Eu sei que eu me odeio.
Tenho total consciência disso.
Minha série de auto boicotes não são inconscientes.
Sei que meu sentimento de simplesmente desistir e descansar é real.
Mas não vejo isso como um problema ou uma doença.
Enquanto não acontece,sigo vivendo.
Entediado?
Bastante
Mas continuo remando esse barco,enquanto desejo apenas me afogar.
Meus amigos tem sido mais presente e eu mais sociável.
Minha vida amorosa com a minha sorridente da qual chamo de Sete doses,estava bem tranquila.
Fazia bastante tempo que não vivia algo real como nesse relacionamento.
E isso estava me fazendo bem.
Limerick parecia mais brilhante e aconchegante.
E isso significava que finalmente aquilo parecia um lar.
Eu estava fazendo a transição para criar raizes.
Isso era algo positivo.
Mesmo com todo o veneno do passado,eu estava florescendo de novo.
Eu ia fazer 1 mês de férias com Ari.
Ele tinha feito eu prometer,um mês viajando aleatório quando eu estivesse melhor.
Eu e ele,sem a nossa enorme comitiva.
Parecia ser uma boa ideia quando eu resolvi aceitar o convite.
Agora olhando os planos oficiais parecia que tinha vendido minha alma para o diabo.
Ari montou uma viagem de 1 mes onde nos vamos ficar 3 dias no máximo em um país,e dai pula para outro.
Minha juventude tinha me abandonado,mas parecia que ele ainda não percebia isso.
Minha vida profissional tinha mudado completamente.
Sai de um hiato congelante para um novo ciclo,com novas fases.
A sensação era que eu saia da aposentadoria depois de muito tempo.
Mas essa fase foi necessária para eu chegar aqui.
Para sair do abismo que eu me encontrava,precisei cavar um pouco mais.
Tudo é aprendizado.
Eu estou aqui hoje menos tóxico para as pessoas e para mim.
E as pessoas que passaram pela minha vida e marcaram negativamente foram se deteriorando da minha memória com o tempo ate virarem poeira.
Criei uma proteção de mulheres que vivem a procura do próximo curativo.
Essas normalmente vivem como um parasita em todos os relacionamentos que entram,porque não conseguem terminar o vínculo da ferida antiga.
Esse perfil tem mais band-aid do que feridas.
Minha miopia estava maior e eu continuava me negando a lidar com ela.
O mundo era muito melhor com essa visão limitada.
Enquanto só me atrapalhava com a vida social e não com a minha escrita,ainda era lucro.
Não voltei para a terapia.
Não estou me comendo em um espelho de academia.
Mas consegui achar soluções mais saudáveis para a minha mente.
Que sempre foi o meu legado e o que quero proteger.
Esses dias saiu uma matéria sobre meus novos trabalhos e nela o jornalista fazia um preâmbulo sobre mim.
Algo mais atualizado e ao mesmo tempo bem antigo.
“Vigário não era moderno mas era carregado pelo tempo.
O escritor reservado que ao mesmo tempo todos sabiam alguma história.
A escrita afiada que não feria mais ninguém.”
Achei aquilo um elogio ate.
Nunca tive pretensão de porra nenhuma.
Minha escrita foi de algo terapêutico para meu ganha pão.
Nunca fiz essa transição na minha cabeça.
Eu era uma notícia no jornal velho.
E assim queria permanecer.
Agora to aqui montando minha mochila para cumprir minha palavra com Ari.
Minha palavra quando dada é lei.
Se eu sobreviver,teremos capítulos de uma nova fase bem insana.
Se eu bater as botas saiba que pela primeira vez eu estava em paz.
Atenciosamente Vigário