Como John não acreditava que eu estava convencido sobre a viagem, mesmo eu já estando no aeroporto de Dublin, ficava na minha cola feito mulher ciumenta.
- Porra, John, estou realmente preocupado com essa sua falta de mulher.
- Vigário, mulheres vem e vão, amigos não – Ele se divertia ao falar
- Como você virou essa beata do dia para a noite?
Na verdade, não me interessa, preciso de uma bebida.
Ele sorriu e me levou para o carro, e lá já havia uma garrafa do famoso uísque irlandês Jameson à minha espera.
- Parece que vocês fizeram o dever de casa – Falei bebericando minha dose.
Uma viagem bem curta de carro do aeroporto, nos levou para um hotel de fachada monstruosa e muito iluminada, essas frescuras de hotéis 5 estrelas.
Tem épocas que meu senso com datas está desligado, e eu não tinha me atentado ao fator de ser dia 31 de dezembro.
- Tomem um banho, e desçam para comermos algo antes da festa de virada de ano, no Hall Vip - Falou Ari entregando nossas chaves.
- Para o inferno o Hall Vip – Retruquei e dei as costas a caminho do meu quarto.
Tomei meu banho e desci para comer um sanduíche.
Meu inglês era bom, porem enferrujado, tive uma boa educação nesse quesito quando era novo.
Fui ao bar do hotel, escolhi no cardápio um sanduíche de pernil e fiz o pedido a atendente.
Estranhamente a atendente me olhava e não reagia ao meu pedido, apenas sorria em minha direção.
- Irlandeses não entendem inglês? - Resmunguei em português.
- Sim, hoje em dia é a língua oficial, mas sou portuguesa e já fui informada que você é alguém que prestigia seu idioma.
Ari não perde oportunidade de usar a influência do seu dinheiro, pensei.
- O que vai querer beber? Ela indagou
- 7up com vodka, de preferência russa.
Eu era um cara de gosto barato, em qualquer lugar do mundo.
A atendente era uma portuguesa de olhos bem verdes, que pareciam esmeraldas, coincidentemente, ilha esmeralda era o apelido da Irlanda.
Bem branquinha, cabelo comprido preto e bem simpática.
A parte da simpática eu sempre desconfio, quando sou colocado em posição de vantagem.
Já que o idiota do Ari, me colocou ali como um sultão e todo hotel a minha disposição.
O que é irônico, tendo em vista que meu bolso não havia sequer um cent, e no Brasil minha conta de luz estava atrasada.
Ela atendia a todos no balcão, mas sempre terminava na minha frente puxando papo.
- Sobre o que você escreve? – Ela pareceu interessada
- Tédio, se resume sempre a tédio, às vezes um pouco de negatividade.
- Você não parece ser um cara entediado.
- Essa é a magia do álcool – respondi com um sorriso forçado.
Enquanto ela atendia outros clientes, eu ficava ali viajando em meus pensamentos.
Minha conta de luz atrasada não era um problema.
Filé de peixe, a única moradora da casa, ficaria esse tempo com Elliot, o estagiário do escritório de John, diretamente ligado a ele e sua sócia Faith.
Elliot era um cara legal, um moleque novo de raciocínio rápido.
Às vezes me constrangia com sua admiração, pois era um aficionado pelos meus textos.
Ainda assim gostava de trocar umas ideias com ele, parecia diferente da nova geração, ter futuro como homem.
Me puxando dos meus pensamentos, apareceu novamente a portuguesa, agora sem o uniforme atrás do balcão com duas pequenas doses de vodka pura.
- Aqui na Irlanda nos falamos “Slainte”, que significa saúde e viramos – e ela me deu uma dose.
- Meio sem graça, melhor Slainte Bitches, fica mais marginal – Falei sorrindo e levantando meu copo para brindar.
- Slainte Bitches – Falamos brindando
Já eram quase meia-noite, a festa já começava no Hall Vip, que não me seduzia em nada.
Ari e John passaram a caminho do Hall já completamente bêbados, quando me viram vieram me abraçando e gritando feliz ano novo.
- Vocês não usam drogas, por que essa animação?
- Vigário seu filho da puta rabugento, você é o irmão que não tive - Falou John no alto do seu porre.
- E eu que achava que seu azar era apenas ser advogado, ainda me tem como irmão – falei zombando
- Estamos indo para a festa da virada, você vem? - Perguntou Ari
- Não pretendo, estou cansado demais para essas aventuras de jovens hoje, fica para o próximo ano.
E eles me desejaram ali um bom ano novo e partiram para sua missão de esquecer o ano que estava ficando para trás.
- Você tem certeza que não vai à festa? – Apareceu novamente a portuguesa
- Sim, vou pegar uma bebida e subir para o quarto e me entorpecer sem essa barulheira toda.
- Uma boa ideia, mas meio solitário.
Terminei meu turno e também pretendia algo mais tranquilo - Ela indicou
- Diferente dos cômodos que normalmente fico, esse que estou parece caber mais de uma pessoa, sinta se convidada – Respondi
Ela sorriu e pediu um instante.
Voltou com uma garrafa de vodka, algumas latas de soda e me puxou pela mão para subir para o quarto.
No quarto, ela preparou dois copos de soda com vodka para nós e jogou dentro de cada copo um comprimido.
- Se isso for um boa noite Cinderela, você não terá o que levar.
Não tenho dinheiro, e meus órgãos não estão valendo muito, talvez o fígado tenha um valor símbolo depois de tantas batalhas.
- Isso é apenas ecstasy, hoje é virada de ano e como é seu primeiro dia na Irlanda, pensei em fazer dele memorável. - Falou já tomando um gole do seu.
- Então feliz ano novo – e tomei um gole do meu copo.
De imediato fui em sua direção, e ela pulo em cima de mim, me beijando.
Depois de um tempo, parece que os sentidos se potencializaram, e a nossa foda tinha um ritmo alucinante.
Por horas ficamos ali, sentindo e gozando daquele sexo com sensações tão expandidas.
A droga fez um ótimo trabalho, assim como a vodka e a portuguesa.
No dia seguinte, acordei com porradas na porta.
Levanto com a visão ainda embaçada e sem muitas lembranças.
John está na porta, como se nunca tivesse ouvido falar na palavra ressaca, arrumado e dizendo que temos que ir, pois nossa cidade sede não seria Dublin.
- Ok, vou me trocar – Falei batendo a porta na cara dele.
Voltei e meu quarto estava uma zona.
A garrafa jogada, latas por todo lugar e a cama encharcada de vodka.
A portuguesa não estava ali, o que me fez pensar por uns segundos que aquilo tinha sido minha imaginação.
Sentado na cama visualizei um bilhete, peguei e ele dizia:
“Espero que por algumas horas o tédio tenha se afastado, obrigada pela ótima companhia nessa virada de ano.
Quando sentir saudades de falar sua língua, sabe onde me encontrar.
Feliz ano novo e Slainte Bitches.”
Eu sorria sem perceber e peguei um resto de vodka que tinha no copo e virei de uma vez.
Troquei de roupa apenas e encontrei Ari e John na saída do hotel.
Fomos para o carro a caminho do próximo destino
- Você podia ter tomado banho vigário, não tinha tanta pressa assim.
Você parece um tonel de vodka onde transaram o dia todo - Zombou Ari
- É uma boa essência - Respondi
- Ok então. Só para te atualizar estamos indo para Limerick, uma cidade no centro oeste da Irlanda, é lá que preciso da sua ajuda.
- Dane se, me atualize depois de uma noite de sono bem dormida.
Continuamos o caminho em silêncio, cada um com seu fone de ouvido e eu ali pensando na noite anterior.
E aí, como sempre, me lembrei de um erro que continuo cometendo.
Esqueci de perguntar a porra do nome da portuguesa.
Mais uma musa sem nome para meus contos...
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