terça-feira, 12 de março de 2019

Terapia com Faith






 



No que deveria ser apenas uns dias, Faith resolveu tornar um mês oficialmente de férias.

Estendeu sua hospedagem e deixou bem claro que me faria companhia nesse tempo.

Ela sabia que eu ficaria um pouco incomodado, mas que não negaria.

Rolava uma tensão sexual entre nós dois, da qual eu sempre ignorei.

Eu jamais faria isso com Ari e muito menos faria isso com ela.

Além de ter um bloqueio com advogadas que criei com o passar dos anos.

Faith sempre soube disso e sabia separar essa tensão, da nossa amizade.

Nesse mês tive que seguir todo seu manual de felicidade, assim ela chamava.

E ela me jogou nas maiores roubadas assim como na nossa juventude no campus da faculdade.

Eu tenho uma ótima relação com a bebida, porém gosto de beber em ambientes calmos.

Já Faith queria encher a cara comigo em lugares que ela dizia ser fora da minha área de conforto.

E assim ela me jogou em qualquer noitada que ela achava ser uma porta para extravasar sua atual alegria.

- Pobre Vigário - Ela dizia com um sorriso no rosto e com uma cerveja na mão toda vez que tínhamos que encarar uma noitada dessas.

Eu odeio noitadas, odeio aglomeração de pessoas bêbadas.

Encarar meus demônios já é um grande sacrifício, agora milhares de demônios desconhecidos era demais para minha alma idosa.

Mas lá estava eu, bêbado na casa de um desconhecido, rodeado por mais uns 30 desconhecidos, do outro lado da cidade, depois de uma dessas noitadas.

E Faith estava lá, sempre sorrindo e erguendo a lata de cerveja como uma saudação a minha pessoa.

Aquela Faith reservada que era uma rotina foi deixada de lado nessas férias.

Nesse tempo com Faith, conseguimos fatos dignos das loucuras que Latini praticava no seu tempo livre.

E quando se compara a Latini, é sinal de que cavamos bem fundo dessa vez.

Fomos presos bêbados tomando banho em uma fonte que era o monumento da cidade.

Eu estava apenas de cueca samba canção, Faith com uma garrafa de vodka na mão e uma francesa que encontramos na noitada, que estava vestida de unicórnio.

Isso com uma sensação térmica de uns quase 0 graus.

Horas depois, John estava lá com aquele sorriso irônico no rosto liberando nos 3 de termos maiores complicações judiciais.

Acordamos eu, Faith e a francesa de Unicórnio na mesma cama na manhã seguinte.

Nada aconteceu, mas essa francesa criou bastante material para futuros contos.

Outra vez, estávamos entrando no meu prédio, completamente bêbados.

Quando chegamos nas escadas encontramos duas holandesas que moravam no andar de cima.

Elas também tinham exagerado nas bebidas.

Nosso encontro na escada foi divertido.

Começamos a conversar, com certeza algo sem sentido.

E nessa mesma direção sem sentido, em minutos estávamos no sofá da casa delas fumando maconha.

Eu não tenho paciência para maconha.

Nem quando era jovem.

A sensação não me faz bem, me deixa entediado.

Por acaso nesse dia até que o efeito foi legal, talvez por ser um baseado produzido por mãos holandesas originais.

As duas irmãs holandesas eram lindas.

Olhos azuis, um tipo de loiro que flertava com o ruivo natural e bem parecidas.

Eram bem sacanas.

E o resto da noite foi eu tentando correr da ideia genial que elas tiveram de os 4 tomar ecstasy.

Aquilo ia resultar numa grande orgia.

Mas eu consegui cortar essa ideia a tempo, pelo menos nesse dia.

Minhas vizinhas holandesas futuramente estarão em algum conto.

Um dia estávamos em um pub não tão movimentado e eu achei que aquele dia ia ter meu momento de paz depois de tantos dias.

Engano meu.

Estávamos lá bebendo uma cerveja, quando chegou uma conhecida do trabalho.

Uma das poucas que eu era mais sociável.

Ela era turca, muçulmana porem livre das barreiras religiosas mais tradicionais.

Ela se sentou e começou a beber com a gente.

A turca disse que era nosso dia de sorte, porque ela tinha 3 ácidos ali e sentia que a energia do grupo era a ideal para esse acontecimento.

Mas uma vez, pisquei, e já estava no meio do furacão.

Cada um tomou um e depois de algum tempo, assistindo a tudo meio distorcido, percebo o teor da conversa das duas.

Faith falava sobre signos, posição da lua, ascendentes com a turca muçulmana.

Eu não sei se era o efeito da droga, mas aquilo não fazia nenhum sentido para mim.

Faith era apaixonada por horóscopo.

Eu não usava ácido desde os meus 17 anos.

E não era uma onda que eu queria embarcar novamente.

Eu nunca fui de drogas, nem mesmo café.

Minha droga hoje em dia era só álcool e amor.

Voltando dos pubs para a casa, ela adorava tocar as campainhas pela madrugada e correr.

E essa era a ideia mais estúpida que ela tinha, porque normalmente estávamos bêbados.

Andar com ela me atraia um monte de mulheres e eu tinha que ficar me esquivando 99% das vezes para ter uma vida em paz depois que ela fosse embora.

Essas foram algumas das pequenas coisas que Faith causou nesse tempo por aqui.

Graças a esse mês, empurrado por ela a viver um pouco fora da caixa, que consegui retomar um pouco o gosto pela vida novamente.

Não devido às bebedeiras ou loucuras acumuladas, mas pela energia que Faith me transmitiu.

Ela era uma mulher incrível e só queria ser feliz.


Só queria viver.

Porem tinha algo mais.

E só no último dia antes de ir embora foi que ela me confidenciou.

Ela queria mesmo me ajudar.

Ela queria mesmo se divertir.

Mas, ao mesmo tempo, ela queria uma fuga.

Ficar tão próxima de Ari, estava deixando ela louca.

Ari nesse tempo apareceu umas 3 vezes para um almoço e foi só.

Depois da viagem da Bratislava, ela havia informado a ele que estava em relacionamento no Brasil.

Com o babaca da balada.

Ele respeitou isso e se afastou, mesmo eu podendo ver que meu amigo estava despedaçado.

Em uma conversa de bar sobre o babaca da balada, Faith parecia se envergonhar de algo que decidiu por impulso, mas que ia pagar para ver.

E, ao mesmo tempo, deixou claro que gostava de Ari.

Eu tenho minhas merdas acumuladas aos montes de relacionamentos, não iria opinar.

Então parecia que a terapia que Faith organizou para mim, na verdade, foi para os dois.

E deu certo.

Eu estava com uma energia melhor e ela voltava ao Brasil decidida a resolver em um futuro próximo a sua vida amorosa.

2 da manhã, uma semana depois que Faith foi embora, alguém bate na porta.

Quando abro a porta, me deparo com as irmãs holandesas com uma garrafa de vinho,3 taças e um baseado.

Parece que a noite vai ser longa.

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