Eu nunca pensei muito no futuro.
Acho que em algum momento eu tinha a esperança de nem chegar a envelhecer.
Mas ouvi bastante essa questão na minha ultima viagem.
“E o seu futuro?”
E fui questionado sobre isso de varias formas diferentes.
A minha amada 7 doses de whiskey me mandou uma mensagem,perguntando se eu não tinha interesse de encontrar ela no Estados Unidos para quem sabe um planejamento de uma nova fase.
Mas não,eu não tinha interesse e me sentia mal por isso.
Na Itália tive uma conversa com a Aussie girl sobre viver viajando e meses depois ela me fazia essa proposta,de viajamos pelo mundo juntos.
Também não me seduzia essa ideia.
Cheguei a conclusão de que viajar pelo mundo seria um sentimento de liberdade diferenciado,e começar essa liberdade com uma bola de ferro no pé não parecia a mais inteligente das ideias.
Ari tentou por toda a nossa viagem me oferecer diferentes negócios.
Mas tudo com potencial gigante,como por exemplo ficar de frente em um estúdio de filmes.
Não me parecia a melhor maneira de envelhecer.
Agradeci prontamente e disse que não tinha interesse,mesmo ouvindo que independente da minha resposta,ele iria adaptar um dos meus livros.
Assim que voltei para Limerick ,nos meus primeiros passos pela cidade,fui questionado por um morador de rua conhecido,o que eu estava fazendo da vida e porque ele não me via recentemente.
Ele tinha problemas com drogas,estava sempre sofrendo pelos efeitos da falta ou do uso em excesso,mas quando me via, sempre questionava sobre como eu estava e para onde eu iria.
Sempre com um tom meio paternal e uma expectativa de futuro para mim.
Faith queria saber se eu não ia voltar a ter um relacionamento serio,e ela não parecia ficar feliz com minha negativa.
Ainda não era verão quando voltei para Limerick,o pólen voava por toda a cidade.
E eu me arrependia de ter voltado tão cedo só por esse motivo.
Minha alergia a pólen era uma piada sem graça que os semi deuses gregos tinham,como o calcanhar de Aquiles.
Mas mesmo em um level bem alto para a cidade,o pólen não me afetava aquele dia,talvez mais uma consequência para o futuro próximo.
O dia começou ensolarado,logo em seguida caiu uma grande chuva por 1 hora.
Eu tinha uma queda por chuvas.
Resolvi ir para trás do meu apartamento,no jardim e tirei toda a roupa.
Eu tinha minha privacidade e estava de volta para minha casa.
Um banho de chuva pelado parecia ser uma sensação que eu precisava para aquele momento ,onde de alguma forma me sentia pressionado por uma resposta de futuro vindo de todas as direções.
Fiquei ali ate que a chuva parasse.
"god is the rain." já dizia o poeta.
E assim que ela parou,misteriosamente o sol abria novamente ,forte e radiante.
Um arco íris enorme se formava no céu e tudo aquilo parecia ser respostas escritas em aramaico para eu identificar.
O futuro raramente me envenenava,mas ali parecia que todos viam um carro atolado e estavam dispostos a ajudar.
Eu ponderava no meu intimo se aquilo tinha alguma lógica.
Mas não parecia ter.
Eu sei que arrumar as malas e se joga no mundo parecia uma fuga, mas as vezes,ficar em uma rotina parada no mesmo lugar é uma fuga maior ainda.
O dia tinha essas mudanças,isso era Irlanda no seu mais honesto dos humores.
Tomar banho de chuva era sempre uma roleta russa.
Ou lavava minha alma ou acabaria com minha imunidade.
Eu sempre apertava esse gatilho.
Me sentia mais leve e disposto a lidar com aqueles questionamentos.
Eu vinha de tempos muito acelerados.
Tempos onde eu lutava com minha própria mente ,e isso era cansativo demais.
Relacionamentos não pareciam ser o problema dessa vez.
Eu sempre tive esse problema de queimar a chama da paixão muito forte no inicio.
Mergulhava de cabeça e aproveitava o melhor daquela reação química que invadia meu cérebro.
Mas só o tempo iria me dizer se aquilo me alimentaria ou se não ia surtir mais efeito nos próximos meses.
Minha vida nesses aspecto também sempre vinha com muitos caminhos para direções opostas.
E nunca achei justo fazer alguém mudar a rota por mim e nunca me senti seduzido o suficiente para mudar a minha por alguém.
Minha escrita continuava me proporcionando ótimos resultados,ate mesmo com meus bloqueios criativos que as vezes ficavam por semanas.
A ideia de assumir um estúdio de filmes era um caos do qual eu não queria para a minha vida.
Eu já tinha uma editora de livros que eu mesmo deixava a cargo de Maeve exatamente para fugir dessas cobranças do capitalismo.
Quando eu me perguntava as mesma perguntas,eu percebia que tinhas as respostas.
E isso me tranquilizava.
A vida adulta é uma merda,mas não ter um mínimo de respostas para as próprias perguntas é desesperador.
Eu estava em uma fase mais tranquila em relação a bebida alcoólica desde a 7 doses de whiskey.
Ela de alguma forma me ajudou a lidar melhor com esse Eu que não bebe,que era uma versão minha que nunca gostei.
Desde então vinha tendo um relacionamento mais tranquilo com as bebidas.
Tinha um plano em mente quando voltei da viagem com Ari,mas o convite da Aussie Girl me fez recuar.
Eu ia me jogar no mundo,e dai ela me fez esse convite.
Esperei para ver onde ela iria começar sua jornada,e resolvi ir para o oposto do mapa.
Ela ia começar pela América do sul e eu então decidi ir para a Ásia.
Parecia mais honesto da minha parte e evitava surpresas desnecessárias.
Eu estava um pouco cansado dessas coincidências de filmes românticos.
Como escritor ,odiava esses reencontros inesperados.
Iria viajar sozinho,mas isso não teria nenhum impedimento em relação a me encontrar pelo mundo com minha Entourage.
Faith já tinha ate se oferecido a me encontrar por la no futuro.
Depois de séculos sem escrever e com todo esse questionamento de futuro,meus textos deveriam estar mais filosóficos ou contemplativos.
Mas estava mais visceral e ao mesmo tempo mais lúdico.
A viagem pela Europa abriu varias janelas na minha mente.
A minha caminhada pelo famoso Camino,me deu diferentes mundos e não um só.
Eu estava mais vivo e mais decidido a viver.
Pela primeira vez em muito tempo,talvez no auge da minha arrogância,eu me sentia imparável.
O que era um sentimento perigoso,já que da ultima vez que me senti assim,fui parado por um tiro.
Mas a vida tem dessas coisas,um dia você é a caça e no outro um caçador.
Eu sempre tentava aproveitar esses momentos onde me sentia superior o suficiente para ser o caçador.
Não tinha nada que me segurasse de me jogar pelo mundo.
Não tinha nenhuma insegurança que me colocasse na posição de caça.
Dinheiro não era uma barreira.
Minha gata era a única coisa que eu deveria me preocupar mas Faith era a madrasta da vez.
A única coisa que precisava resolver antes de começar meu novo caminho era renovar minha licença do aplicativo por onde escrevo.
Porque hoje,sentei para escrever e minha licença estava expirada.
Quando eu abri o aplicativo uma mensagem enorme aparecia na tela.
"Você não pode escrever."
Que ironia ,um escritor que não pode escrever.
E no final do dia minha única resolução de futuro parecia ser pagar aquela fortuna para renovar minha licença.
E nessas horas que mesmo os deuses tem que se preocupar com problemas de meros mortais.
Latini diria, "Sangramos como eles" ou " sou um deus com d minúsculo", como parte da sua piada de sempre de ser um deus ,pela forma que as pessoas o tratava ,só pelo fato de ele ter dinheiro e poder.
Latini adorava filosofar sobre essa posição privilegiada que ele tinha por causa de dinheiro.
Eu vivia de alguma forma nesse monte Olimpo,tanto pela fama como por usufruir da estrutura de Ari.
Depois que deixei meu lado mais deprimido e melancólico para trás ,eu realmente comecei a usar esses recursos e esses atalhos.
Precisava de muito pouco para meu dia a dia, mas me surpreendia com o mundo diverso que essas facilidades me apresentavam.
Mas a ressaca,era a mesma em qualquer lugar do mundo.
No albergue ou no hotel 5 estrelas.
Com o cartão bloqueado ou a carteira cheia de dinheiro.
Tinha coisas que os deuses deixavam intocadas.
Eu sempre fui uma pessoa que nunca deixou o passado morrer.
Sempre uso de analise,mesmo os erros.
Erros repetidos são decisões e isso te leva a uma lógica que seu cérebro esta seguindo.
Gosto de não ter rumo, mas as vezes é bom entender para onde seu subconsciente esta te levando com essas decisões.
Se esse texto for publicado,imagino que Maeve pagou minha licença.
Porque achei muito caro e me recusei.
E ela quase infartou quando falei isso na ligação.
“Vigário você é um escritor” - Ela falava completamente incrédula.
Quando informei que voltaria a escrever na minha maquina de escrever e enviaria por cartas ,ela já não estava mais na ligação.
O futuro mais improvável de um escritor seria não escrever mais.
Mas Segundo ela,isso não seria uma novidade para mim.
Vigário estava cada vez mais previsível.
Estava na janela do meu quarto terminando meu texto e olhando uma mistura de cores completamente diferente no céu.
Uma mistura de lilás,rosa,verde.
Não acompanhei os jornais ,então eu era o único da cidade que não sabia da misteriosa e inesperada aurora boreal em Limerick.
E depois daquele longo dia com pólen ao redor,banho de chuva,luz radiante do sol ,agora mais essa surpresa agradável.
Mas eu sentia uma sensação estranha.
O ar pesou por uns segundos e eu fiquei meio aéreo
Tive a sensação de sair do ar e voltar porque meu interfone tocou.
Levantei ainda desnorteado e quando perguntei quem era,a resposta foi desconcertante.
‘Te amei primeiro.” - Com aquele tom suave e doce de sempre.
Todos esses questionamentos de futuro o dia todo,esse dia com tantas variações e essa aura esotérica só podia terminar de um jeito.
A Cartomante estava na minha porta.
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