Depois da festa de Ari, eu estava de volta a minha rotina na ásia.
Templos, Budas e paz.
Elliot veio passar uma semana comigo e Faith.
Aos poucos parecia que a galera ia se infiltrando na minha viagem, mas Elliot eu aceitei de primeira.
Nosso mascote parecia estar passando por uma fase não muito boa.
Na festa de Ari eu pude perceber que era um coração machucado.
Precise de 2 minutos de conversa para ele se abrir comigo.
Ele e a Cigana estavam se separando.
E claro, que eu, o coach da derrota, era a melhor pessoa para conversar com ele e mostrar que o mundo era aquilo mesmo.
De fracassos amorosos eu era um especialista.
Mas a experiência tinha me dado uma certa sabedoria sobre tudo isso.
Meu problema era como não despejar toda essa realidade na cabeça de Elliot de uma vez só.
Mas vendo Elliot olhar para o horizonte com a esperança de que os dias iriam passar e as coisas iriam melhorar, achei que era meu dever tira ele dessa expectativa.
Nos estávamos sentados de frente para um Buda gigante e resolvi tentar tirar Elliot daquele buraco com uma conversa informal.
O Buda, que estava envolto pela névoa, me olhava desconfiado tentando entender o que viria dessa conversa.
Uma coisa que aprendi, foi que o tempo não cura, o que cura é o que você faz com esse tempo.
Então só se lamentar ia manter ele envenenado nisso por eras.
A felicidade é uma escolha, mas nem por isso que dizer que será fácil.
Ser feliz é fingir que é feliz até ficar.
É assim que você levanta da cama todo dia, em busca do dia que você vai alcançar esse destino.
Mas não pode perder de vista que a vida é a jornada, não o destino.
Se você segue com verdade, vai aproveitar muito mais essa caminhada.
Porque sua consciência vai estar leve.
E se você não se arriscar, não vai merecer viver o extraordinário.
Elliot era um cara sensacional.
O melhor de nos todos.
Aquele grande e imperfeito cara, tao generoso e cheio de amor.
Leal como nunca existiu, mas que vai até a linha limite, e de la ele não passará.
Se a Cigana, que era uma menina bem legal também, não pudesse ver isso, talvez não merecesse ele na sua vida.
Crescer é fazer as perguntas certas.
E às vezes a gente se perde com as respostas.
Às vezes você se perde nas prioridades.
Em regra, você deve escolher a você mesmo primeiro, depois você escolhe quem te escolhe.
Essa segunda parte é muito importante, porque nem sempre conseguimos visualizar quem realmente escolheu estar com a gente, para qualquer que seja a situação.
Se você faz diferente, você já destrói o equilíbrio do universo.
E Elliot era esse cara.
Ele iria estar com ela, sorrindo assistindo series e comendo seus doces de sempre.
Mas também estaria com ela nos piores momentos que ela tivesse.
Com ele, ela nunca estaria sozinha.
A melhor parte que você demora a entender, é que ninguém é você, e isso é o diferencial.
Então era fácil de entender todo o amor de Elliot.
Com seu semblante sereno, e sendo abraçado por névoas intermináveis, o Buda parecia ouvir atentamente nossa conversa.
O fato de eu não pedir ajuda, não exclui da minha memória quem ofereceu.
E Elliot sempre esteve la por mim.
O que ele sofreu com a morte da minha vizinha e toda aquela loucura dos tempos da Mafiosa, afastaria qualquer um de ter um convívio comigo.
Mas uma coisa eu aprendi, e ele estava aprendendo na marra.
Você aprende mais, no fundo do poço do que no topo da montanha.
E ele estava nos dois ao mesmo tempo.
Ali ele teria que entender se ela estaria com ele no mesmo barco, para remar junto, porque do contrário só iria atrapalhar seu futuro.
E aí o certo era rema sozinho.
Sempre achei Elliot muito precoce.
Talvez por andar com um grupo muito mais avançado de idade do que ele.
Ele parecia ter pressa na vida.
Sempre tinha uma ansiedade de quem estava atrasado.
E eu sempre fazia o mesmo questionamento para ele.
Como você pode estar atrasado na vida, se a vida é só sua?
E ele sempre sorria com minha pergunta, mas não dessa vez.
Elliot ia sofrer mais um pouco.
Mesmo que a Cigana e ele voltassem ao normal.
Essa ferida só se cura com o amor, que também é responsável por abrir a mesma ferida.
Existe um equilíbrio saudável, onde os dois tem que estar dispostos a lutar junto, a abrir mão e acima de tudo entende o limite do outro.
Fazer jogos e brincar com esses limites era sempre um caminho que ajudava nessa avalanche no relacionamento.
Mas só ele poderia concluir se valia a pena ou não.
Ele parecia estar no limite.
Ela aprendeu a fazer barulho com o silêncio.
Eu não tinha conselho para dar, a não ser, que ele confiasse no próprio coração.
Quando você não gosta de onde você esta, você tem que se mexer.
Você não é uma árvore.
E isso ele já sabia.
Eu comecei a ficar deprimido, vendo ele na minha frente daquela maneira.
Faith voltava da sua caminhada pelo templo, dizendo que não estava se sentindo bem.
E de repente o ar pesou.
O Buda tinha um semblante pesado agora e por uns segundos eu achei que ele tinha sido afetado pela nossa conversa.
Mas não, algo que eu nunca tinha sentido estava acontecendo.
E me veio uma sensação de que o mundo tinha parado.
Por alguns milésimos de segundos que pareceram horas, eu vi Elliot e Faith na minha frente paralisados.
Pássaros cruzando os céus, congelados no ar.
O Buda tinha um tom de tristeza no seu rosto.
E eu estava tão confuso que meu cérebro tentava me dar as informações e eu não conseguia assimilar.
A terra tremia.
E eu não percebi, só senti todo o mal-estar que isso trazia.
Sentia a energia desorientada que aquilo transmitia.
Senti os braços de Elliot se jogarem em mim e ali no chão abaixado por míseros 1 minuto, vi o mundo se transformando ao meu redor.
Parte do templo desabando e gritos ensurdecedores a nossa volta.
Não era uma maldição cigana, estava acontecendo um Terremoto.
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