Refletindo sobre o Vigário do passado, ou como Latini gosta de dizer, o Vigário do antigo testamento.
Fiquei analisando minha vida até aqui, para quem sabe, em uma oportunidade de encontro com o meu eu do passado, eu possa evitar os mesmo erros.
Preciso mostrar a ele, que só resmungar das pedras no caminho que eu mesmo coloquei, vai só envenenar a vida dele, logo a minha.
Que essas pedras, são cascalhos e entulhos de muros que destruí por minhas próprias escolhas.
Escolhas erradas ou afobadas.
Ou simplesmente que me levaram para fora do foco do que eu queria para a minha vida.
E escolhas erradas nos não lamentamos.
A vida não tem tempo para isso, você vai atrás da correção de rumo.
Não me jogue esse olhar de quem está lendo um coach da felicidade.
Me respeite, aqui é só algo sobre conhecer as próprias falhas e tentar lidar com elas da melhor maneira possível.
Tem uma teoria, sobre a vida da minhoca, que se aplica aqui.
A minhoca fica debaixo da terra, onde é seu lar, super agradável.
Por ela, ficaria la toda sua existência.
Mas sempre tem algo externo que vai afetar sua vida.
Com a minhoca não é diferente.
Então quando chove, encharca e afeta a respiração delas.
Não é mais confortável ficar ali.
Ela precisa sair e encarar o mundo para poder respirar, mesmo que temporariamente.
Para conseguir achar uma área de conforto novamente.
Às vezes para munda sua vida em definitivo.
Mas o mundo la fora é perigoso.
Se você não abre sua cabeça, não se prepara, vai ser engolido.
Então é algo muito comum acontecer, o chamado suicídio de minhoca.
Elas saem daquele mundinho confortável e reduzido e dão de cara com o calor do verão no mundo la fora.
Morrem secas.
O mundo engole elas.
Esse, normalmente, é o padrão.
Mas o que fazer em uma situação como essa?
Fica vivendo desconfortável?
Sem ar para respirar?
Ou arriscar é achar o que vai alimentar sua alma mais uma vez?
Antes de mergulhar no mundo, eu li sobre o suicido de minhoca.
Preciso ser honesto, isso sempre me assombrou.
Me congelava, impossibilitando qualquer movimento mais brusco.
Mas, ao mesmo tempo, a falta de ar me matava aos poucos.
O só sobreviver já não era mais suficiente.
E nessa trajetória, você vê o mundo continuando.
O que é realmente incrível e te pega de surpresa.
Pois inconscientemente, seu cérebro te dá uma sensação de que o mundo parou, e vai esperar por você.
Erro crasso.
A vida não vai esperar por você meu amigo.
Não mesmo.
A terra não vai parar seu movimento de translação e rotação por você.
Essa sensação é só um conto de fadas entranhado na sua cabeça.
Às vezes a ignorância é uma benção, e o final da minhoca, é um caminho mais digno.
Você vai precisar entender se essa grandeza atual de escolhas será uma dádiva ou uma maldição.
Não será um deus pagão que dirá isso para você, serão suas escolhas.
Minha mente no momento flutua entre uma paz absoluta e um caos insano.
Eu estou no início do calor confortável de um incêndio na minha casa.
Flerto com dias que pareço me aproximar do nirvana, e em outros que pareço estar escrevendo um diário de um homem louco.
Vejo luto ao meu redor o tempo todo.
Me vejo olhando o horizonte com aquele tremor na pálpebra que parece anunciar um colapso.
Mas como?
Se meu estado se aproxima da paz mais leve que já me aproximei na vida.
Por alguns segundos consigo esvaziar minha cabeça e entrar em um comodo silencioso.
São segundos até meu cérebro voltar com aquela carga de ansiedade acumulada, mas parece uma eternidade quando consigo acessar esse lugar.
Eu sempre fui alguém que caminhou sozinho.
Não é um orgulho, muito menos uma reclamação.
Só uma constatação.
Que comecei a pensar sobre, já que as pessoas a minha volta não parecem entender isso.
Eu não decidi fugir do mundo, eu decidi viver.
A ásia tem sido uma experiência surreal.
Nunca pensei que o mundo seria tão diferente na superfície.
Tenho que me policiar para não ficar deslumbrado, com os olhos brilhando enquanto esqueço que o sol pode me secar e acabar com meu sonho.
Assim como as minhocas.
E por mais que o fator da racionalidade seja um diferencial do ser humano, é realmente muito fácil se aplicar ao quão pequeno somos no universo, quando nos vemos em uma situação igual a de um ser tão minusculo perante nos.
Metáforas, ainda que metáforas, te dão a dimensão do mundo.
Na minha busca de uma forma diferente de ver o mundo, pareço estar bem afastado do Vigário que vocês conheceram.
Trocando a vida mundana, por tardes ensolaradas em templos hindus.
Álcool por água de coco.
Nesse meu sabático,dei ferias para os meus demônios.
Pelo menos por enquanto.
Ari já quis me encontrar, e eu neguei o convite.
Ele está chateado com minha negativa.
Disse que ficar solitário em Bali é um pecado.
Faith também já se colocou à disposição para passar uns dias comigo.
Que neguei educadamente.
Mas ela é muito mais sagaz que Ari.
Ela me entende só no meu tom de voz.
E numa chamada de vídeo, ouvindo me falar de como estava sendo minha experiência, com aquele lagarto barulhento de fundo, que você só encontra em Bali, ela entendeu que eu precisava desse tempo sozinho.
Mas ainda, sim, me ligava a cada 2 dias, não mais que isso.
Ela sempre entendeu que meu espaço não se confunde com solidão.
- Ok, mais 1 mês se descobrindo e eu te encontro no país que você estiver para passar uns dias com você.
Nem na nossa adolescência a gente tem tanto tempo assim para se descobrir - Dizia ela sorrindo e se impondo.
Eu não tinha muita escolha, já que esse foi o combinado desde o início quando ela me apoiou a me jogar pelo mundo, e virou a mãe temporária da minha gata Filé de peixe.
Eu gostava da companhia de Faith.
Com ela não me sentia pressionado e era alguém que estava sempre tentando diminuir o ritmo acelerado do dia a dia.
E tem essa coisa, de que eu precisava me adaptar novamente a ideia de que o mundo não parava.
Meus amigos ainda faziam parte da minha vida e eu nunca tive a intenção de dar as costas para isso.
Tem momentos que eu paro e me pego pensando se o que eu estou fazendo faz sentido.
Já que a minha vida também não parou.
Posso estar mudando ela agora ou apenas atrasando meus passos para um futuro que não consigo imaginar qual é.
Meus momentos trancados não são mais constantes como eram.
Minha reclusão tem sido mais mental.
Porque a vida não tolera mais que eu jogue minha vida fora.
A vida não vai esperar eu querer viver.
Vai me enterrar antes de eu perceber a beleza do que é o arriscar.
As cegas, como um salto de fé.
Então decidi sair para respirar e parar de me lamentar que estou sem ar.
E parece ter sido a melhor decisão da minha vida.
Se deixar ser soterrado pelos problemas era um padrão que eu seguia.
Minha desculpa era a dificuldade da vida e acumulo dos problemas.
Aquela bola de neve não parava e eu fugia da realidade com minhas drogas, como o álcool e relacionamentos tóxicos por opção.
Até por negligência a gente escolhe os rumos que a nossa vida vai seguir.
Então optei por não me omitir mais.
Não foi fácil e nem está sendo, mas a mudança de postura já é o diferencial.
Me olhar no espelho e me lamentar de como a minha vida está sendo injusta comigo, não é uma cena mais aceita.
E não tem nada de otimismo nessa forma de lidar, continua tanto difícil quanto.
Mas a minha postura para lidar com o que vem pela frente tem o ideal de ser mais amplo e pensado como eu sempre quis que fosse.
Eu sempre me orgulhei de boas construções de personagens e suas histórias, não fazia sentido não fazer isso com a minha própria
Se eu morrer amanha, pelo menos percebi a beleza novamente nas imperfeições e decidi viver nelas.