu o que queria dessa vida? – Olhando
dentro dos meus olhos, agora com um semblante mais confiante, ela jogava essa
bomba no meu peito.
Ela achou graça da minha cara de impossibilitado para
responder aquela pergunta e sorrindo me deu um beijo.
Ficamos ali por algum tempo juntos e no dia seguinte eu estava acordando do seu
lado, ambos com uma ressaca enorme e um sorriso no rosto.
Ficamos rodando com esse pessoal por várias cidades que
tinha ali em volta como Capri, Positano, Pompeia, Ravello e outras.
Nosso grupo era de 12 pessoas e por algum alinhamento de planetas que nos não
sabíamos, todos criaram uma ligação muito grande.
Ari já estava de rolo com uma das francesas, enquanto eu aproveitava meus dias
na Itália com, como ela gostava de dizer, minha Aussie Girl.
Em Positano, Eu e ela pegamos uma tarde sozinhos para assistir o por do sol.
E que grandiosíssimo por do sol.
Uma imagem que não consigo tirar da minha cabeça.
Aquele tom avermelhado tomando o horizonte lentamente, com aquele lindo cenário
de Positano.
Não existe câmera com tecnologia para registar aquele momento melhor que a
minha memória.
- Aqui eu tenho total consciência que eu perco minha
cabeça e encontro minha alma – Novamente com um gole mais longo que o normal,
agora em uma cerveja, a australiana falava olhando para aquela pintura que
estava na nossa frente.
Enquanto eu sorria e admirava aquele pôr do sol, ela quebrava aquele silêncio
me perguntando sobre nós, pós aquela viagem.
E mais uma vez eu estava lá, naquele lugar escuro e desconfortável da falta de
palavras para uma resposta.
Logo eu ,um escritor.
E ela parecia entender meu desespero e resolveu deixar as coisas mais leves com
seu humor.
- Desculpe pelo meu inglês exótico, eu sou uma aussie girl – Ela falava
debochando e rindo da minha cara.
- Fazemos assim.
Vou voltar para a Australia e você vai lá me visitar.
Ficaremos bêbados juntos e você vai desafiar um macho alfa de algum grupo de
cangurus para provar que você é digno de um relacionamento a distância comigo.
– Ela me fitava como se aguardasse minha resposta de positivo com seu
sorrisinho de canto de boca.
Eu só sorri concordando com a cabeça, e dessa vez eu é que dava um longo gole
na cerveja.
Ficamos mais alguns dias juntos.
Curtimos Capri em meio a milhares de cabras andando entre nós.
Fui em todas as lojas de souvenir possíveis e imagináveis atrás dos ímãs de
geladeira que ela colecionava de cada cidade que passava.
Parávamos a cada dois minutos para ela fazer carinho em algum gato de rua ou
pegar alguma flor que lhe chamou atenção.
Voltei para casa com umas dez flores no cabelo e ela com uma quantidade que já
era quase uma coroa de flores.
Foram dias leves.
Dias onde nada de ruim conseguia chegar em mim.
No dia da despedida, a coisa foi diferente.
Um clima melancólico tomou o ar.
na nossa conversa final antes de cada um parti para o novo rumo, combinamos de
não nos falarmos mais.
Foi uma opção dela, e não pareceu ter sido uma decisão
fácil.
Mas eu concordei e disse que respeitaria o que ela decidisse.
No terminal de trem todos estávamos indo para diferentes regiões.
Então todo o grupo pegou trens diferentes.
Ela me deu um beijo de despedida que parecia aquele gole de vinho.
Mais demorado do que eu esperava.
Eu senti mais peso daquela despedida.
- Você seria espancado pelo canguru. – Ela sorria meio que disfarçando
um choro, enquanto me dava um soquinho no peito e ia para dentro do seu trem.
O trem finalmente partiu, depois de segundos que pareciam séculos.
E eu via aquele olhar triste se afastando.
A viagem mal tinha começado e eu já estava afetado pela nova fase.
A despedida da minha aussie girl foi de um peso que eu não esperava.
Malditos escritores e essa mania de crias histórias por onde passam.
Mas ela era intensa demais para se contentar com
um encerramento sem muitas sequelas.
Alguns dias depois, já na Grécia com Ari vivendo la vida, chega uma mensagem
dela.
Já era noite, eu tinha andado bastante como um verdadeiro turista, além de
ficar na praia o dia todo bebendo.
Então tinha uma falta de energia social misturada com cansaço que te joga com
astral um pouco para baixo, e aquela mensagem veio como um belo soco para
terminar minha noite.
-Você nunca vai encontrar a mesma pessoa duas vezes, nem mesmo na mesma
pessoa.
Dorme com esse Vigário...