quarta-feira, 22 de outubro de 2025

O fatídico dia da ruptura

 





O dia começou com duas bombas caindo no meu colo logo de manhã. A primeira, era o convite/solicitação para a minha visita à Mafiosa na prisão. Que nunca foi uma possibilidade plausível na minha cabeça. Mesmo com os apelos de que isso seria ótimo para continuar minha caminhada. Desculpa, mas eu não tenho nenhum interesse em me colocar na mesma sala que alguém que tentou me matar. Entendo quem tem esse discurso do perdão para qualquer situação, mas não é meu caso. Existem bilhões de pessoas no mundo, deixar que uma que me quis mal volte a minha vida, é no mínimo uma carência que deveria ser tratada como doença. Elliot também recebeu o mesmo convite e estava disposto a ir e veio pedir meu conselho. - Elliot, isso é muito particular, seus demônios só você sabe como alimentar. Não se sinta pressionado, influenciado ou julgado pela minha decisão. - e me pus em silêncio sobre esse assunto logo em seguida. A Mafiosa estava em algum programa de terapia dentro da prisão, e isso ainda poderia ajuda la com a pena. Ela sempre foi muito manipuladora, e eu não ia dar mais nenhuma brecha para isso. Esse assunto estava encerrado, mesmo que me afetando diretamente. Meu corpo tremia por dentro. Eu sentia meu interior queimar. Aquilo tinha um potencial destrutivo demais na minha vida e eu brigava para virar essa pagina. Pois bem, a segunda bomba vinha de quem veio tentar me convencer a ir visitar a Mafiosa logo cedo. Faith. Sim, ela mesmo. Minha coluna grega de sustentação do meu mundo atual. Que começava a ruir assim como os tempos áureos dos gregos. Faith estava tentando uma reaproximação com o babaca do ex, que até perseguir ela, perseguiu. Mas ele agora tinha um discurso de mudança. Devia fazer parte da igreja do Latini ate, mas não quis me aprofundar. Já falamos sobre esse ser humano desprezível em outros contos. Agora todo o discurso de Faith era sobre perdão e mudança. Esse conflito com os próprios demônios é super natural, mas não no meio do meu ano sabático, onde eu deveria estar sozinho. Mas era simples, eu não a julgaria e teria paz. A escolha delas são delas, mesmo que me preocupe. Se ele matasse ela, que foi uma preocupação uma época, seria algo que eu estava lavando minhas mãos em respeito a escolha que ela teve. Rudolph fazia o monitoramento dele a pedido de Ari. Eu sempre fui contra. Faith era uma adulta inteligente, uma das advogadas mais respeita do Rio de Janeiro, e tinha que ter sua liberdade e vida respeitadas. Eu jamais dividiria o mesmo ambiente que aquele babaca novamente, e ela já tinha sido informada sobre isso. Mas como se ela não estivesse cansada de fazer merda na vida dela, resolveu fazer na minha. Trouxe a Gato preto para fazer parte da minha viagem, dizendo que ia voltar ao Brasil e deixar ela para cuidar de mim. Aí aconteceu a pior discussão que já tive com Faith. E como resultado, algo impensável para todos. A ruptura. A Gato preto e eu tivemos um breve relacionamento, mas que nunca me deixou muito confortável. Pós Mafiosa, qualquer movimento de manipulação eu já ligava meu alerta. E ela abandonou sua vida pelo mundo, para se aproximar dos meus amigos e constranger minhas exs. A Cartomante foi uma que levou uma espécie de aviso, por continuar próxima de mim. Ela começou a aparecer em lugares onde eu estava e dessa vez estava tentando se infiltrar dentro da minha viagem, mesmo sabendo que eu não queria ninguém la. Faith fez essa ponte, com um discurso de que era hora de eu deixar de ser egoísta e começar a pensar sobre um futuro onde eu ficaria sozinho, sem ninguém. O egoismo e se priorizar é uma linha muito sensível. Mas eu sempre tive a certeza, de que prefiro ficar sozinho na vida, do que trazer pessoas para a minha vida que me fazem mal. Que já me fizeram mal e que com certeza irão me fazer mal novamente. Eu poderia estar morto agora graças a Mafiosa Fiquei doente por causa dela. Meu corpo quase desistiu por toda a influência negativa e toxica que ela colocou na minha vida. O perdão cristão nunca me fará ver isso diferente. Minha visão de mundo é muito maior. Não vou deixar a mesma idiota destruir minha vida, com um mundo de possibilidades. Me colocar nessa posição, só joga para o universo o quão desesperado por uma validação eu estaria. Me ver nesse ponto de fraqueza, sabendo que eu sou muito mais forte que isso. Que sempre tentei ser uma pessoa que não envenenasse a vida dos outros, não ia aceitar esse futuro. E a Gato preto era o mesmo. Não tentou me matar. Mas não era o perfil de pessoa que eu queria na minha vida. Eu olhava para trás e me via sem família. Poucos amigos ainda existiam. E mesmo assim, eu tinha orgulho da minha estrada e não tinha nenhuma preocupação em ficar sozinho. Isso me dava autonomia para fazer minhas escolhas sem ser dependente de migalhas. Migalhas essas que poderiam ser o meu final. Faith não gostou das palavras, deu as costas dizendo que então eu ficaria sozinho como sempre quis. E foi embora. Pela primeira vez. Aquela cena era inimaginável, triste, mas não mudava em nada minha visão de mundo. Novamente jogando na balança, não era egoismo, eu estava apenas me priorizando. Entrei em contato com Rudolph no dia seguinte. Pedindo sigilo sobre meus próximos passos. Eu iria sair do país onde estava sem informar a ninguém e ele era o único com estrutura para me achar se quisesse. Fui para o bar do aeroporto e pedi uma cerveja. Sentado no balcão conversando com o garçom, um clássico da depressão. Ali, lendo uma revista largada no canto, decidi meu próximo destino, talvez sem volta. Uma mulher senta ao me lado e da risada. - Eu estou indo para la amanha - Ela dizia sorrindo ao ouvir eu informar ao garçom que tinha decidido para onde ir naquele momento. Era uma Belga com traço asiáticos, de cabelos coloridos, muito sorridente. - Então parece que vamos continuar essa conversa no avião. - Eu brindava com a cerveja. E foi exatamente como aconteceu. No dia seguinte, após ter pegado as informações com ela, estávamos embarcando juntos, lado a lado no avião, para a próxima etapa da minha vida. Sem olhar para trás. Colocando em prática o que sempre acreditei. Que o mundo é muito mais.

sábado, 11 de outubro de 2025

Não era uma maldição cigana

 






Depois da festa de Ari, eu estava de volta a minha rotina na ásia.


Templos, Budas e paz.


Elliot veio passar uma semana comigo e Faith.


Aos poucos parecia que a galera ia se infiltrando na minha viagem, mas Elliot eu aceitei de primeira.


Nosso mascote parecia estar passando por uma fase não muito boa.


Na festa de Ari eu pude perceber que era um coração machucado.


Precise de 2 minutos de conversa para ele se abrir comigo.


Ele e a Cigana estavam se separando.


E claro, que eu, o coach da derrota, era a melhor pessoa para conversar com ele e mostrar que o mundo era aquilo mesmo.


De fracassos amorosos eu era um especialista.


Mas a experiência tinha me dado uma certa sabedoria sobre tudo isso.


Meu problema era como não despejar toda essa realidade na cabeça de Elliot de uma vez só.


Mas vendo Elliot olhar para o horizonte com a esperança de que os dias iriam passar e as coisas iriam melhorar, achei que era meu dever tira ele dessa expectativa.


Nos estávamos sentados de frente para um Buda gigante e resolvi tentar tirar Elliot daquele buraco com uma conversa informal.


O Buda, que estava envolto pela névoa, me olhava desconfiado tentando entender o que viria dessa conversa.


Uma coisa que aprendi, foi que o tempo não cura, o que cura é o que você faz com esse tempo.


Então só se lamentar ia manter ele envenenado nisso por eras.


A felicidade é uma escolha, mas nem por isso que dizer que será fácil.


Ser feliz é fingir que é feliz até ficar.


É assim que você levanta da cama todo dia, em busca do dia que você vai alcançar esse destino.


Mas não pode perder de vista que a vida é a jornada, não o destino.


Se você segue com verdade, vai aproveitar muito mais essa caminhada.


Porque sua consciência vai estar leve.


E se você não se arriscar, não vai merecer viver o extraordinário.


Elliot era um cara sensacional.


O melhor de nos todos.


Aquele grande e imperfeito cara, tao generoso e cheio de amor.


Leal como nunca existiu, mas que vai até a linha limite, e de la ele não passará.


Se a Cigana, que era uma menina bem legal também, não pudesse ver isso, talvez não merecesse ele na sua vida.


Crescer é fazer as perguntas certas.


E às vezes a gente se perde com as respostas.


Às vezes você se perde nas prioridades.


Em regra, você deve escolher a você mesmo primeiro, depois você escolhe quem te escolhe.


Essa segunda parte é muito importante, porque nem sempre conseguimos visualizar quem realmente escolheu estar com a gente, para qualquer que seja a situação.


Se você faz diferente, você já destrói o equilíbrio do universo.


E Elliot era esse cara.


Ele iria estar com ela, sorrindo assistindo series e comendo seus doces de sempre.


Mas também estaria com ela nos piores momentos que ela tivesse.


Com ele, ela nunca estaria sozinha.


A melhor parte que você demora a entender, é que ninguém é você, e isso é o diferencial.


Então era fácil de entender todo o amor de Elliot.


Com seu semblante sereno, e sendo abraçado por névoas intermináveis, o Buda parecia ouvir atentamente nossa conversa.


O fato de eu não pedir ajuda, não exclui da minha memória quem ofereceu.


E Elliot sempre esteve la por mim.


O que ele sofreu com a morte da minha vizinha e toda aquela loucura dos tempos da Mafiosa, afastaria qualquer um de ter um convívio comigo.


Mas uma coisa eu aprendi, e ele estava aprendendo na marra.


Você aprende mais, no fundo do poço do que no topo da montanha.


E ele estava nos dois ao mesmo tempo.


Ali ele teria que entender se ela estaria com ele no mesmo barco, para remar junto, porque do contrário só iria atrapalhar seu futuro.


E aí o certo era rema sozinho.


Sempre achei Elliot muito precoce.


Talvez por andar com um grupo muito mais avançado de idade do que ele.


Ele parecia ter pressa na vida.


Sempre tinha uma ansiedade de quem estava atrasado.


E eu sempre fazia o mesmo questionamento para ele.


Como você pode estar atrasado na vida, se a vida é só sua?


E ele sempre sorria com minha pergunta, mas não dessa vez.


Elliot ia sofrer mais um pouco.


Mesmo que a Cigana e ele voltassem ao normal.


Essa ferida só se cura com o amor, que também é responsável por abrir a mesma ferida.


Existe um equilíbrio saudável, onde os dois tem que estar dispostos a lutar junto, a abrir mão e acima de tudo entende o limite do outro.


Fazer jogos e brincar com esses limites era sempre um caminho que ajudava nessa avalanche no relacionamento.


Mas só ele poderia concluir se valia a pena ou não.


Ele parecia estar no limite.


Ela aprendeu a fazer barulho com o silêncio. 


Eu não tinha conselho para dar, a não ser, que ele confiasse no próprio coração.


Quando você não gosta de onde você esta, você tem que se mexer.


Você não é uma árvore.


E isso ele já sabia.


Eu comecei a ficar deprimido, vendo ele na minha frente daquela maneira.


Faith voltava da sua caminhada pelo templo, dizendo que não estava se sentindo bem.


E de repente o ar pesou.


O Buda tinha um semblante pesado agora e por uns segundos eu achei que ele tinha sido afetado pela nossa conversa.


Mas não, algo que eu nunca tinha sentido estava acontecendo.


E me veio uma sensação de que o mundo tinha parado.


Por alguns milésimos de segundos que pareceram horas, eu vi Elliot e Faith na minha frente paralisados.


Pássaros cruzando os céus, congelados no ar.


O Buda tinha um tom de tristeza no seu rosto.


E eu estava tão confuso que meu cérebro tentava me dar as informações e eu não conseguia assimilar.


A terra tremia.


E eu não percebi, só senti todo o mal-estar que isso trazia.


Sentia a energia desorientada que aquilo transmitia.


Senti os braços de Elliot se jogarem em mim e ali no chão abaixado por míseros 1 minuto, vi o mundo se transformando ao meu redor.


Parte do templo desabando e gritos ensurdecedores a nossa volta.


Não era uma maldição cigana, estava acontecendo um Terremoto.


sábado, 4 de outubro de 2025

O silêncio antes da tempestade

 





Eu sempre fui mais razão que coração.

E continuarei sendo.

Mas isso nunca me limitou de também agir impulsivamente.

Pelo contrário, tenho esses rompantes onde meu coração é quem guia.

Normalmente é onde se instaura o caos.

Olhando para trás, eu não tenho tanto arrependimento assim.

Minha confiança sempre foi dada de coração.

Mas as consequências da quebra dela, com a razão.

Quanto maior nossa ligação, maior será a desconexão em uma eventual quebra de confiança.

Às vezes, com mágoas, mas no geral de uma forma bem fria, onde simplesmente essa pessoa deixa de viver no meu mundo.

Pacto claro, amizade longa.

Eu sou muito aberto e darei meu melhor para quem eu trouxer para esse lugar.

A empatia talvez tenha me fudido nessa caminhada.

As pessoas acham que os traumas delas, autorizam elas a virarem algo perverso.

Eu não posso pegar meus traumas e incorporar a minha personalidade.

Se isso estiver se entranhando na sua personalidade, você esta perdendo essa batalha.

E vai machucar todos a sua volta.

Por isso criei um lema onde a solidão parece ser mais confortável.

A real solidão.

A que você se coloca, e não a que você é colocado.

Minha geração parece não lidar bem com dificuldades.

Querem construir um prédio do dia para noite.

Não acreditam no potencial de uma obra planejada, calculada, pedra por pedra.

Dia por dia.

Na primeira dificuldade, colocam tudo em risco.

E o projeto perde o brilho.

Vai perdendo de vista os pontos de segurança.

E aí, sim, não parece um lugar para apostar como lar.

A mesma geração que sofre da síndrome de Peter Pan.

Não entendem que a vida são fases.

E saber viver elas de forma diferente, é o sentido do verdadeiro viver.

Se você tenta replicar seu modo de viver de uma fase anterior, a vida vai te atacar.

Você vai se perder, e nem ao menos vai perceber.

A sua volta, o mundo antigo vai continuar trazendo os seus problemas e agora vão se acumular com o da vida atual.

Com o que eu chamaria de, vida real.

O envelhecimento, se visto da forma correta, vai te trazer os melhores sabores do mundo.

Eu tentei me jogar no mundo para abrir meus horizontes.

Expandir minha mente.

Nunca foi fuga.

Demorei, mas entendi minha fase da vida.

Mas sempre tem desafios.

Me encontro em uma encruzilhada.

Se eu for a esquerda, eu sigo o coração.

Já a direita, a razão.

Encruzilhadas nunca foram problema para mim, mas dessa vez, me fizeram repensar todas as minhas escolhas anteriores.

Faith ficará louca se perceber que eu cogito abandonar tudo e desaparecer.

Também cogitei voltar para minha antiga vida e me isolar com minha gata Filé de peixe.

Mas não seria justo com ela.

E eu não teria paz.

O desaparecer como uma estrela que brilha pela última vez, tem sido um projeto.

Mas que seu último brilho seria mais brilhante que a luz do sol.

Eu nunca fui alguém que acreditasse em destino.

Esse livro escrito onde nos só passamos as paginas.

Por mais que tudo pareça ir seguindo como um organizado alinhamento de planetas, é difícil demais para mim acreditar que não tenho escolha.

E isso sempre foi um desafio.

Até mesmo para eu não criar desafios apenas para provar um ponto.

Cada dia que passa eu me esforço para não deixar que meus machucados adquiridos no caminho me direcionem.

E essa parte até que não tem sido tão difícil.

Sempre tive muito cuidado para que minhas merdas não afetassem outras pessoas.

Talvez meu próximo passo seja o mais importante e maduro que eu darei, e por isso a minha preocupação.

Eu estava sem energia social também por esses tempos, mas teria que ignorar esse fato por essa noite.

Pelo bem de Ari.

Ari ficou chateado por eu não deixar que ele e a tropa toda viesse viajar comigo pela ásia.

Desde então, não me procurava mais.

Mas misteriosamente, esse ano ele iria comemorar seu aniversário em Hong Kong.

Eu parecia não ter desculpas, já que até o continente da festa era o mesmo que o que eu me encontrava.

E la estava eu com Faith, na terra do Bruce Lee, indo para uma noitada com Faith pelo equilíbrio da equipe.

Não sobrevive o mais forte, mas sim o mais adaptável.

Aprendi isso as duras penas.

Então estava me adaptando ao cenário.

E também, para evitar mais drama.

Ari, quando quer drama, tem o mesmo potencial da sua fortuna.

Eu não estava triste em rever os amigos, mas parecia que eu estava vibrando em outra energia.

Antes minha vida parecia corrida demais.

O problema da vida corrida é se você não sabe o porquê está correndo.

Agora, eu estava diminuindo o ritmo e vendo aonde meus passos me levariam.

Entendi que antes, eu estava correndo e que realmente não sabia para onde.

Mas ok.

Uma noite com grandes amigos, não ia me tirar o foco dessa minha busca na ásia.

A noite estava muito bonita.

Era noite da lua cheia de sangue.

A lua estava enorme, brilhante e imponente.

O seu avermelhado parecia me convidar a um estado contemplativo.

E assim o fiz.

Desacelerei.

Deixei minhas decisões para o momento adequado.

Que com certeza não seria aquela noite.

E foi a melhor decisão que tive.

Aquele rosto irritado se desconstruiu em segundos com o meu abraço.

Até algumas lágrimas desceram, e o sorriso mais sincero tomou conta daquele rosto.

Ari tinha ganhado a noite com a minha chegada e eu estava perdoado.

Faith e John sorriam no canto assistindo à cena.

Latini estava próximo, conversando com alguém com aquele tom alto, como de costume.

Elliot conversava com duas mulheres ao lado, e de cara pude reconhecer que uma era a Gato preto.

Resumindo, aquele caos que me completava estava montado como sempre.

Peguei uma cerveja, e dei um gole longo, respirei fundo e deixei toda aquela crise existencial para outro momento.

A ásia ainda ia mexer muito no meu mundo.