terça-feira, 27 de novembro de 2018

A prisão da liberdade





O mundo é grande demais para você parar na primeira esquina.

Esse é o lema que mais criou problema na minha vida.

As pessoas de espírito livre sempre acham que existe apenas dois caminhos para elas seguirem seus ideais.

O primeiro caminho é o mais comum, morrer solitário.

Pessoas assim são convencidas pelo mundo de que vão morrer sozinhas.

De que são pessoas egoístas e de que seu futuro está fadado a ser jogado em um canto apenas com sua tristeza.

Por causa desses pensamentos, almas e almas estão morrendo por ai.

A liberdade que se tem vira um peso, uma espécie de maldição e se você se deixar levar por esse caminho, você se envenena pelo mau que a liberdade ignorada pode gerar.

O segundo caminho é pensar que só encontrando alguém com o mesmo espirito livre, conseguirá realmente aproveitar a vida.

E esse foi meu erro.

Eu recebi o maior dom que o ser humano pode receber do universo.

A alma livre.

A verdadeira consciência do livre arbítrio, do viver sem regras.

Viver por viver.

Existem pessoas que nascem para ser controladas, outras que nascem para controlar.

E existe o tipo de pessoa que eu sou, que só se importa em ser livre.

Ouvi minha vida inteira que seria um ser sozinho, sem ninguém para apoiar quando precisasse, por causa das minhas escolhas identificadas por essas pessoas como escolhas egocêntricas.

Mas as vezes você simplesmente escolhe estar sozinho, essa é a beleza dessa liberdade.

Nessas experiências loucas de vida que só eu tenho para contar, tive a presença de uma mulher que tinha uma luz diferente a sua volta, da qual nunca tinha visto em outra mulher.

Ela tinha um sorriso que derrubava qualquer melancolia.

Era muito carinhosa e sensível.

Ela passava horas e horas massageando meu couro cabeludo e esse momento era algo que me fazia sentir que o tempo estava parado para que nós pudéssemos ficar ali por uma eternidade.

E tinha algo que achei que nos faríamos o casal inabalável, esse dom da liberdade da alma.

Imaginei que nada nos impediria.

Os dois queriam se jogar no mundo ,sem pensar no futuro, apenas viver.

Nosso sentimento crescia a cada dia, assim como nossa liberdade.

Cresceu tanto, que a sua liberdade começou a afetar a minha, e começou a abrir caminhos diferentes, e com isso conflitos.

Em algum momento, sentamos e decidimos não virarmos reféns desse sentimento, e cada um foi para um lado.

A vida nos deu caminhos diferentes a partir daí, e foi melhor assim.

Antes que a liberdade virasse uma prisão.

E do mesmo jeito que ter um espírito livre é o maior dos dons, deixar sua liberdade te aprisionar é o maior dos fracassos.

Não seja estúpido, não se deixe entorpecer por esse sentimento de derrota.

Não importa o que a sociedade vai dizer de você, apenas viva e se sinta livre.

Voe o mais alto que puder ,sem se preocupar com o sol, apenas voe.

Tenho contato com ela até hoje, ela está pelo mundo.

A cada novo país, ela me manda uma carta sempre com uma foto atual, contando suas experiências e dizendo como me desejava ao seu lado nessa vida.

Aquele lindo sorriso continua com o mesmo brilho do qual me apaixonei.

E mesmo longe dela, fico feliz de ver que a liberdade não nos aprisionou.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Como me tornei um “Pussy” ?




Existe aqui na Irlanda uma gíria que ouvi de alguns jovens desbocados, que se encaixa perfeitamente no que me transformei.

“Pussy”, nesse sentido, seria algo equivalente a se tornar um medroso, um frouxo sem atitude.

E foi exatamente isso que me tornei.

Eu sempre fui reconhecido por todos como uma pessoa louca, por não planejar as coisas e viver basicamente de impulso.

Nunca foi fácil como nos filmes de jovens loucos americanos, porem sempre deu certo no final.

Em algum momento, e não sei dizer se foi a idade, eu deixei de ser o cara do all in.

Eu agora olho minhas fichas e o medo de perdê-las me trava.

O que eu virei?

Eu sentei com John e conversamos sobre isso, e na visão dele essa mudança nunca fez sentido.

Ele era o cara que planejava cada minuto do seu futuro.

Cada moeda investida já tinha sido friamente calculada.

E a vida dele estava estagnada.

E ele resolveu não se preocupar com mais nada e se jogar de cabeça.

Segundo ele, a adrenalina que corre nas suas veias hoje em dia é melhor do que qualquer bênção dos céus.

Já no meu caso, é completamente o inverso.

Eu vivia dessa adrenalina, o incerto me deixava apaixonado.

Minha vida andava, independente dos caminhos, ela andava.

Já fiz sucesso, já ganhei dinheiro, já quebrei e voltei para uma situação de conforto, sempre apostando todas as minhas fichas na primeira loucura que me seduzisse.

Hoje parece que meu corpo não produz mais essa adrenalina, como também criou uma rejeição a ela.

Eu me pego raciocinando no meio da noite sobre quantas variáveis pode ter uma decisão idiota como ir na rua e comprar uma lata de cerveja.

Raciocínio de variáveis quase num nível matemático de grandes pensadores, e eu odeio matemática.

E mesmo depois de toda analise, eu simplesmente me vejo congelado no mesmo lugar sem reação.

não faz sentido algum.

Eu planejo um futuro que não existe.

A disciplina e responsabilidade que desenvolvi só se explica se for algum tipo de punição que eu ironicamente recebi dos deuses.

Ou mesmo algum novo vírus que está sendo transmitido pelo ar e eu fui um dos sorteados.

É difícil me olhar no espelho e ver a imagem do cara sem coragem e sem vida que me tornei.

Isso é algo que anda me abalando de uma forma que quase nada me abalou na vida, nem mesmo as minhas decepções amorosas.

Estou a pelo menos umas 3 semanas vivendo uma rotina de frango frito e cerveja.

Cerveja até que meu corpo esteja suficientemente anestesiado para esquecer de quão derrotado me encontro.

E hoje depois de milhares de asas de frango frito e dezenas de latas de cerveja ,me peguei novamente me encarando no espelho.

Mas dessa vez repetindo o mantra que aprendi com aquele jovem sem futuro na rua.

don’t be such a pussy -  Não seja um medroso.

Bilhete de adeus





Se você achou esse bilhete, entenda como uma humilde despedida.

Sempre fui muito bom com as palavras, mas quando se trata das últimas é um pouco mais difícil.

Meu cérebro começa a fervilhar e criar palavras, termos e expressões que nem eu mesmo lembrava conhecer.

É um pouco irritante e mesmo frustrante, já que eu nem ao menos tenho de quem me despedir.

Sempre fui solitário, e fiz questão de tentar afastar todo mundo que importava.

Nesse final eu ouvi frases como “eu estou preocupado contigo”, “é tão difícil encontra pessoas que valem a pena e quando te encontro, você quer se afastar” e “sua empatia vai te matar”.

Todas de pessoas e em contextos diferentes, porem que teoricamente deveria fazer eu continuar lutando.

Mas eu cansei.

Fico muito feliz de ver o sucesso dos poucos ao qual mesmo eu querendo manter longe, representam um ótimo sentimento no meu coração.

Pessoas que tem suas lutas e suas fraquezas, mas continuam sua caminhada, sem desistir no final como eu.

Eu lutei por muito tempo para manter uma espécie de fogo da alma queimando, mas talvez minha frieza não tenha colaborado nesse trabalho.

Eu não culpo ninguém, muito menos a vida.

Joguei o jogo o quanto eu quis e isso me deu experiências inesquecíveis.

Pessoas surpreendentes das quais amei verdadeiramente, mas que nunca demonstrei de forma verdadeira.

Não tive o prazer de ser derrotado pelos meus vícios assim como meus ídolos, minha derrota foi mais a entrega dos pontos.

E hoje percebo que mesmo na maior escuridão, você consegue encontrar luz.

Mesmo na cegueira do ódio, o amor.

E mesmo com a tristeza desse bilhete, espero que você consiga lembrar do meu sorriso.

Não quero ser lembrado como nada além do que eu realmente era.

Para uns um egoísta, para outros um espírito livre.

Seja qual for sua conclusão, saiba que não me importo.

Quem entrou no meu coração, lá ficará

Seja nas cinzas ou debaixo da terra.

Beba por mim e sorria.

Se eu pudesse mudar alguma coisa na minha vida, apenas potencializaria esses dois pontos.

Beberia e sorriria mais.  

Se te machuquei, me desculpe.

Sempre fui um idiota, que às vezes, na intenção cega de me proteger ou proteger outra pessoa, agia para não se importar muito com sentimentos alheios.

Mas sempre admiti que era um humano falho.

Não vou me penitenciar, não tenho essa criação cristã de pecados.

Quero apenas que minhas últimas palavras tragam um pouco de conforto a quem as procura.

Meu único arrependimento em vida, foi apenas não ter a coragem de falar sobre meus sentimentos abertamente com quem eu deveria ter falado.

Mas, ao mesmo tempo, foi uma escolha.

Me jogaria na frente da bala mil vezes se tivesse a certeza de que não deixaria você se machucar.

Eu jamais iria querer interferir no futuro de alguém com uma energia tão boa e diferente do que eu tinha sentido até então.

Foi realmente uma experiência diferente, e nesse final me trouxe a paz final de que eu precisava.


Eu não sei o que acontece depois da morte e nem quero saber.

Mas minhas memórias e meus afetos, ninguém, nem mesmo a sombra da morte irão tirar de mim.

Nunca faltou amor, faltou amar.

Após ler esse bilhete que fiz para uma de minhas crônicas, resolvi amassar e jogar fora.

Vai que eu tenha um mal súbito e as pessoas imagine que eu me matei.

Seria no mínimo cômico para o legado do Vigário.

O vendedor de ilusões





Quando eu me abro para alguma mulher, eu tenho o habito de me manter no personagem do Vigário.

Que respira o melhor do sentimento do amor e que alimenta todos os sentidos que dão lenha para a paixão queimar.

Em uma análise geral, eu sou pior do que os grandes canalhas profissionais.

Eu uso um certo dom que tenho com as palavras e reações que com o passar dos anos fui aprendendo a perceber ser comum do ser humano.

Alimento algo que realmente faz a pessoa se sentir diferenciada.

E isso é algo muito injusto de se fazer.

Como disse, nada disso é meu, Vigário é o responsável.

O problema é que quando ele termina o trabalho e se vai, sou eu quem fica aqui e tem que lidar com toda essa loucura.

Seja dos meus próprios sentimentos ou dos sentimentos de alguém.

Raramente resulta algo positivo, é sempre uma confusão sem limites.

E eu odeio machucar as pessoas.

Principalmente quando se trata de sentimentos.

As pessoas hoje em dia estão doentes e loucas pelas ruas, e grande parte disso é um coração partido.

Do mesmo jeito que vendo ilusões, eu as coleciono.

Sou sempre questionado do quão verdadeiras são minhas palavras.

Elas sempre são verdadeiras.

Mas as vezes percebo que estão estrategicamente colocadas e isso me faz recuar.

Porque não quero machucar ninguém mais.

Já passei o inferno por causa de relacionamentos.

Mesmo o mais reais.

Porem quando me abro ,sou obrigado a apresentar todos os meus demônios.

Neles se incluem o que sabe usar as palavras.

Nunca fui adepto de mentiras.

Sou um vendedor de ilusões que usa apenas o que a pessoa quer comprar.

Sou do tipo de vendedor antigo, dos tempos do escambo.

Não quero dinheiro, quero algo em troca.

E normalmente meu pagamento aceito em ilusão.

Aprendi a me alimentar de ilusão, como algo próximo do melhor sentimento que posso ter.

Todas as minhas experiências se resumem em algum ponto a ilusão.

Não me sinto enganado, mas me enganei pela minha própria escolha.

Se você assim como eu sente que está enganando alguém, mesmo que contra sua vontade.

Entenda, isso é um caminho sem volta.

Você irá se alimentar disso e o gosto é algo surpreendente.

Talvez seja isso que a serpente tenha vendido para Adão e Eva, a ilusão.

Não existe coisa mais sedutora e de gosto tão doce.

Não faça isso com você.

Não se engane.

Não faça isso com as pessoas, mesmo as que você não quer bem.

Em algum  momento você vai sentir a consequência disso.

O resultado final é um dos piores sentimentos possíveis.

Saudade