segunda-feira, 20 de março de 2017

O famoso Latini






Lembro do dia que estava sentado na varanda de casa lendo um jornal.

Quando me deparei com uma notícia sobre “o exemplar Deputado Estevam Latini, o político que briga sozinho pela família tradicional e os fundamentos do cristianismo no cenário político atual... ”

- Que merda é essa que estou lendo? Latini? – Falei sozinho incrédulo

O filho da puta mais mundano que existe, além de ser um dos ateus de maior convicção que conheço.

Continuei lendo a matéria e vi o quanto Latini veio aprimorando seu discurso político se apoiando em falácias, usando da ignorância dos religiosos e usando temas que assustavam a famosa e arcaica estrutura da prepotente família tradicional.

Após se formar em Jornalismo comigo e Ari, Latini virou radialista.

Começou tímido, porem sempre foi uma ave de rapina, com ótima visão e caçador por natureza.

Para ir se posicionando, usou do prestígio do Brasão de sua família, conhecida por ser uma das maiores responsáveis pelas mercadorias que chegavam no Porto do Estado.

Lógico que vindo dessa família sempre tinha o lado oculto.

E esse lado era que a família Latini era responsável por maior parte do contrabando que entrava no porto por mais de um século.

Além disso, usava do seu programa de rádio para inflamar setores específicos, do qual percebeu que comprariam seu discurso mais facilmente.

E foi aí que montou seu maior pilar politicamente falando, o apoio religioso.

Devido ao prestígio de sua família de anos com comércio, conseguiu apoio de gigantes no setor em sua campanha. 

E com seu discurso que mais parecia um convite para uma nova cruzada, se elegeu na primeira eleição sendo o mais votado do Estado como Deputado.

Lembro do dia da eleição, que ele pessoalmente veio à minha casa me levar para votar.

- Não vou votar em você – afirmei sem cerimônia.

- Vigário, sempre ranzinza. Por acaso você tem uma opção melhor? – Ele perguntou sorrindo

- Sim, nulo. Não quero me sentir responsável de ter te colocado la.

- Não tem problema amigo, pelo que diz meu comitê, nem Jesus convenceria tanto hoje em dia. - Sorria cada vez mais.

- Para um ateu você tem falado bastante de Deus – falei com deboche

Ele apenas sorriu e se dirigiu ao carro.

Latini com o tempo virou um mestre em criar polêmicas que os mantinham como um herói dos seus eleitores.

A polêmica que mais rendeu popularidade, foi o embate nas mídias contra um rockstar que se autodenominava o anticristo.

O Deputado montou um combate árduo contra o show da banda no país, com discursos na tribuna da câmara, na rádio e na tv.

Não teve sucesso na proibição, e no dia do show fazia parte de uma manifestação em frente a onde ocorria o evento, com uma fiel e gigantesca multidão de seguidores.

Foi um sucesso absoluto eleitoral, além de uma grande cena armada.

No final do show, a banda fez uma festa privada em um hotel de luxo, da qual fui levado, pelo Deputado em pessoa.

Era hilário ver aquela cena. 

Na mídia eram piores inimigos, por trás das câmeras estavam ali cheirando o maior volume que já vi de raspa do chifre do capeta, a famosa cocaína.

Como Latini gostava de dizer, “Vai nevar a noite toda”.

O anticristo sabia dar uma festa, mulheres de todos os tipos, as mais variadas bebidas e muita droga, praticamente de tudo.

Acordei em um quarto com 3 mulheres na cama, o que pareceu ser uma festa bem animada na falta de lembranças.

Me vesti e ao sair, passei por Latini caído no corredor completamente catatônico. 

Seu modo natural depois de seus exageros.

Queria entender como ele consegue esconder tão bem sua realidade, sendo tão relaxado.

Ao passar pela saída do hotel, o rockstar estava ali tomando vodka aquela hora, quando me viu levantou o copo como cumprimento.

Eu saia raramente de casa, quando o fazia, meu ciclo de amizades era apreciadores das experiências mais intensas possíveis.

Nessas horas que se percebe que está envelhecendo.

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