quarta-feira, 22 de outubro de 2025

O fatídico dia da ruptura

 





O dia começou com duas bombas caindo no meu colo logo de manhã. A primeira, era o convite/solicitação para a minha visita à Mafiosa na prisão. Que nunca foi uma possibilidade plausível na minha cabeça. Mesmo com os apelos de que isso seria ótimo para continuar minha caminhada. Desculpa, mas eu não tenho nenhum interesse em me colocar na mesma sala que alguém que tentou me matar. Entendo quem tem esse discurso do perdão para qualquer situação, mas não é meu caso. Existem bilhões de pessoas no mundo, deixar que uma que me quis mal volte a minha vida, é no mínimo uma carência que deveria ser tratada como doença. Elliot também recebeu o mesmo convite e estava disposto a ir e veio pedir meu conselho. - Elliot, isso é muito particular, seus demônios só você sabe como alimentar. Não se sinta pressionado, influenciado ou julgado pela minha decisão. - e me pus em silêncio sobre esse assunto logo em seguida. A Mafiosa estava em algum programa de terapia dentro da prisão, e isso ainda poderia ajuda la com a pena. Ela sempre foi muito manipuladora, e eu não ia dar mais nenhuma brecha para isso. Esse assunto estava encerrado, mesmo que me afetando diretamente. Meu corpo tremia por dentro. Eu sentia meu interior queimar. Aquilo tinha um potencial destrutivo demais na minha vida e eu brigava para virar essa pagina. Pois bem, a segunda bomba vinha de quem veio tentar me convencer a ir visitar a Mafiosa logo cedo. Faith. Sim, ela mesmo. Minha coluna grega de sustentação do meu mundo atual. Que começava a ruir assim como os tempos áureos dos gregos. Faith estava tentando uma reaproximação com o babaca do ex, que até perseguir ela, perseguiu. Mas ele agora tinha um discurso de mudança. Devia fazer parte da igreja do Latini ate, mas não quis me aprofundar. Já falamos sobre esse ser humano desprezível em outros contos. Agora todo o discurso de Faith era sobre perdão e mudança. Esse conflito com os próprios demônios é super natural, mas não no meio do meu ano sabático, onde eu deveria estar sozinho. Mas era simples, eu não a julgaria e teria paz. A escolha delas são delas, mesmo que me preocupe. Se ele matasse ela, que foi uma preocupação uma época, seria algo que eu estava lavando minhas mãos em respeito a escolha que ela teve. Rudolph fazia o monitoramento dele a pedido de Ari. Eu sempre fui contra. Faith era uma adulta inteligente, uma das advogadas mais respeita do Rio de Janeiro, e tinha que ter sua liberdade e vida respeitadas. Eu jamais dividiria o mesmo ambiente que aquele babaca novamente, e ela já tinha sido informada sobre isso. Mas como se ela não estivesse cansada de fazer merda na vida dela, resolveu fazer na minha. Trouxe a Gato preto para fazer parte da minha viagem, dizendo que ia voltar ao Brasil e deixar ela para cuidar de mim. Aí aconteceu a pior discussão que já tive com Faith. E como resultado, algo impensável para todos. A ruptura. A Gato preto e eu tivemos um breve relacionamento, mas que nunca me deixou muito confortável. Pós Mafiosa, qualquer movimento de manipulação eu já ligava meu alerta. E ela abandonou sua vida pelo mundo, para se aproximar dos meus amigos e constranger minhas exs. A Cartomante foi uma que levou uma espécie de aviso, por continuar próxima de mim. Ela começou a aparecer em lugares onde eu estava e dessa vez estava tentando se infiltrar dentro da minha viagem, mesmo sabendo que eu não queria ninguém la. Faith fez essa ponte, com um discurso de que era hora de eu deixar de ser egoísta e começar a pensar sobre um futuro onde eu ficaria sozinho, sem ninguém. O egoismo e se priorizar é uma linha muito sensível. Mas eu sempre tive a certeza, de que prefiro ficar sozinho na vida, do que trazer pessoas para a minha vida que me fazem mal. Que já me fizeram mal e que com certeza irão me fazer mal novamente. Eu poderia estar morto agora graças a Mafiosa Fiquei doente por causa dela. Meu corpo quase desistiu por toda a influência negativa e toxica que ela colocou na minha vida. O perdão cristão nunca me fará ver isso diferente. Minha visão de mundo é muito maior. Não vou deixar a mesma idiota destruir minha vida, com um mundo de possibilidades. Me colocar nessa posição, só joga para o universo o quão desesperado por uma validação eu estaria. Me ver nesse ponto de fraqueza, sabendo que eu sou muito mais forte que isso. Que sempre tentei ser uma pessoa que não envenenasse a vida dos outros, não ia aceitar esse futuro. E a Gato preto era o mesmo. Não tentou me matar. Mas não era o perfil de pessoa que eu queria na minha vida. Eu olhava para trás e me via sem família. Poucos amigos ainda existiam. E mesmo assim, eu tinha orgulho da minha estrada e não tinha nenhuma preocupação em ficar sozinho. Isso me dava autonomia para fazer minhas escolhas sem ser dependente de migalhas. Migalhas essas que poderiam ser o meu final. Faith não gostou das palavras, deu as costas dizendo que então eu ficaria sozinho como sempre quis. E foi embora. Pela primeira vez. Aquela cena era inimaginável, triste, mas não mudava em nada minha visão de mundo. Novamente jogando na balança, não era egoismo, eu estava apenas me priorizando. Entrei em contato com Rudolph no dia seguinte. Pedindo sigilo sobre meus próximos passos. Eu iria sair do país onde estava sem informar a ninguém e ele era o único com estrutura para me achar se quisesse. Fui para o bar do aeroporto e pedi uma cerveja. Sentado no balcão conversando com o garçom, um clássico da depressão. Ali, lendo uma revista largada no canto, decidi meu próximo destino, talvez sem volta. Uma mulher senta ao me lado e da risada. - Eu estou indo para la amanha - Ela dizia sorrindo ao ouvir eu informar ao garçom que tinha decidido para onde ir naquele momento. Era uma Belga com traço asiáticos, de cabelos coloridos, muito sorridente. - Então parece que vamos continuar essa conversa no avião. - Eu brindava com a cerveja. E foi exatamente como aconteceu. No dia seguinte, após ter pegado as informações com ela, estávamos embarcando juntos, lado a lado no avião, para a próxima etapa da minha vida. Sem olhar para trás. Colocando em prática o que sempre acreditei. Que o mundo é muito mais.

sábado, 11 de outubro de 2025

Não era uma maldição cigana

 






Depois da festa de Ari, eu estava de volta a minha rotina na ásia.


Templos, Budas e paz.


Elliot veio passar uma semana comigo e Faith.


Aos poucos parecia que a galera ia se infiltrando na minha viagem, mas Elliot eu aceitei de primeira.


Nosso mascote parecia estar passando por uma fase não muito boa.


Na festa de Ari eu pude perceber que era um coração machucado.


Precise de 2 minutos de conversa para ele se abrir comigo.


Ele e a Cigana estavam se separando.


E claro, que eu, o coach da derrota, era a melhor pessoa para conversar com ele e mostrar que o mundo era aquilo mesmo.


De fracassos amorosos eu era um especialista.


Mas a experiência tinha me dado uma certa sabedoria sobre tudo isso.


Meu problema era como não despejar toda essa realidade na cabeça de Elliot de uma vez só.


Mas vendo Elliot olhar para o horizonte com a esperança de que os dias iriam passar e as coisas iriam melhorar, achei que era meu dever tira ele dessa expectativa.


Nos estávamos sentados de frente para um Buda gigante e resolvi tentar tirar Elliot daquele buraco com uma conversa informal.


O Buda, que estava envolto pela névoa, me olhava desconfiado tentando entender o que viria dessa conversa.


Uma coisa que aprendi, foi que o tempo não cura, o que cura é o que você faz com esse tempo.


Então só se lamentar ia manter ele envenenado nisso por eras.


A felicidade é uma escolha, mas nem por isso que dizer que será fácil.


Ser feliz é fingir que é feliz até ficar.


É assim que você levanta da cama todo dia, em busca do dia que você vai alcançar esse destino.


Mas não pode perder de vista que a vida é a jornada, não o destino.


Se você segue com verdade, vai aproveitar muito mais essa caminhada.


Porque sua consciência vai estar leve.


E se você não se arriscar, não vai merecer viver o extraordinário.


Elliot era um cara sensacional.


O melhor de nos todos.


Aquele grande e imperfeito cara, tao generoso e cheio de amor.


Leal como nunca existiu, mas que vai até a linha limite, e de la ele não passará.


Se a Cigana, que era uma menina bem legal também, não pudesse ver isso, talvez não merecesse ele na sua vida.


Crescer é fazer as perguntas certas.


E às vezes a gente se perde com as respostas.


Às vezes você se perde nas prioridades.


Em regra, você deve escolher a você mesmo primeiro, depois você escolhe quem te escolhe.


Essa segunda parte é muito importante, porque nem sempre conseguimos visualizar quem realmente escolheu estar com a gente, para qualquer que seja a situação.


Se você faz diferente, você já destrói o equilíbrio do universo.


E Elliot era esse cara.


Ele iria estar com ela, sorrindo assistindo series e comendo seus doces de sempre.


Mas também estaria com ela nos piores momentos que ela tivesse.


Com ele, ela nunca estaria sozinha.


A melhor parte que você demora a entender, é que ninguém é você, e isso é o diferencial.


Então era fácil de entender todo o amor de Elliot.


Com seu semblante sereno, e sendo abraçado por névoas intermináveis, o Buda parecia ouvir atentamente nossa conversa.


O fato de eu não pedir ajuda, não exclui da minha memória quem ofereceu.


E Elliot sempre esteve la por mim.


O que ele sofreu com a morte da minha vizinha e toda aquela loucura dos tempos da Mafiosa, afastaria qualquer um de ter um convívio comigo.


Mas uma coisa eu aprendi, e ele estava aprendendo na marra.


Você aprende mais, no fundo do poço do que no topo da montanha.


E ele estava nos dois ao mesmo tempo.


Ali ele teria que entender se ela estaria com ele no mesmo barco, para remar junto, porque do contrário só iria atrapalhar seu futuro.


E aí o certo era rema sozinho.


Sempre achei Elliot muito precoce.


Talvez por andar com um grupo muito mais avançado de idade do que ele.


Ele parecia ter pressa na vida.


Sempre tinha uma ansiedade de quem estava atrasado.


E eu sempre fazia o mesmo questionamento para ele.


Como você pode estar atrasado na vida, se a vida é só sua?


E ele sempre sorria com minha pergunta, mas não dessa vez.


Elliot ia sofrer mais um pouco.


Mesmo que a Cigana e ele voltassem ao normal.


Essa ferida só se cura com o amor, que também é responsável por abrir a mesma ferida.


Existe um equilíbrio saudável, onde os dois tem que estar dispostos a lutar junto, a abrir mão e acima de tudo entende o limite do outro.


Fazer jogos e brincar com esses limites era sempre um caminho que ajudava nessa avalanche no relacionamento.


Mas só ele poderia concluir se valia a pena ou não.


Ele parecia estar no limite.


Ela aprendeu a fazer barulho com o silêncio. 


Eu não tinha conselho para dar, a não ser, que ele confiasse no próprio coração.


Quando você não gosta de onde você esta, você tem que se mexer.


Você não é uma árvore.


E isso ele já sabia.


Eu comecei a ficar deprimido, vendo ele na minha frente daquela maneira.


Faith voltava da sua caminhada pelo templo, dizendo que não estava se sentindo bem.


E de repente o ar pesou.


O Buda tinha um semblante pesado agora e por uns segundos eu achei que ele tinha sido afetado pela nossa conversa.


Mas não, algo que eu nunca tinha sentido estava acontecendo.


E me veio uma sensação de que o mundo tinha parado.


Por alguns milésimos de segundos que pareceram horas, eu vi Elliot e Faith na minha frente paralisados.


Pássaros cruzando os céus, congelados no ar.


O Buda tinha um tom de tristeza no seu rosto.


E eu estava tão confuso que meu cérebro tentava me dar as informações e eu não conseguia assimilar.


A terra tremia.


E eu não percebi, só senti todo o mal-estar que isso trazia.


Sentia a energia desorientada que aquilo transmitia.


Senti os braços de Elliot se jogarem em mim e ali no chão abaixado por míseros 1 minuto, vi o mundo se transformando ao meu redor.


Parte do templo desabando e gritos ensurdecedores a nossa volta.


Não era uma maldição cigana, estava acontecendo um Terremoto.


sábado, 4 de outubro de 2025

O silêncio antes da tempestade

 





Eu sempre fui mais razão que coração.

E continuarei sendo.

Mas isso nunca me limitou de também agir impulsivamente.

Pelo contrário, tenho esses rompantes onde meu coração é quem guia.

Normalmente é onde se instaura o caos.

Olhando para trás, eu não tenho tanto arrependimento assim.

Minha confiança sempre foi dada de coração.

Mas as consequências da quebra dela, com a razão.

Quanto maior nossa ligação, maior será a desconexão em uma eventual quebra de confiança.

Às vezes, com mágoas, mas no geral de uma forma bem fria, onde simplesmente essa pessoa deixa de viver no meu mundo.

Pacto claro, amizade longa.

Eu sou muito aberto e darei meu melhor para quem eu trouxer para esse lugar.

A empatia talvez tenha me fudido nessa caminhada.

As pessoas acham que os traumas delas, autorizam elas a virarem algo perverso.

Eu não posso pegar meus traumas e incorporar a minha personalidade.

Se isso estiver se entranhando na sua personalidade, você esta perdendo essa batalha.

E vai machucar todos a sua volta.

Por isso criei um lema onde a solidão parece ser mais confortável.

A real solidão.

A que você se coloca, e não a que você é colocado.

Minha geração parece não lidar bem com dificuldades.

Querem construir um prédio do dia para noite.

Não acreditam no potencial de uma obra planejada, calculada, pedra por pedra.

Dia por dia.

Na primeira dificuldade, colocam tudo em risco.

E o projeto perde o brilho.

Vai perdendo de vista os pontos de segurança.

E aí, sim, não parece um lugar para apostar como lar.

A mesma geração que sofre da síndrome de Peter Pan.

Não entendem que a vida são fases.

E saber viver elas de forma diferente, é o sentido do verdadeiro viver.

Se você tenta replicar seu modo de viver de uma fase anterior, a vida vai te atacar.

Você vai se perder, e nem ao menos vai perceber.

A sua volta, o mundo antigo vai continuar trazendo os seus problemas e agora vão se acumular com o da vida atual.

Com o que eu chamaria de, vida real.

O envelhecimento, se visto da forma correta, vai te trazer os melhores sabores do mundo.

Eu tentei me jogar no mundo para abrir meus horizontes.

Expandir minha mente.

Nunca foi fuga.

Demorei, mas entendi minha fase da vida.

Mas sempre tem desafios.

Me encontro em uma encruzilhada.

Se eu for a esquerda, eu sigo o coração.

Já a direita, a razão.

Encruzilhadas nunca foram problema para mim, mas dessa vez, me fizeram repensar todas as minhas escolhas anteriores.

Faith ficará louca se perceber que eu cogito abandonar tudo e desaparecer.

Também cogitei voltar para minha antiga vida e me isolar com minha gata Filé de peixe.

Mas não seria justo com ela.

E eu não teria paz.

O desaparecer como uma estrela que brilha pela última vez, tem sido um projeto.

Mas que seu último brilho seria mais brilhante que a luz do sol.

Eu nunca fui alguém que acreditasse em destino.

Esse livro escrito onde nos só passamos as paginas.

Por mais que tudo pareça ir seguindo como um organizado alinhamento de planetas, é difícil demais para mim acreditar que não tenho escolha.

E isso sempre foi um desafio.

Até mesmo para eu não criar desafios apenas para provar um ponto.

Cada dia que passa eu me esforço para não deixar que meus machucados adquiridos no caminho me direcionem.

E essa parte até que não tem sido tão difícil.

Sempre tive muito cuidado para que minhas merdas não afetassem outras pessoas.

Talvez meu próximo passo seja o mais importante e maduro que eu darei, e por isso a minha preocupação.

Eu estava sem energia social também por esses tempos, mas teria que ignorar esse fato por essa noite.

Pelo bem de Ari.

Ari ficou chateado por eu não deixar que ele e a tropa toda viesse viajar comigo pela ásia.

Desde então, não me procurava mais.

Mas misteriosamente, esse ano ele iria comemorar seu aniversário em Hong Kong.

Eu parecia não ter desculpas, já que até o continente da festa era o mesmo que o que eu me encontrava.

E la estava eu com Faith, na terra do Bruce Lee, indo para uma noitada com Faith pelo equilíbrio da equipe.

Não sobrevive o mais forte, mas sim o mais adaptável.

Aprendi isso as duras penas.

Então estava me adaptando ao cenário.

E também, para evitar mais drama.

Ari, quando quer drama, tem o mesmo potencial da sua fortuna.

Eu não estava triste em rever os amigos, mas parecia que eu estava vibrando em outra energia.

Antes minha vida parecia corrida demais.

O problema da vida corrida é se você não sabe o porquê está correndo.

Agora, eu estava diminuindo o ritmo e vendo aonde meus passos me levariam.

Entendi que antes, eu estava correndo e que realmente não sabia para onde.

Mas ok.

Uma noite com grandes amigos, não ia me tirar o foco dessa minha busca na ásia.

A noite estava muito bonita.

Era noite da lua cheia de sangue.

A lua estava enorme, brilhante e imponente.

O seu avermelhado parecia me convidar a um estado contemplativo.

E assim o fiz.

Desacelerei.

Deixei minhas decisões para o momento adequado.

Que com certeza não seria aquela noite.

E foi a melhor decisão que tive.

Aquele rosto irritado se desconstruiu em segundos com o meu abraço.

Até algumas lágrimas desceram, e o sorriso mais sincero tomou conta daquele rosto.

Ari tinha ganhado a noite com a minha chegada e eu estava perdoado.

Faith e John sorriam no canto assistindo à cena.

Latini estava próximo, conversando com alguém com aquele tom alto, como de costume.

Elliot conversava com duas mulheres ao lado, e de cara pude reconhecer que uma era a Gato preto.

Resumindo, aquele caos que me completava estava montado como sempre.

Peguei uma cerveja, e dei um gole longo, respirei fundo e deixei toda aquela crise existencial para outro momento.

A ásia ainda ia mexer muito no meu mundo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Pior que tsunami, Faith está na Ásia

 





Finalmente Faith estava de volta a minha vida, mesmo que temporariamente.


Chegou com aquele pé na porta como sempre e eu amava ter ela ao meu lado novamente.


Bali agora brilhava diferente.


Faith era uma das poucas que conseguia me acessar e me entender.


Era como se fossemos irmãos de alma.


Nos tínhamos uma vila inteira, com uma piscina de borda infinita de frente para o mar.


Eu não me ligava a dinheiro, porque hoje em dia Ari não deixava eu pagar por nada mais, muito menos com Faith.


Mas posso garantir que aquilo não era tão caro quanto parecia, não em Bali.


Eu tinha feito os sanduíches que ela tanto amava, e ela complementava com seu ritual de paz, que adicionaria cerveja e Ramones de fundo.


Já passei tantas vezes por esse ritual e assisti ela tão leve, que até me fazia bem hoje em dia.


Mas ela estava irritada comigo por algo, e sabia que ela não ia deixar de externar.


- Porque você esta tentando se esconder do mundo de novo - Ela dizia sem cerimônia olhando fixamente para os meus olhos.


E eu negava dando um gole na minha cerveja e sorrindo.


Falei com a Gato preto, e parece que ela estava decidida a vir para Bali e você cortou ela.

Você também não está tentando afastar ela? - A ironia de Faith conseguia ser pior que a minha.


Pela primeira vez estava assistindo Faith fazendo lobby para alguém ficar comigo.


Mas Faith sempre foi a minha melhor amiga, porque sempre entendeu os meus motivos.


E la foi eu, tirar ela dessa trilha louca que ela queria trilhar.


Um pouco antes de eu começar meu ano sabático, eu reencontrei a Gato preto na minha cidade pela vigésima vez.


Ela sempre ficava pelo mundo, ai após 1,2 anos, voltava uns meses para Limerick.


A gente se envolvia e sempre parecia que talvez fosse a hora de isso virar algo a mais.


E assim que ela sentia isso, ela corria.


Antes eu achava essa liberdade dela apaixonante, mas com o passar dos anos e a convivência, percebi que era apenas medo.


O medo vinha, e ela fugia, mas colocava um papel de parede lindo de liberdade.


E isso nunca foi um problema para mim.


Até ser.


Do momento que ela começou a tentar entrar na minha vida.


Aquilo não era certo.


Era cercado de joguinhos que não cabiam mais.


Não existia uma atenção verdadeira.


Parecia uma peça de teatro, uma encenação.


E ela não se livrava do passado.


Parecia ter uma esperança que aquilo voltasse a vida.


E isso me matava.


Foi me matando aos poucos.


Até o ponto que meus olhos não brilhavam mais com ela.


Às vezes você vai se machucar por escolha própria.


Mas eu aprendi com a vida a saber estar em pedaços, sem machucar ninguém com os cacos.


Ela não parecia ter essa noção e isso me afastava mais dela.


A minha despedida dela foi a fatídica festa de Halloween.


Menina da neve estava la.


Meu doce pecado também.


A guitarrista me cercava e minha vizinha e Faith entraram em uma estação completamente errada nesse dia.


Então eu consegui ser diferente do Vigário do passado, e focar na minha saúde mental e nos meus sentimentos.


É engraçado ler eu escrevendo sobre meus sentimentos abertamente.


Parece que finalmente eu amadureci, ou apenas envelheci.


Não participo mais dos jogos, pelo contrário, pego ranço hoje em dia.


Resolvo tudo conversando e jogando limpo.


Me deixando ser vulnerável.


O que eu condenaria muito no passado.


Mas cheguei a um ponto onde entendo, que se alguém se aproveita quando você baixa suas defesas para ela entrar, o problema não é você.


Empatia continua sendo meu mantra


Não me alimento mais de arrependimentos.


E minha tatuagem continua dizendo a primeira regra.


Não tente.


Se não for mergulhar de cabeça, não tente.


Se não estiver disposto a dar All in, não sente na mesa.


O passado fica no passado, só trazemos as lições de la.


Porque o passado é como um gás venenoso que fica agarrado em você e envenenando todos a sua volta.


Enquanto você não se livra disso, só vai machucar os outros.


Eu podia vir aqui e usar a desculpa de que estou ferido e trazendo os traumas do meu passado com a Mafiosa.


Muitos a minha volta parecem me dar esse salvo-conduto.


Mas depois que você entende quem você é e reafirma seu caráter e o que você quer para sua vida, no meu caso, isso, não cabe mais essas situações.


Então resolvi não mais me relacionar com Gato preto, nem mesmo por diversão como nos velhos tempos.


Mesmo com a licença poética que ela adora usar, de somos livres.


Essa falsa liberdade já encheu meu saco.


Faith olhava para mim com aquele olhar de admiração que ela me jogava em vez enquanto.


Parece que minha explicação tinha sido aceita.


- Nossa, Vigário, quem diria que o cara que despedaçava corações por aí com a desculpa de estar cheio de traumas e cicatrizes, iria virar alguém preocupado com responsabilidade afetiva. - Ela batia palmas com um pouco de verdade e muita ironia ao mesmo tempo, enquanto era pega no seu ato falho e gargalhava.



Mudei bastante desde aquele fundo do poço que narrei aqui por anos.


Já fiz muito mal aos outros.


Mafiosa foi um sintoma de uma doença que eu estava virando.


Não justifica os atos dela, mas também não justifica os meus.


Cansei de relacionamentos de fachada.


Que a pessoa se esconde.


Te machuca pelo simples sentimento falso de ganhar um ponto defendido.


Ficar pisando em ovos.


Relacionamento onde devido às minhas merdas, eu colocava a pessoa como se fosse em uma camisa de força.


Isso sufoca, isso mata.


E eu já estive nessa posição horrorosa de sufocar alguém.


Não vou mais repetir isso.


E pretendo não mais participar disso.


Então a Gato preto não foi pega de surpresa.


Deixei bem claro para ela mergulhar de cabeça ou nem vir para a piscina.


Mas ela achou que o antigo Vigário continuaria encantado com seus belos olhos e seria distraído por mais alguns anos.


Não mais.


Enquanto Faith fazia seu showzinho dançando com uma cerveja na mão, dando suas gargalhadas e batendo palmas para mim, eu apenas sorria.


E meu sorriso foi crescendo e ela percebeu que tinha algo diferente nele.


Atrás dela, os seus sanduíches eram roubados por uma gangue de macacos de Bali.


Eu assistia aquela cena como se estivesse em um cinema de tela gigante.


Estava apaixonado por Bali e pela minha vida novamente.


Faith resolveu que ia ficar comigo no meu sabático até eu dizer que não queria mais.


Então parecia que a Ásia ia tremer pelos próximos meses.


sábado, 26 de julho de 2025

A vida não vai esperar

 




Refletindo sobre o Vigário do passado, ou como Latini gosta de dizer, o Vigário do antigo testamento.

Fiquei analisando minha vida até aqui, para quem sabe, em uma oportunidade de encontro com o meu eu do passado, eu possa evitar os mesmo erros.

Preciso mostrar a ele, que só resmungar das pedras no caminho que eu mesmo coloquei, vai só envenenar a vida dele, logo a minha.

Que essas pedras, são cascalhos e entulhos de muros que destruí por minhas próprias escolhas.

Escolhas erradas ou afobadas.

Ou simplesmente que me levaram para fora do foco do que eu queria para a minha vida.

E escolhas erradas nos não lamentamos.

A vida não tem tempo para isso, você vai atrás da correção de rumo.

Não me jogue esse olhar de quem está lendo um coach da felicidade.

Me respeite, aqui é só algo sobre conhecer as próprias falhas e tentar lidar com elas da melhor maneira possível.

Tem uma teoria, sobre a vida da minhoca, que se aplica aqui.

A minhoca fica debaixo da terra, onde é seu lar, super agradável.

Por ela, ficaria la toda sua existência.

Mas sempre tem algo externo que vai afetar sua vida.

Com a minhoca não é diferente.

Então quando chove, encharca e afeta a respiração delas.

Não é mais confortável ficar ali.

Ela precisa sair e encarar o mundo para poder respirar, mesmo que temporariamente.

Para conseguir achar uma área de conforto novamente.

Às vezes para munda sua vida em definitivo.

Mas o mundo la fora é perigoso.

Se você não abre sua cabeça, não se prepara, vai ser engolido.

Então é algo muito comum acontecer, o chamado suicídio de minhoca.

Elas saem daquele mundinho confortável e reduzido e dão de cara com o calor do verão no mundo la fora.

Morrem secas.

O mundo engole elas.

Esse, normalmente, é o padrão.

Mas o que fazer em uma situação como essa?

Fica vivendo desconfortável?

Sem ar para respirar?

Ou arriscar é achar o que vai alimentar sua alma mais uma vez?

Antes de mergulhar no mundo, eu li sobre o suicido de minhoca.

Preciso ser honesto, isso sempre me assombrou.

Me congelava, impossibilitando qualquer movimento mais brusco.

Mas, ao mesmo tempo, a falta de ar me matava aos poucos.

O só sobreviver já não era mais suficiente.

E nessa trajetória, você vê o mundo continuando.

O que é realmente incrível e te pega de surpresa.

Pois inconscientemente, seu cérebro te dá uma sensação de que o mundo parou, e vai esperar por você.

Erro crasso.

A vida não vai esperar por você meu amigo.

Não mesmo.

A terra não vai parar seu movimento de translação e rotação por você.

Essa sensação é só um conto de fadas entranhado na sua cabeça.

Às vezes a ignorância é uma benção, e o final da minhoca, é um caminho mais digno.

Você vai precisar entender se essa grandeza atual de escolhas será uma dádiva ou uma maldição.

Não será um deus pagão que dirá isso para você, serão suas escolhas.

Minha mente no momento flutua entre uma paz absoluta e um caos insano.

Eu estou no início do calor confortável de um incêndio na minha casa.

Flerto com dias que pareço me aproximar do nirvana, e em outros que pareço estar escrevendo um diário de um homem louco.

Vejo luto ao meu redor o tempo todo.

Me vejo olhando o horizonte com aquele tremor na pálpebra que parece anunciar um colapso.

Mas como?

Se meu estado se aproxima da paz mais leve que já me aproximei na vida.

Por alguns segundos consigo esvaziar minha cabeça e entrar em um comodo silencioso.

São segundos até meu cérebro voltar com aquela carga de ansiedade acumulada, mas parece uma eternidade quando consigo acessar esse lugar.

Eu sempre fui alguém que caminhou sozinho.

Não é um orgulho, muito menos uma reclamação.

Só uma constatação.

Que comecei a pensar sobre, já que as pessoas a minha volta não parecem entender isso.

Eu não decidi fugir do mundo, eu decidi viver.

A ásia tem sido uma experiência surreal.

Nunca pensei que o mundo seria tão diferente na superfície.

Tenho que me policiar para não ficar deslumbrado, com os olhos brilhando enquanto esqueço que o sol pode me secar e acabar com meu sonho.

Assim como as minhocas.

E por mais que o fator da racionalidade seja um diferencial do ser humano, é realmente muito fácil se aplicar ao quão pequeno somos no universo, quando nos vemos em uma situação igual a de um ser tão minusculo perante nos.

Metáforas, ainda que metáforas, te dão a dimensão do mundo.

Na minha busca de uma forma diferente de ver o mundo, pareço estar bem afastado do Vigário que vocês conheceram.

Trocando a vida mundana, por tardes ensolaradas em templos hindus.

Álcool por água de coco.

Nesse meu sabático,dei ferias para os meus demônios.

Pelo menos por enquanto.

Ari já quis me encontrar, e eu neguei o convite.

Ele está chateado com minha negativa.

Disse que ficar solitário em Bali é um pecado.

Faith também já se colocou à disposição para passar uns dias comigo.

Que neguei educadamente.

Mas ela é muito mais sagaz que Ari.

Ela me entende só no meu tom de voz.

E numa chamada de vídeo, ouvindo me falar de como estava sendo minha experiência, com aquele lagarto barulhento de fundo, que você só encontra em Bali, ela entendeu que eu precisava desse tempo sozinho.

Mas ainda, sim, me ligava a cada 2 dias, não mais que isso.

Ela sempre entendeu que meu espaço não se confunde com solidão.

- Ok, mais 1 mês se descobrindo e eu te encontro no país que você estiver para passar uns dias com você.
Nem na nossa adolescência a gente tem tanto tempo assim para se descobrir
- Dizia ela sorrindo e se impondo.


Eu não tinha muita escolha, já que esse foi o combinado desde o início quando ela me apoiou a me jogar pelo mundo, e virou a mãe temporária da minha gata Filé de peixe.

Eu gostava da companhia de Faith.

Com ela não me sentia pressionado e era alguém que estava sempre tentando diminuir o ritmo acelerado do dia a dia.

E tem essa coisa, de que eu precisava me adaptar novamente a ideia de que o mundo não parava.

Meus amigos ainda faziam parte da minha vida e eu nunca tive a intenção de dar as costas para isso.

Tem momentos que eu paro e me pego pensando se o que eu estou fazendo faz sentido.

Já que a minha vida também não parou.

Posso estar mudando ela agora ou apenas atrasando meus passos para um futuro que não consigo imaginar qual é.

Meus momentos trancados não são mais constantes como eram.

Minha reclusão tem sido mais mental.

Porque a vida não tolera mais que eu jogue minha vida fora.

A vida não vai esperar eu querer viver.

Vai me enterrar antes de eu perceber a beleza do que é o arriscar.

As cegas, como um salto de fé.

Então decidi sair para respirar e parar de me lamentar que estou sem ar.

E parece ter sido a melhor decisão da minha vida.

Se deixar ser soterrado pelos problemas era um padrão que eu seguia.

Minha desculpa era a dificuldade da vida e acumulo dos problemas.

Aquela bola de neve não parava e eu fugia da realidade com minhas drogas, como o álcool e relacionamentos tóxicos por opção.

Até por negligência a gente escolhe os rumos que a nossa vida vai seguir.

Então optei por não me omitir mais.

Não foi fácil e nem está sendo, mas a mudança de postura já é o diferencial.

Me olhar no espelho e me lamentar de como a minha vida está sendo injusta comigo, não é uma cena mais aceita.

E não tem nada de otimismo nessa forma de lidar, continua tanto difícil quanto.


Mas a minha postura para lidar com o que vem pela frente tem o ideal de ser mais amplo e pensado como eu sempre quis que fosse.


Eu sempre me orgulhei de boas construções de personagens e suas histórias, não fazia sentido não fazer isso com a minha própria


Se eu morrer amanha, pelo menos percebi a beleza novamente nas imperfeições e decidi viver nelas.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Mas o dia se foi

 




Acorda, Levanta a cabeça com o seu mau-humor habitual e vai.

Para onde, ninguém sabe, mas vá.

Se você não for, ninguém pode ir por você.

Depois de um tempo você ate entende um padrão, mas jamais o sistema completo.

Tem gente que ignora esse padrão, esses são fáceis de identificar.

A vida bate em silêncio neles.

A vida ensina de principalmente te dando perdas.

E no geral você nem percebe.

Você chora, se lamenta ou simplesmente é imaturo demais para entender o que esta perdendo.

Idade faz uma diferença absurda, mas não é nem de longe o que esclarece as coisas.

Percepção do mundo é o que diferencia seus próximos passos.

E você tem que conhecê-los, para quando o dia se for você não sair do seu caminho.

Deixe chover la fora.

A tempestade também é um bom sinal.

Vai lavar e levar tudo de negativo.

Até o recomeço com aquele brilho de luz do sol que vai te trazer de volta uma esperança que estava afogada em escuridão.

Seu caminho é você que faz e vai sempre ser.

Suas lutas é você que escolhe.

Sua alma é seu guia, sua bússola.

Podia ser um dia ensolarado na praia da ásia já, mas era um dia chuvoso em um restaurante de comida nigeriana.

Completamente fora da minha área de conforto.

Mas eu também gosto de desaparecer na chuva às vezes.

Noites de filmes e de sorrisos leves e sem culpa.

Você recebe o que você dá de si.

Recebi paz e um abraço apertado.

Nenhuma palavra fica ao vento comigo.

Nem mesmo as mais rebeldes e fora de hora.

Um dia de cada vez.

Esse era meu lema.

Até que você entende que o dia se vai.

Que não importa o quão forte seja o momento, o tempo não para como nos filmes.

O dia se foi.

E você perdeu tudo.

Amanhã você levanta de novo, mas o peso do dia que se perdeu, vai caminhar com você.

E eu podia ficar por horas ali na minha janela vendo a chuva cair e deixando aquela paz me tomar.

Mas eu não tinha esse direito.

Essa era a punição da vida para mim.

E quando você percebe isso, você vai ter que caminhar pela escuridão.

Vai carregar um peso a mais de bagagem.

Vai chorar e se lamentar pela falta de percepção, pela falta de coragem.

Serão dias difíceis, dias duros.

Espero que você não se perca nessa escuridão.

Espero que esse amargo não te envenene.

Sou seu amigo do futuro que aparece de frente para você quando você olha no espelho.

Sei que você luta para evitar conselhos, mas me ouça dessa vez cabeça dura.

Anote em uma folha de papel essa suas palavras sobre a escuridão e use como um mantra.

Guarde na sua carteira e leve para seu caminho.

Use como um mantra.

Repita.

E repita.

Quantas vezes for necessário.

Até você sentir que isso não te machuca mais.

Mesmo os longos dias se vão.

Existe uma lógica por trás de tudo e você nunca vai entender o sistema inteiro de primeira.

Então continue caminhando, até tudo fazer sentido.

Chore pelas pessoas que valham a pena.

Elimine a existência na sua vida das que te fazem mal por querer.

Seja quem da a mão sempre para apoiar.

Não importa em que momento da vida é, esteja la por ela.

Não se esqueça da sua essência.

Quem você virou, e brigou para ser.

Ouça a estranha que disse que você tinha uma luz enorme e era especial.

Não seja o amigo de copo.

Que só se faz presente nos momentos de beber ou demonstrar algo para uma rede social.

Essa futilidade nunca foi você.

Você é quem sofre com os seus.

É quem renuncia de sorrir para passar dificuldade com alguém que você quer levar para sua vida.

Não importa o lugar.

Festa, cemitério, trabalho, hospital, uma videochamada ou mesmo aquele cantinho de conforto que você criou.

Você sempre foi diferente deles.

Seja ele novamente.

Esse texto tem muito ‘VOCÊ’, parece até uma vibe de autoajuda.

E por um lado até é.

Às vezes repetir em voz alta faz eu lembrar que o dia acaba e que não posso só me lamentar.

Esse é o ponto positivo de uma terapia escrita.

Corações gelados também quebram.

Mas respiramos fundo antes que as palavras que eu escrevo desapareçam.

O caminho nunca termina.

É só não parar de caminhar.


terça-feira, 29 de abril de 2025

Como a assinatura em um bilhete




Eu perdi as contas, mas cheguei na conclusão que faz 20 anos desde que me despedi dela.

E tento entender como isso ajudou a moldar esse meu eu atual.

Ela sempre quis que eu fosse diferente de todos os homens do mundo.

O amigo dela tinha que ser o mais leal e de caráter indiscutível.

Ela me guiou por várias etapas nebulosas da minha vida.

Aprendi e amadureci em cada conselho e puxão de orelha.

Ela odiaria me ver derrubado.

Talvez a obra dela não tenha ficado perfeita por falta de tempo, mas ela se esforçou.

 Fazia muitos anos que não sentia mais sua presença.

Até aquela jornada inesperada.

O Caminho de Santiago


Eu sentia uma energia diferente a cada dia de caminhada.

Mais como um livro aberto na minha frente, eu conseguia ler as energias que eu encontrava pelo caminho.

No geral eram energias positivas, de esperança e fé que as pessoas emanavam.

Mais naquele ultimo dia de caminhada, um senhor de coluna arqueada e passadas pequenas, sorria para mim com uma energia diferente.

- Sua amiga tem uma energia ótima e vai com você te protegendo até o final - Com o mesmo sorriso tranquilo, ele voltava para sua caminhada após fazer aquele comentário.

Foram 3 segundos onde meu cérebro congelou, talvez pela informação desconexa, ou mesmo pela língua, já que ele falava em um espanhol bem diferente do que eu estava acostumado.

3 passadas a frente, enquanto eu me encontrava parado e desnorteado, ele parou novamente e olhou para trás e disse um nome.

Como uma assinatura de um bilhete.

Virou se e voltou para sua caminhada, dessa vez em definitivo.

E eu fiquei ali em uma crise de choro sem precedente.

O Camino, mexe com você.

Mexe com sua energia, com seus pensamentos, com seu futuro.

Ele cobra de você um pedágio de energia, mas vai fundo e molda sua alma.

E naquele momento, um senhor, desconhecido, com um sorriso que não me era estranho, fazia do meu caminho, algo ainda mais importante.

Sem crenças ou aprofundamentos em espiritualidade, um desconhecido me dizia que aquela minha amiga de uma vida inteira, ainda estava ali do meu lado como uma protetora que sempre foi.

Mesmo 20 anos depois, aquele sorriso do senhor tinha uma semelhança com algo que eu jamais esqueceria.

Aquela cara de lua, olhos arredondados e sorriso largo e que transmitia tanta paz.

De alguma forma, aquele sorriso se materializou ali, no momento daquele bilhete que não era esperado.

Eu tive alguns anos de afastamento das memórias dela.

Talvez por revolta.

Tenho fases onde a perda me cria uma certa indignação.

Essa minha rebeldia de espírito me traz esses conflitos.

Mas depois desse dia, minhas memórias dela voltaram perfeitas a minha cabeça.

E vejo seu sorriso intacto na minha mente e isso me traz toda a paz que eu preciso.

Ela sempre foi minha companheira.

Minha amiga que sempre lutou pelo melhor de mim.

Hoje o dia não é dos melhores.

Eu tenho a sensação de que falhei com ela falhando com alguém.

Passei a tarde febril, olhando um dia lindo de sol pela janela.


De fundo, aquela música triste que ela amava “The reason”, e que fazia um sentido absurdo nesse momento de hoje.

Às vezes tenho o sentimento que estou cansado dessa caminhada.

Que eu podia apenas descansar e encontrar ela com aquele sorriso novamente.

Mas logo me vem aquela sensação de que ela esta reprovando esse meu sentimento.

Então tento levantar a cabeça.

Tenho pessoas a minha volta especiais pelas quais vale continuar caminhando.

O caminho esta la para ser feito e ter alguém do seu lado apoiando é um diferencial.

Ela nunca deixou eu desistir de nada, desde os meus amores de adolescente.

Sempre foi do discurso de que se me fazia bem, se me melhorava como pessoa e tinha que brigar por aquilo.

Então eu não ia decepcioná-la.

Minha vida parecia um quebra cabeça com milhares de peças minúsculas.

Mas eu não ia desistir de montar.

Eu sempre fui muito verdadeiro, mesmo quando falhava.

Jamais tentava ser quem eu não era.

Sempre admiti minhas falhas, meus erros e isso aprendi com ela.

Hoje era um dia que queria ela do meu lado, para chorar no seu colo.

Ela sempre foi a melhor para cuidar de mim quando eu estava despedaçado.

Sempre me ajudou a juntar os cacos e ser alguém melhor depois de toda a dor.

Eu sou falho para caralho.

E mesmo que lute para diminuir os erros, ainda assim quando acontecem, isso me destrói.

Principalmente se machuca outra pessoa.

Mais eu prometo por mim e por ela que a cada dia, vou tentar ser uma pessoa melhor.

Que vou ser o porto seguro que você precisa e merece.

Sempre a minha versão do dia seguinte vai ser melhor.

Mais madura, mais empática e mais feliz.

Só de eu não me sentir mais sozinho, já mostra a diferença que você faz na minha vida.

Mas vou continuar caminhando e deixar que o caminho me traga as respostas deste questionamento sem fim.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Apenas um passo ao longo de um caminho


 

Só se vive uma vez?

Não sei mais 

É engraçado ver como o tempo te muda.

Te transforma e te molda.

Não necessariamente só positivamente, como negativamente.

A maturidade nem sempre é essa benção que as pessoas acham.

Com ela, pode se perder a empatia e até mesmo a humanidade.

Parece que vejo isso ocorrendo a todo momento.

Isso não deveria me afetar.

Pelo menos ao que consta nos registros, sou um vigarista, um con man, como preferir.

Essa sempre foi minha fama.

Minha fase nômade parece ser só mais uma pequena parte do plano e das mudanças do personagem.

Prometo o que não tenho, na esperança de entregar algo ou te fazer acreditar que você recebeu o que foi prometido.

Sempre tive o dom de criar aquela aura no ar que faz você achar que esta sonhando.

Retorica perfeita.

Ar tristonho quando necessário, sorriso esperançoso e leve para te incentivar pular do penhasco.

Um salto de fé talvez?

É fácil distinguir quem tem o controle das coisas.

O malandro e o otário.

O parasita e o parasitado.

Manipulador e manipulado.

Sei a hora de avançar e a hora de recuar.

Como um jogo de xadrez, aprendi a ter uma paciência invejável.

Raramente a rainha vai tremer e perceber algo, até que o rei tenha caído de vez.

Às vezes sento na minha poltrona de deus e apenas assisto.

Não me entenda mal, o tipo de deus que narro aqui não tem nada a ver com a sua pomba branca da paz e toda aquela luz.

Digo algo mais mundano, que sorri com falhas e aprende.

Fico assistindo aos seus passos completamente equivocados.

Quando todo mundo a sua volta já percebeu seus erros.

Só você que não.

E aí fica difícil não se aproveitar, é da natureza humana.

Onde alguém fracassa, alguém ganha.

Quando alguém demonstra fraqueza, sempre alguém se fortalece.

Absurdo?

Não fiz as regras.

Mas é bom reavaliar sempre seus passos.

Suas crenças e suas motivações.

Seguir regras nunca foi minha praia.

Sou mais de me alimentar de momentos.

O combustível do próximo passo é sempre o que me move no presente.

Tenho fases de planejamento e outras que o não planejar é o que faz meu barco velejar.

Já entendi esse padrão.

As pessoas vão chegando, outras vão indo embora e assim vou procurando um equilíbrio que faça sentido.

Não existe muito sentido em se deixar destruir sua vida por erro de lógica.

Existindo milhões de erros la fora que fará você sorrir no final mesmo dando tudo errado.

Mas assim como sua mente é quem controla o necessário para te ajudar nesse pequeno passo que vai te trazer de volta a caminhada, e ela que vai te congelar.

Não importa quantos quilômetros você precisa caminhar, o que importa é cada passo a ser dado.

Um de cada vez.

Não se deixe enganar com minhas doces palavras ou sorriso charmoso.

Eu não posso te ajudar a caminhar, mesmo que eu prometa isso a você.

Sua caminhada quem faz é você.

Eu sempre lia em voz alta meus textos em casa, pelo menos uma vez após pronto.

Filé de peixe, minha gata, me olhava com aquele olhar de quem entendia tudo que eu falava.


Essa tinha aprendido a ser uma vigarista das mais experientes.

Me manipulava desde sempre e era só sucesso nas suas investidas.

Mas mesmo o mais esperto dos vigarista, pode ser enganado.

E ela ouvia aquelas palavras e parecia entender cada ponto.

La estava ela na mesma poltrona de deus que eu me coloco às vezes.

Analisando, errando, aprendendo para usar nos próximos passos.

Fim de tarde com um banjo tocando de fundo e um por do sol que me incentivava a continuar caminhando.

Minha cerveja gelada descia como um conto perfeito, enquanto minha gata no colo ronronava e me deixava naquele clima de paz, que só um enganado pode sentir.

Um dia da caça, outro do caçador.

domingo, 29 de dezembro de 2024

Folie à Deux

 




Maeve tem vontade de me matar sempre que vê um título de conto meu.

Ela diz que eu não trabalho com os algorismos da internet.

Eu realmente não me importo com essas modernidades.

Minha obra se cria do nada, o que acontece pós isso, realmente não me importa.

Folie à Deux

Nome de um capítulo do meu novo livro.

“Transtorno delirante induzido ou perturbação delirante partilhada.”

Uma obsessão compartilhada entre dois indivíduos que respiram o delírio do outro.

A sensação que eu tenho é que vejo vários casais vivendo essa doença sem perceber.

Um começa a mergulhar na paranoia do outro.

Você não consegue identificar quem é o dono do delírio que passa isso para seu companheiro como um vírus.

Eu e a Mafiosa.

O que tinha um tom de relacionamento com pretensões de futuro parecia estar se tornando algo meio toxico.

Mas no primeiro momento, pensei, ela só é possessiva.

Sangue italiano, filha de uma das maiores famílias da máfia de Nápoles.

Ela conseguiu com esse territorialismo me afastar da Cartomante.

O que, de certa forma, ela fez bem, já que a Cartomante tinha o potencial de ser quem me tirasse daquela loucura que eu tinha me enfiado.

A Mafiosa aqui vai ser descrita apenas no cenário anterior aos eventos do fatídico dia de Florença.

Depois de alguns encontros, ela decidiu que a gente tinha um potencial absurdo para ser um casal.

Eu não tinha feito essa analise, estava só vivendo.

Viver é algo fácil de se fazer, se você caminha com os olhos fechados.

E la estava eu, vivendo um dia de cada vez, sem grandes pretensões.

A cegueira às vezes é uma escolha, assim como a ignorância.

Mas essa coisa toxica dela estava se mostrando demais, até mesmo para mim e minha miopia seletiva.

Já estava afastado da Cartomante quando ela recebeu uma ameaça anonima para não pisar mais em Florença.

Aquilo mexeu comigo.

Me ligou um certo alerta.

E dali resolvi diminuir um pouco essa cegueira.

Fui para a fase seguinte.

A fase do observe, não absorva.

Talvez eu tenha observado demais sem nenhuma atitude.

E aquilo foi me moldando.

Um dia me peguei com ciúmes dela, por alguma cena que ela criou, que nem ao menos lembro.

E aquele foi o segundo alerta.

Eu nunca tive ciúmes.

Minha insegurança nunca foi negada, mas não para relacionamentos.

Sempre fui entediado demais para isso.

Mas aquilo fez brilhar os seus olhos.

Como se fosse uma forma de amor.

E ela esperava aquilo desde então.

Entao começou a fase onde ela estava sempre com raiva e agressiva.

E comecei a me pegar mais estressado do que o habitual.

Flertando com a possibilidade de uma raiva quase impossível de controlar.

Aquilo não era eu.

Um dia, sentado com meu amigo mimico bebendo umas cervejas de frente para um por do sol lindo de Florença, ele me falou sobre essa teoria.

A teoria onde dois indivíduos começam a compartilhar delírios, bipolaridades e outras pertubações.

Dentro da Folie, um dos indivíduos esta verdadeiramente doente, o outro esta apenas sendo afetado por esse transtorno.

Separando, você já consegue distinguir quem é o dono dessa síndrome.

Aquilo parecia um toque de um amigo.

Naquele fim de tarde, ela apareceu e de forma brusca e mal-educada, chegou na mesa dizendo que eu precisava sair com ela ao invés de perder meu tempo com qualquer um.

Enquanto eu ia indo embora constrangido, o meu amigo mimico levantava o copo como uma saudação e simulava um choro com o melhor que sua arte podia entregar.

Ali eu percebi que eu estava perdido.

Perdido em um mundo cruel.

Logo após aquele episodio, comecei a me colocar na posição de analisar esses fatos.

Como se eu estivesse de fora.

Faith não gostava muito da Mafiosa, e se sentia meio impotente perto dela.

Parecia até me evitar por essas épocas.

De modo geral, todos da galera tinha um afastamento quanto a ela.

Rudolph que nesse tempo de Florença eu convivi um pouco mais, era o único que agia de forma mais ríspida com ela.

Eles se odiavam.

E não faziam muita questão de representações na minha frente quando se viam.

Quando dei por mim, eu estava adquirindo todos esses delírios de ciúme e posse que ela tinha.

E as verdades dela, iam me levando para um cenário que não existia.

Ela já fazia minha cabeça para o conluio dos meus amigos para nos separar.

Era isso, eu estava compartilhando os delírios dela.

Como algo divino, resolvi sair daquele relacionamento.

E logico que abri as portas do inferno com isso.

Mas essa parte da história você não lerá nos contos soltos.

Foi fácil perceber que aquela obsessão e fase delirante tinha uma nascente.

E assim que fui afastado, voltei a ser o mesmo entendiado de sempre.

Sem grandes alterações de humor, um velho rabugento padrão.

Na prática, a teoria do mímico se mostrou eficaz.

Engraçado como hoje eu percebo o quão cego eu estava e quanto coisa eu poderia ter evitado.

Mas já brinquei de culpa tempo demais.

Você faz a merda, assume e vai de peito aberto para todas as consequências que vem com a sua atitude ou falta dela.

Sempre fui um apaixonado e posso dizer que até mesmo um viciado em mulheres loucas.

É uma beleza que se apresenta diferente e que normalmente se mistura com a minha.

Acaba rolando uma espécie de simbiose entre essas loucuras.

Esse é o melhor dos amores.

Quando a sua insanidade se encaixa com a insanidade de alguém e vira algo positivo.

Mas como tudo que é bom, é muito fácil de se perder nesse caminho.

Então boicote ao amor.

Não pense duas vezes.

Evite se transformar no palhaço apaixonado que coloca fogo no circo.

No momento estou mergulhando em diferentes loucuras.

Entrei em uma fase de caos.

Por escolha.


Acho que era uma adrenalina necessária para eu não me perder do personagem.


Mas no ritmo que esta, seria um favor que a mafiosa me derrubasse desse trono da liberdade.

Se existe droga mais potente que a liberdade, ainda não experimentei.


Não existe delírio a dois que alcance os danos que sua liberdade pode te dar.

Então coloque um sorriso nesse rosto, e surfe essa onda que é a loucura da vida.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Nunca minta para um mentiroso

 




Eu era um escritor e com isso ganhava dinheiro com mentiras.

Mentir era um dom, que me deu todo o meu pequeno império, ou seja, minha carreira.


E por causa desse meu dom, eu tive que me especializar em tudo que uma mentira gerava.


Eu era ótimo em identificar mentirosos.


Até mesmo os que acreditavam na sua própria mentira.


E la vinha mais uma mentira.


Eu estava em uma semana de bastante trabalho.


Sentia uma ansiedade novamente forte como não sentia em muito tempo.


Também era mês de dezembro, um mês chato e que me incomodava todos os anos.


Dezembro as pessoas se colocam em uma posição onde não existem energias ruins.


Todo tom de falsidade e sorrisos, que nem mesmo um abraço no seu inimigo ao lado é um problema.


Tirando os religiosos e as crianças, o resto esta vestindo as roupas de um mentiroso por um tempo.


Mas não vim aqui ser o estraga vibe de natal.


Naquela manhã, após ouvir da Maeve que ela estava muito orgulhosa de eu ter voltado a produzir como nos velhos tempos, ela me pedia para descansar.


Eu estava me sentindo estafado e devido à ansiedade latente, eu parecia não perceber que estava perto de um colapso.


Mas ela percebeu.


E como minha agente de tantos anos, me obrigou a parar uns dias.


Agradeci e resolvi apenas finalizar meus emails para então tentar descansar minha mente.


E la estava um email que me tirava um sorriso sem ao menos ser aberto.

Assunto: Ao rei canguru que declinou do seu trono.


E eu já sabia que era um email da minha Aussie girl.


O email começava com sua última mensagem depois da nossa despedida.


“Você nunca vai encontrar a mesma pessoa duas vezes, nem mesmo na mesma pessoa…

Não sinto sua falta, mas espero que você esteja bem.

Lembrei de você lendo seus últimos contos que se tornaram bastante popular aqui na Austrália depois que você escreveu sobre uma musa australiana.

Aqui, aparentemente te deram o título de rei dos cangurus, mesmo sem você ter desafiado um canguru macho alfa de uma trupe.

Ouvi uma espécie de história feita em podcast, como um audiobook, que parece ter o espirito da sua escrita.

Te indicar parecia ser o certo a se fazer.

Espero que aproveite e lembre de mim de alguma forma.

Hooroo”

Ela se despedia com seu tradicional tchau australiano e deixava um link para a história que ela citava na mensagem.

Eu podia reconhecer todas as palavras que ela escolheu a dedo para encobrir seu real interesse em me mandar a mensagem.

Meu cérebro funcionava assim, sempre lendo nas entrelinhas esses movimentos sobre uma pessoa que estava sendo verdadeira ou não.

Ela já começava o texto brincando com uma pequena mentira, “não sinto sua falta”, exatamente como foi a mentira da nossa despedida, “não iremos nos falar mais” e dias depois eu recebia uma mensagem.

Existe mentiras que você cria para um jogo social e existe mentiras que vão moldando seu caráter.

As mentiras que moldam seu caráter são as que vão te definir para o futuro, não importa se você tem um sorriso bonito e engana dois ou três.

Com o tempo alguém vai te ler, assim como eu tenho bastante facilidade com essa leitura e seu personagem será jogado no limbo.

E não pense que você vai ficar sozinho.

Esse é o maior engano e a ameaça mais errada que as pessoas fazem a um mentiroso.

Vão ficar do seu lado pessoas que irão usar sua fraqueza para proveito próprio.

Quando você perceber, sua vida já vai ter sido direcionada por um monte de mentirosos feito você foi.

Mas quem sou eu para falar mal de mentiras aqui.

Eu vejo a mentira como uma arte.

Estudei não só para escrever mentiras, como nos meus tempos de investigador particular com John, famoso Kozlowski naquela época, fizemos cursos de psicologia criminal para ajudar nos nossos casos.

Bem verdade que toda essa especialização me ajudou mais a ler um mentiroso do que a procurar uma amante de algum marido infiel que era o padrão dos nossos clientes na época.

Mais aprendemos bastante, principalmente a identificar mudanças na postura corpora e ver aspectos que a mentira se mostrava na pessoal, como mudanças no tom de voz, respiração e recursos linguísticos.

Resolvi então tomar um banho quente e coloquei aquela serie que tinha vários episódios para tocar.

E parece que fui engolido para outra dimensão.

Eu comecei a comer aquilo dia e noite.

Era uma rede de mentiras e reviravoltas que me deixavam excitados e me traziam vários sentimentos diferentes.

Uma das personagens principais tinha uma voz que me lembrava de uma personagem que eu tinha uma paixão platônica quando era adolescente.

E aquilo me dava uma sensação que me prendia mais ainda.

Por alguns dias eu criei a rotina para continuar ouvindo aquela historia.

Que era dividido em 4 momentos do dia.

Fazer uma caminhada de manhã.

Tomar um longo banho quente.

Fazer alguma receita para uma refeição.

E quando fosse dormir deixar tocar.

Essa ultima era a mais doida.

No dia seguinte eu voltava da onde minha memória me dizia que eu podia ter ouvido antes de dormir.

Mas aquela historia continuava enquanto eu dormia, e como por osmose influenciava nos meus sonhos.

E eu estava fascinado pelo mundo que estava de frente.

A história era atraente, os personagens te prendiam e faziam você se importa, além da forma de se comunicar e contar uma história que para mim era completamente nova.

Não existe uma forma de se comunicar absoluta, existe é a comunicação.

Depois de morar fora, convivendo com outra língua, você percebe que se comunicar é o que importa e não como.

Aqui você pode se limitar.

Quando não se abre para esse mundo enorme de formas de se comunicar.

De linguagens, de culturas e de pessoas.

Algumas pessoas percebem que suas mentiras só funcionam em um grupo, então se fecham neles e se sentem desconfortáveis em outros grupos.

Até nisso a mentira tem um padrão.

Eu ainda não terminei a história.

Já me peguei sendo enganado algumas vezes na história, e resolvi escrever antes de qualquer frustração de um capítulo final da obra.

Capítulos finais são o problema de qualquer história, então a preparação é sempre bem-vinda.

Deve ser por isso que não gosto de finais nos meus contos.

Sempre deixo em aberto, até mesmo porque na arte da mentira o ideal é deixar que a pessoa que esta sendo enganada complete algumas lacunas.

E aí você consegue criar uma mentira perfeita.

É fácil.

Faça o teste do vigário.

Coloque uma roupa bonita, faça seu passo a passo normal como se fosse sair, sorria em frente ao espelho e pergunte em voz alta.

Qual é a mentira perfeita?

Sua resposta virá.

sábado, 23 de novembro de 2024

Um longo dia das bruxas

 




Memorias afetivas eram um problema que eu tinha.

Fosse elas positivas ou negativas.


Não gostava de ser teletransportado para o passado.


O passado era algo que eu tentava manter enterrado.


Parecia ser a minha fase mais saudável, depois que decidi parar de remoer coisas que já tinham acontecido.

Mas sei la, o passado sempre dava um jeito de sorrir para mim e isso me dava uma pequena desestabilizada.


Porem, nada de mais também.


Vigário não tinha deixado de ser uma rocha para uma folha de isopor da noite para o dia.

Eu tenho dois exemplos clássicos, que mostram como memorias afetivas me pegam de verdade.


Lembro até hoje do cheiro da menina do meu primeiro beijo.


E não tem romantismo nisso.

Eu mal lembro da menina em si, apenas do perfume.


Se esse cheiro aparece em algum lugar que eu esteja, eu sou levado para sensações daquele momento.


E isso me deixa maluco.

Porque sinto que até meu espirito se molda aquela memoria.


Me sinto um adolescente novamente, mesmo no auge dos meus 30 e poucos anos.


O cheiro é muito bom, tenho que admitir, mas não saberia descrever.


Meu segundo grande problema com memória afetiva é em relação à sensação de câmera lenta.


Esse me dá uns gatilhos mais perigosos.


Eu não sei que tipo de trauma que eu carrego em relação a essa sensação.


Mas hoje em dia, se paro para ouvir alguém muito calmo, com tranquilidade na fala, eu começo uma mini crise de ansiedade


Volta aquela sensação como se todo meu mundo estivesse em câmera lenta, e eu só quero sair de la e não consigo.


Eu refletia sobre essas memórias tomando um vinho na janela enquanto assistia nevar la fora.


Pessoas fantasiadas lotavam a cidade, já que era noite de Halloween.


Para um cara que odiava o clima natalino como eu, a temporada de dia das bruxas era um respiro.


Faith aparecia na minha porta com um sorriso no rosto que era fácil de identificar o porquê.


O sorriso que anunciava o caos.


- Temos visita - Ela anunciava.


E antes de qualquer outra palavra, la estava ao seu lado, o caos antes anunciado por sinais.


A Gato preto, A ladra de corações.


Com aquela aura de liberdade que dominava o ambiente que ela chegava, vinha com um convite já aceito anteriormente por Faith.


- Nos vamos para uma festa de Halloween agora, se arrume. - Falava jogando uma sacola com uma fantasia na minha direção.

Aquilo parecia uma piada de mau gosto.


A gato preto estava em uma temporada na Irlanda, descansando antes de voltar para o mundo.


A vitima do momento que ela tentava roubar o coração, era eu.


Em minutos, Faith já estava vestida de diaba e a Gato negro com uma fantasia de cigana.


Cigana também era um dos apelidos que eu gostava de chama la, pois roubava um coração e ia para a próxima cidade.


Minha fantasia era de vampiro, bem simples.


Elas sabiam e já tinham planejado isso anteriormente, que se fosse algo muito chamativo, eu não iria.


Pois bem, la estava eu em uma experiência social que eu, por livre espontânea vontade, jamais optaria por fazer.


Eu sempre soube ler as expressões de Faith, e algo na falta de informação dela sobre a festa e algumas linhas faciais me diziam que eu teria problema.


No meio do caminho fui sendo informado lentamente sobre a festa e minha paz de espírito foi se despedindo.


John e a turca do ácido já estavam la a minha espera, com um convidado especial.


Latini.


Não existe pessoa melhor para ser o caos encarnado.


A festa era de um desconhecido, que estava muito feliz em me receber, mesmo eu não sabendo da festa até então.


E em algum momento Faith me avisava que a festa era um pouco além do que eu podia esperar, ainda falando que eu iria me sentir em um labirinto.


Dei de ombro com aquelas informações codificadas, que não faziam sentido até então.


Chegando na festa, a porta se abria e aquela noite já começava a se mostrar com o potencial que teria.


Na recepção, a Francesa com sua roupa de unicórnio de sempre, nos recebia com um grande sorriso e um abraço longo.


Eu não a via fazia um bom tempo e tirando que ela era insana, eu sempre me dei muito bem com ela.


Ao lado dela, o dono da casa, que parecia emocionado com minha presença enquanto eu o cumprimentava constrangido.


Odiava essa vibe popular que me seguia devido à minha carreira, mas eu sempre soube disfarçar bem para não ser um babaca.


O dono da casa apertava minha mão de uma forma nervosa, sem largar e meio que suando.


Ele realmente parecia estar nervoso na sua fantasia de pirata tão genérica quanto a minha de vampiro.


Um beijo no pescoço me tirava daquela situação constrangedora e me colocava em outra.


Memorias.


Sempre elas, e mesmo que não fizesse sentido, eu reconhecia aquele gesto.


La estava ela, a Guitarrista.


- Segunda vez no ano que nos encontramos, já podemos casar. - Ela se divertia.


Sua fantasia era uma espécie de menina punk inglesa.


Enquanto ela me abraçava, apontava para uma direção que mesmo com minha miopia,eu conseguia identificar aquela imagem.


O Rockstar, vestido de rockstar mesmo e parecia que ninguém o reconhecia.


E Latini, vestido de Diabo, para desespero de Faith.

Latini vinha me abraçar já com seu astral afetado, e por toda sua fantasia ser vermelha, foi bem fácil de identificar os pontos brancos que me diziam que ele já tinha começado sua festinha.


A Gato negro me pegou por um braço e Faith pelo outro e me levaram para dentro da festa, porque diziam que tinham mais pessoas esperando por mim.


Identifiquei Ari, Elliot e John de costas em um grupo grande de pessoas.


Ari estava de imperador romano, com muito ouro de verdade na sua fantasia, e ele estava acompanhado de uma modelo eslovaca que se vestia de alguma divindade.


Era difícil de explicar toda aquela beleza.


- É Faith, parece que o inferno não vai se criar aqui hoje - Eu soltava meus comentários idiotas, que eram automaticamente seguidos de um socão de Faith no meu ombro sofrido.

Essa coisa mal resolvida de Faith e Ari estava sempre no ar.

Elliot estava vestido de algum personagem de anime, que eu não iria reconhecer, com sua namorada, a cigana romena do Circo.

Depois daquele primeiro encontro, eles conseguiram se reencontrar e começaram um relacionamento.

John e a Turca do ácido estavam vestidos como hippies do Woodstock.

- Você precisa ver a terceira hippie dessa festa - Dizia a Turca, puxando um braço.

Eis que me aparece a reencarnação da Janis Joplin, vestida como a própria.


E enquanto eu ainda tentava recuperar o folego, uma mulher vestida de cupido pulava em cima de mim e outra duas vinham sorridente ao meu encontro.


Maeve, a Loba de Wall Street e a Maria Madalena de Hollywood também estavam la.

A loba se vestia de bruxa.


Maria Madalena, parecia estar exatamente como seu personagem era no seu filme de sucesso.


Maeve na sua versão cupido, parecia uma piada bem pensada, se pensarmos no nosso passado.


No canto, a minha vizinha estava vestida de gêmeas do filme Iluminado.


Aquela também parecia ser uma fantasia pensada, nesse caso como uma homenagem a sua irmã.


Ela fez um sinal meio seco de longe, mais por educação do que por vontade.


Desde minha volta, o clima nunca mais foi o mesmo entre a gente.


Aquela festa era uma overdose de informação.


Para onde eu olhasse, eu via conhecidos e tambem via problemas.


Sempre que me sentia desconfortável, olhava em volta e estava sendo encarado por alguém.

E um momento, senti essa sensação e quando olhei, na minha direita me encarava a doce pecado e na minha esquerda me encarava a menina da neve.


Aquilo parecia um pesadelo.


Ali caiu minha ficha sobre o labirinto que Faith falou no caminho para a festa.


Meus três minotauros se reuniram no mesmo lugar e eu não tinha nem uma fantasia decente que me escondesse.


Tive meu momento de atenção com todas, mesmo que de forma rápida, pois sentia que tinha uma competição no ar.


Faith era meu porto seguro.


Ela também parecia estar meio desconfortável.


Não era normal Ari aparecer acompanhando em algum lugar que Faith estivesse, então aquilo parecia ser um sinal de um relacionamento mais serio.


A guitarrista se aproximou de nos dois e disse que estávamos com um semblante de desconforto e que a Turca tinha mandado entregar algo para a gente.


A Turca iria honrar seu nome até o final, e o presente dela nada mais era do que um acido para mim e Faith.


Enquanto a guitarrista cortava em 4 pedaços, Maeve,minha cupido aparecia sorrindo e pegando um pedaço para ela. 


Colocava outro na minha língua e um na língua de Faith, enquanto a guitarrista tomava o último como um pacto.


Aquilo parecia ser muito necessário naquela situação.


Acho que depois de um tempo eu e Faith desencanamos.


A festa estava uma loucura.


A maioria das pessoas estavam insanas.


Latini e o Rockstar cheiravam cocaína nos peitos de algumas mulheres que nunca tinha visto.


De longe, Latini abria um sorriso e me convidava a participar.


Prontamente, eu movia minha cabeça negativamente para ele.


- Não trouxe seu casaco de novo para a trilha Vigário? - A guitarrista me questionava gargalhando.


Essa era sempre minha resposta para fugir da cocaína.

Eu achava cocaína uma das vibes mais baixo astral que existia, e não tinha nenhum interesse de ir para esses lados.


Elliot e a cigana estavam em clima de romance total, e eu estava orgulhoso de ver o que Elliot tinha se transformado.


Ari e a super modelo, estavam bem reservados aproveitando a festa de forma tranquila.


Minha vizinha pareceu abandonar a festa, logo depois que minha presença não foi mais suportável para ela.


Maria Madalena, a Loba e Janis estavam se divertindo juntas como nunca.


- Vigário, hoje nos temos uma surpresa para você depois da festa. - As três falavam com planos diabólicos.

A Gato preto passava mal no banheiro enquanto, como uma ironia do destino, a Menina da neve segurava seu cabelo.


Meu Doce pecado falou por um tempo comigo, mas disse que não se sentia bem e também abandonou a festa mais cedo do que o esperado.


Era muitas pessoas para dar atenção, ou para tentar ignorar com carinho.


O anfitrião também aparecia do nada, com seu sorriso nervoso e uma piada sem graça para puxar assunto.


Nessas horas minha fantasia podia ter o modo morcego e me tirar dali voando.


Mas eu sorria sem graça tentando ser o menos babaca possível.


Aquele Halloween parecia uma sexta-feira 13.


Em algum momento aquele acido especial da Turca, bateu.


E fui levado para uma dimensão mais confortável.


Já andava pela festa mais seguro.


Indo ao banheiro senti aquela sensação, que pensava sobre no início da noite.


Aquele perfume, que era minha maior memória afetiva.


- Seria muito absurdo eu te pedir um autógrafo? - Uma mulher vestida de Cleópatra me perguntava meio sem jeito.

- Não tenho papel, nem caneta e nem acho que conseguiria escrever algo nessa altura do campeonato - Eu respondia sem nenhuma improvisação na desculpa.

Enquanto ela sorria, dizendo que também não tinha e como um raio, me beijava sem cerimônia.

Para mim, pareceu um beijo demorado, e tenho que admitir que estava curtindo.

Porque mesmo sem ter ideia de quem era aquela Cleópatra, eu estava sentindo aquele momento novamente, do meu primeiro beijo.

E pensar isso, me soava idiota e, ao mesmo tempo, engraçado.

Da mesma forma que me beijou sem muita fala, saiu com um sorriso.

A guitarrista veio ao meu encontro e se divertia com aquela cena.

Botou mais alguma coisa na minha língua e falou que dali em diante, eu era responsabilidade dela.

E dai em diante, só tenho flashes.

O meu teor alcoólico com a guitarrista aumentou consideravelmente, já que a gente sempre que se via, se jogava na tequila.


E claro, ela estava me colocando aditivos.


A música soava diferente.


Me relaxava.


Eu sempre estava com alguma das meninas na minha volta, e a guitarrista sempre do lado.


Foi uma noite interessante.


Mas perdi o controle como não fazia há tempos.


O meu Halloween parecia interminável.


Essa foi a primeira coisa que veio na minha cabeça, quando senti aquela secura na boca.


A cabeça ainda rodava e senti meu corpo meio sem espaço.


Eu conhecia aquela sensação.


A parte da secura e a cabeça rodando não era tão preocupante.


Mas a falta de espaço sim.


Tinha dormido com alguém.


Respirei fundo e resolvi encarar aquela situação.


Minhas apostas eram a guitarrista.


Mas parece que eu teria que começar uma investigação para entender aquilo.


Minhas primeiras imagens foram ver roupas espalhadas pelo quarto.


Na cama ao meu lado, estavam Faith e minha vizinha.


Eu não dormia com Faith e estava morto para a minha vizinha.


Ela, por sinal, tinha ido embora cedo da festa.


Aquela não era minha cama, mas eu reconhecia o quarto.


E isso só piorava a história.

Eu estava no apartamento de cima do meu, logo, na cama da vizinha.


Antes que eu conseguisse reagir e correr daquela situação, as duas abriram os olhos com o mesmo tom de surpresa no ar.


Parece que o dia das bruxas iria se arrastar por um tempo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

O último amor é sempre o mais forte

 



Eu podia analisar vários dos meus relacionamentos.

Ficaria aqui falando por horas.

Fiz esse exercício mental no banho.


Acho que queria encontrar o amor perdido em um dos antigos.


Ou mesmo tentar entender o perfil do relacionamento do futuro.


A Bailarina era bem blasé, mas nesse sentido de amores, já tivemos uma conversa.


E ela era taxativa.


Seu maior amor será sempre o atual, ou seja, o último.


Se não for assim, você esta fazendo algo errado.


Quando a imagem do seu relacionamento for diferente disso, você já sabe que começou um relacionamento da forma errada.


Talvez devido a uma decepção amorosa e o desespero em se demostrar superior.


Carência pode ser o motivo.


Ou simplesmente você foi viver o momento e se equivocou.


Quem nunca?

Viver o momento é um dos meus maiores pecados.


Isso pode trazer grandes paixões, facilmente confundidas com amores.


Naquela conversa, a bailarina tinha de fundo aquela cantora que ela sempre ouvia, da voz adocicada e quase infantil, com seu piano ditando as batidas da música.


Eu não conseguia desassociar meus pensamentos e memorias sobre aquilo sem seguir esse ritmo e aquela voz na minha cabeça.


Imagino que ela falava de amor.


Talvez ate mesmo de decepção.


Eu conseguia sentir uma tristeza escondida na sua voz.


Às vezes tenho saudade dos meus impulsos.


Até mesmo saudades dos impulsos ignorados.

Você ama até não amar mais.


Parece injusto, mas é a maior justiça que existe.


Difícil seria continuar amando sem amor.


E assim, como aquela música de palavras doces que sempre acompanhavam a Bailarina, o amor tem dessa melodia.


Recentemente eu uso fones de ouvidos com outras melodias o mais alto possível para não ouvir esse tipo de canção.

Os corações que você tocar, serão marcados para sempre.


A bailarina com certeza não era meu maior amor, estava bem longe na real.


Mas ela foi uma experiência boa.


A melhor parte do caminho são as experiências e não o destino a ser alcançado.


A carga disso, poucos conseguem lidar de forma madura.


E por isso de tantos relacionamentos fracassados.


Eu tive relacionamentos de meses que me colocaram no monte Olimpo e relacionamentos de anos que me levaram direto para o inferno de Hades.


Uns me ensinaram sentimentos nobres, outros me envenenaram um pouco mais para o próximo.


Eu to longe de ser um especialista do amor.


Garrafas vazias e cura de ressaca era mais minha especialidade.


Eu sempre fui do tipo que tem várias paixões e aí minha inabilidade com o amor.


Paixão queima de uma forma, que vira sua cabeça do averso e dai só muita prática para não se deixar ser enganado.


O efeito era como de uma droga, que te dava o êxtase e depois te trazia de volta a realidade.


O amor estava mais para o alcoolismo.


Se você se desconecta da pessoa de uma hora para outra, nunca foi amor.


Só paixão.


Não importa quanto tempo durou, a dosagem da droga só foi maior.


E com isso muito mais danos.


Sorria no alto do penhasco.


Assim será sua vida até o próximo amor.


O que promete ser o maior de todos.


Recuse se a voltar para amores antigos.


Eles vem envenenados.


Com uma carga enorme de ansiedade e pressão para um resultado diferente.


Depois que duas almas se afastam, é um caminho sem volta.


Por isso que o mundo tem bilhões de pessoas.


Para assistir você cometer novos erros.


E não repetir os mesmos, como um jovem triste e sem perspectiva.


Um pé na bunda pode ser o impulso que você precisa para fazer diferente.


Para mudar sua visão de mundo.


A carga emocional é grande, mas vale a pena.


Eu já fui um viciado nesses sentimentos.


Viciado no sentimento de término, de paixão e mesmo de amores sinceros.


Bons tempos que eu tinha saúde mental para isso.


Tesão não se aplica aqui.


Não seja um adolescente tardio e confunda tudo que foi dito com hormônios.


Sexo de amigos ou algum desafio pessoal para alimentar o ego.


Nesse texto existe alguns dos princípios básicos da complexidade de um amor ou não amor.


Esqueça seu orgulho.


Não só no amor, mas como na vida adulta no geral, o orgulho não cabe mais.


Você já deveria ter aprendido isso.


Se afaste de tudo que te limite e você conseguirá sentir realmente o sentimento.


Mas nunca se esqueça, corações curiosos sofrem as maiores quedas.


Depois de alguns relacionamentos que considero saudáveis e outros fracassados, consigo ver algum sentido na tese da Bailarina.


Meu último amor era de longe o mais forte, e o amor do momento era eu mesmo.