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quarta-feira, 7 de novembro de 2018
Como me tornei um “Pussy” ?
Existe aqui na Irlanda uma gíria que ouvi de alguns jovens desbocados, que se encaixa perfeitamente no que me transformei.
“Pussy”, nesse sentido, seria algo equivalente a se tornar um medroso, um frouxo sem atitude.
E foi exatamente isso que me tornei.
Eu sempre fui reconhecido por todos como uma pessoa louca, por não planejar as coisas e viver basicamente de impulso.
Nunca foi fácil como nos filmes de jovens loucos americanos, porem sempre deu certo no final.
Em algum momento, e não sei dizer se foi a idade, eu deixei de ser o cara do all in.
Eu agora olho minhas fichas e o medo de perdê-las me trava.
O que eu virei?
Eu sentei com John e conversamos sobre isso, e na visão dele essa mudança nunca fez sentido.
Ele era o cara que planejava cada minuto do seu futuro.
Cada moeda investida já tinha sido friamente calculada.
E a vida dele estava estagnada.
E ele resolveu não se preocupar com mais nada e se jogar de cabeça.
Segundo ele, a adrenalina que corre nas suas veias hoje em dia é melhor do que qualquer bênção dos céus.
Já no meu caso, é completamente o inverso.
Eu vivia dessa adrenalina, o incerto me deixava apaixonado.
Minha vida andava, independente dos caminhos, ela andava.
Já fiz sucesso, já ganhei dinheiro, já quebrei e voltei para uma situação de conforto, sempre apostando todas as minhas fichas na primeira loucura que me seduzisse.
Hoje parece que meu corpo não produz mais essa adrenalina, como também criou uma rejeição a ela.
Eu me pego raciocinando no meio da noite sobre quantas variáveis pode ter uma decisão idiota como ir na rua e comprar uma lata de cerveja.
Raciocínio de variáveis quase num nível matemático de grandes pensadores, e eu odeio matemática.
E mesmo depois de toda analise, eu simplesmente me vejo congelado no mesmo lugar sem reação.
não faz sentido algum.
Eu planejo um futuro que não existe.
A disciplina e responsabilidade que desenvolvi só se explica se for algum tipo de punição que eu ironicamente recebi dos deuses.
Ou mesmo algum novo vírus que está sendo transmitido pelo ar e eu fui um dos sorteados.
É difícil me olhar no espelho e ver a imagem do cara sem coragem e sem vida que me tornei.
Isso é algo que anda me abalando de uma forma que quase nada me abalou na vida, nem mesmo as minhas decepções amorosas.
Estou a pelo menos umas 3 semanas vivendo uma rotina de frango frito e cerveja.
Cerveja até que meu corpo esteja suficientemente anestesiado para esquecer de quão derrotado me encontro.
E hoje depois de milhares de asas de frango frito e dezenas de latas de cerveja ,me peguei novamente me encarando no espelho.
Mas dessa vez repetindo o mantra que aprendi com aquele jovem sem futuro na rua.
don’t be such a pussy - Não seja um medroso.
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