Eu sempre fui mais razão que coração.
E continuarei sendo.
Mas isso nunca me limitou de também agir impulsivamente.
Pelo contrário, tenho esses rompantes onde meu coração é quem guia.
Normalmente é onde se instaura o caos.
Olhando para trás, eu não tenho tanto arrependimento assim.
Minha confiança sempre foi dada de coração.
Mas as consequências da quebra dela, com a razão.
Quanto maior nossa ligação, maior será a desconexão em uma eventual quebra de confiança.
Às vezes, com mágoas, mas no geral de uma forma bem fria, onde simplesmente essa pessoa deixa de viver no meu mundo.
Pacto claro, amizade longa.
Eu sou muito aberto e darei meu melhor para quem eu trouxer para esse lugar.
A empatia talvez tenha me fudido nessa caminhada.
As pessoas acham que os traumas delas, autorizam elas a virarem algo perverso.
Eu não posso pegar meus traumas e incorporar a minha personalidade.
Se isso estiver se entranhando na sua personalidade, você esta perdendo essa batalha.
E vai machucar todos a sua volta.
Por isso criei um lema onde a solidão parece ser mais confortável.
A real solidão.
A que você se coloca, e não a que você é colocado.
Minha geração parece não lidar bem com dificuldades.
Querem construir um prédio do dia para noite.
Não acreditam no potencial de uma obra planejada, calculada, pedra por pedra.
Dia por dia.
Na primeira dificuldade, colocam tudo em risco.
E o projeto perde o brilho.
Vai perdendo de vista os pontos de segurança.
E aí, sim, não parece um lugar para apostar como lar.
A mesma geração que sofre da síndrome de Peter Pan.
Não entendem que a vida são fases.
E saber viver elas de forma diferente, é o sentido do verdadeiro viver.
Se você tenta replicar seu modo de viver de uma fase anterior, a vida vai te atacar.
Você vai se perder, e nem ao menos vai perceber.
A sua volta, o mundo antigo vai continuar trazendo os seus problemas e agora vão se acumular com o da vida atual.
Com o que eu chamaria de, vida real.
O envelhecimento, se visto da forma correta, vai te trazer os melhores sabores do mundo.
Eu tentei me jogar no mundo para abrir meus horizontes.
Expandir minha mente.
Nunca foi fuga.
Demorei, mas entendi minha fase da vida.
Mas sempre tem desafios.
Me encontro em uma encruzilhada.
Se eu for a esquerda, eu sigo o coração.
Já a direita, a razão.
Encruzilhadas nunca foram problema para mim, mas dessa vez, me fizeram repensar todas as minhas escolhas anteriores.
Faith ficará louca se perceber que eu cogito abandonar tudo e desaparecer.
Também cogitei voltar para minha antiga vida e me isolar com minha gata Filé de peixe.
Mas não seria justo com ela.
E eu não teria paz.
O desaparecer como uma estrela que brilha pela última vez, tem sido um projeto.
Mas que seu último brilho seria mais brilhante que a luz do sol.
Eu nunca fui alguém que acreditasse em destino.
Esse livro escrito onde nos só passamos as paginas.
Por mais que tudo pareça ir seguindo como um organizado alinhamento de planetas, é difícil demais para mim acreditar que não tenho escolha.
E isso sempre foi um desafio.
Até mesmo para eu não criar desafios apenas para provar um ponto.
Cada dia que passa eu me esforço para não deixar que meus machucados adquiridos no caminho me direcionem.
E essa parte até que não tem sido tão difícil.
Sempre tive muito cuidado para que minhas merdas não afetassem outras pessoas.
Talvez meu próximo passo seja o mais importante e maduro que eu darei, e por isso a minha preocupação.
Eu estava sem energia social também por esses tempos, mas teria que ignorar esse fato por essa noite.
Pelo bem de Ari.
Ari ficou chateado por eu não deixar que ele e a tropa toda viesse viajar comigo pela ásia.
Desde então, não me procurava mais.
Mas misteriosamente, esse ano ele iria comemorar seu aniversário em Hong Kong.
Eu parecia não ter desculpas, já que até o continente da festa era o mesmo que o que eu me encontrava.
E la estava eu com Faith, na terra do Bruce Lee, indo para uma noitada com Faith pelo equilíbrio da equipe.
Não sobrevive o mais forte, mas sim o mais adaptável.
Aprendi isso as duras penas.
Então estava me adaptando ao cenário.
E também, para evitar mais drama.
Ari, quando quer drama, tem o mesmo potencial da sua fortuna.
Eu não estava triste em rever os amigos, mas parecia que eu estava vibrando em outra energia.
Antes minha vida parecia corrida demais.
O problema da vida corrida é se você não sabe o porquê está correndo.
Agora, eu estava diminuindo o ritmo e vendo aonde meus passos me levariam.
Entendi que antes, eu estava correndo e que realmente não sabia para onde.
Mas ok.
Uma noite com grandes amigos, não ia me tirar o foco dessa minha busca na ásia.
A noite estava muito bonita.
Era noite da lua cheia de sangue.
A lua estava enorme, brilhante e imponente.
O seu avermelhado parecia me convidar a um estado contemplativo.
E assim o fiz.
Desacelerei.
Deixei minhas decisões para o momento adequado.
Que com certeza não seria aquela noite.
E foi a melhor decisão que tive.
Aquele rosto irritado se desconstruiu em segundos com o meu abraço.
Até algumas lágrimas desceram, e o sorriso mais sincero tomou conta daquele rosto.
Ari tinha ganhado a noite com a minha chegada e eu estava perdoado.
Faith e John sorriam no canto assistindo à cena.
Latini estava próximo, conversando com alguém com aquele tom alto, como de costume.
Elliot conversava com duas mulheres ao lado, e de cara pude reconhecer que uma era a Gato preto.
Resumindo, aquele caos que me completava estava montado como sempre.
Peguei uma cerveja, e dei um gole longo, respirei fundo e deixei toda aquela crise existencial para outro momento.
A ásia ainda ia mexer muito no meu mundo.