domingo, 8 de fevereiro de 2015

O terror da Fada verde





Nem só de contos e porres foi construída minha carreira como escritor.

Uma época da minha vida, eu era um escritor de um jornal local.

Onde fazia matérias sobre ocultismo, assassinatos e coisas desse tipo que o povo quer consumir.

No começo simplesmente só montava as notas.

Com o tempo precisava de adrenalina, a velha droga.

Era começo de carreira, logo assim que terminei a faculdade e abandonei minha vida de bancário.

Não tinha o paladar pelas bebidas ainda, não era algo que me seduzia.

Me deliciava com o antigo companheiro de guerra, o cigarro de filtro vermelho.

Duas carteiras por dia e as vezes curtia umas droguinhas leves, como o ecstasy  e o bom e velho LSD.

O dinheiro era bom.

O trabalho era monótono e quando o tédio se aproximava, eu fazia a parte de investigação sobre alguns casos dos quais eu escrevia as notas.

 As matérias de ocultismo eram ótimas para meu eu interior, por que me colocava em uma situação de questionamento.
Sou um velho rabugento que flerta com o ateísmo no sentido desse deus único que todos clamam.
 
Ao mesmo tempo, sempre tive como lema errar por muito, então acho confortável a ideia de ter várias referências superiores, uma espécie de politeísta não praticante.

Já fiz matérias desde casas assombradas por entidades malignas a ressurreição de pessoas.

Lógico que em 99% dos casos era belos blefes de algum religioso para ganhar mídia, mas o povo amava ser iludido.

Porém o que mais me motivava no jornal, eram as investigações de seriais killers, que parecia ter virado moda naquela época.

Aparecia de todos os tipos, mas um em especial me chamou atenção, “a Fada verde”.

Um assassino que perseguia meninas entre 18 a 30 anos, abusava delas, e depois esfaqueava as moças com três movimentos.

Uma facada em cada lado do corpo na altura dos rins e um corte no pescoço daqueles para descer todo o vermelho e viscoso melado.

O fato curioso é que o vermelho do sangue tinha um tom esverdeado.

E depois da segunda mulher morta, se descobriu que o assassino colocava uma dose de absinto na boca das vítimas, e aí a bebida se misturava ao sangue.

Tive a brilhante ideia de dar o nome ao serial de Fada verde.

Em referência a bebida famosa e tão apreciada por vários nomes da história, como Edgar Allan Poe, Aleister Crowley e Van Gogh.

Esse último, que depois de algumas doses, cortou sua orelha no meio da alucinação criada pela querida fada.

Assim que minha nota saiu com o apelido carinhoso, a cidade adotou de forma absurda.

Um terror rondava a cidade e o assassino parecendo motivado com o reconhecimento, começou a matar com mais frequência.

Todas as vítimas eram mulheres lindas, não seguiam um padrão de beleza, já havia vítimas loira, ruiva, negra e até oriental.

A Fada parecia devorar qualquer ser do sexo feminino e eu ficava sentado na minha mesa tentando traçar um perfil, enquanto já dava a oitava nota de morte.

Os detalhes desse caso dariam um livro e em um conto ficaria difícil narrar.

Mas aquele serial me prendeu atenção por algum tempo.

Eu tentava entender seus motivos.

Se era uma revolta particular, alguma espécie de desgosto provocado por uma bela mulher ou simplesmente uma doença mental.

Mas ele era perfeccionista nos seus crimes e preocupado com não deixar vestígios.

Talvez em uma cidade mais moderna com um sistema de investigação melhor na polícia ajudasse, mas a falta de verba ali era gritante.

Eu como um “jornalista”, termo que odiava, teria menos recursos ainda, mas queria resolver esse caso, era algo pessoal.

Tinha sido abandonado a pouco tempo pelo grande amor da minha vida.

Ela vivia por ai em crise de depressão, e eu achava que aquela beleza pudesse vir a correr risco.

E isso me deixava inquieto e temeroso.

Não sabia por onde ela andava.

Não tinha notícias, mas não queria encontra lá em uma cena de crime deitada sobre seu sangue.

Fazia minha terapia de concentração para caçar algum erro.

Que compreendia em ficar horas fumando meus cigarros e deixando o efeito do LSD correr pelo meu cérebro.

Minhas pupilas dilatavam em busca de qualquer brecha.

Minha cabeça trabalhava a mil.

Ficava horas jogado a todos aqueles detalhes que vinha recolhendo de todas as mortes.

Tinha a ajuda de um grande amigo do campus da faculdade, estudante de direito e que trabalhava como investigador.

Mas desses sem glamour, que são contratados por maridos traídos para trazer as belas notícias.

Naquela época, John só era chamado por Kozlowski, seu nome fictício e profissional.

Assim como eu era conhecido apenas pelo meu apelido de Vigário.

Depois de alguns meses de pesquisa, não havia nenhuma pista concreta nem por parte da polícia e muito menos por parte da grande dupla.

Misteriosamente os assassinatos cessaram publicamente.

A população perdeu o interesse por aquela história e talvez a Fada estivesse em um tempo sabático ou simplesmente estava em uma fase mais reservada.

Queríamos continuar as investigações.

Porem eu era pressionado na redação por um novo caso de uma casa que chorava sangue.

Kozlowski estava na cola da mulher do Governador, que aparentemente estava curtindo um relacionamento mais animado com o garçom de um bar aonde por coincidência tomava meu pingado.

Nós éramos a escória de nossas profissões.

Os níveis mais baixos.

Mas nessa época o mundo era cruel.

Tínhamos que viver como na selva, e nós estávamos pagando as contas pelo menos.

Já a Fada voltaria a aparecer.

E eu estaria mais preparado, já que não bebia mais pingado pela manhã.

Troquei por algo com mais sustância, como uma bela dose de rum.

Os cigarros foram substituídos pelo fiel charuto do tio Fidel.

O que me deixava com um ar melhor para encarar um assassino sedento por sangue e mulheres lindas.

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