Não sei nem por onde começar.
Acordei agora com o coração na boca.
E ja fazem alguns minutos e ele continua acelerado.
O lado bom foi ter acordado do sonho que estava tendo.
O lado negativo foi perceber que ele me afetou tanto.
Eu não sonho faz bastante tempo.
Engraçado que sempre tive uma relação meio estranha com sonhos.
Sempre tentei lê-los.
Sempre achei que havia alguma mensagem por trás que deveria ser entendida.
Para um escritor,sonhos podem ser a salvação de uma crise criativa.
Não sei se é o caso no momento.
Não estou tendo problemas para criar meus materiais.
Depois de toda loucura que fui jogado,peguei um tempo longe de tudo.
Arrumei uma cabana na Noruega,daquelas que tem milhares de fotos pela internet e me retirei do mundo.
Sonho de consumo de vários.
No meio de uma floresta,muito aconchegante,com direito a lareira a lenha.
Quase um retiro espiritual,se eu acreditasse.
De frente para um lago e bem afastado da movimentação das pessoas.
Eu tinha tudo o que precisava para um bom tempo e um celular desligado,para quando decidisse sair dali.
Eu estava sozinho e sem nenhum relacionamento amoroso no momento.
Depois de tantas confusões e perdas,resolvi que toda pequena relação mal resolvida deveria ter um ponto final.
Pela primeira vez em muito tempo,não me sentia capaz de me relacionar com alguém.
Não era uma companhia agradável atualmente.
Mesmo nessa reclusão e afastamento,não estava negativo ou deprimido.
Eu só estava esgotado.
Mentalmente,precisava desacelerar e lidar com aquele sentimento de luto que teve que ser ignorado pelo atropelamento de fatos.
O meu belo estoque alcoólico também me acompanhou para a cabana.
Porém,eu não andava no clima de beber.
Eu estava vivendo quase uma clínica de reabilitação sem as palestras chatas e os couchs da perseverança.
Meu padrinho do AA ficaria orgulhoso de mim se eu tivesse um.
Mas eu nunca precisei seguir os 12 passos.
Até quando eu ia em direção ao abismo,eu ia consciente.
Meus dias estavam em paz e em um ritmo relativamente saudável de vida.
Eu não tinha nenhuma comunicação com o mundo já fazia quase 1 mês.
E em todo esse tempo,aquela manhã foi um baque.
Meu sonho tinha sido algo que realmente me impactou.
Acho que meu coração não sabia mais o que era batimentos acelerados como o resultado daquele sonho.
Depois de acordar com aquela descarga de adrenalina,tentei diminuir o impacto.
Levantei da cama e fui tomar um banho quente.
Coloquei umas lenhas na lareira e fui preparar um chá.
Estava frio e um tempo chuvoso la fora.
Sentei na minha poltrona que me abraçava como um abraço de mãe e aproveitava a visão daquele cenário.
A vista era perfeita.
Uma mistura de cores pareciam sair da junção da chuva e do lago.
Um tom meio roxo de um lado,um rosa claro no horizonte.
Um arco íris de fundo e um céu com alguns pontos esverdeados.
Difícil de descrever.
Parecia uma onda forte de ácido.
A água caindo na floresta de forma delicada,dava um movimento e uma beleza diferente.
Ali eu consegui retornar meus batimentos ao normal.
Eu continuava afetado pelo meu sonho mas agora sem flertar com uma crise existencial.
Sonhei com a mulher que sempre reinou no meu mundo dos sonhos.
O meu primeiro amor.
Eu não tinha mais notícias desde o dia que ela decidiu ir embora e deixou apenas uma carta de despedida.
John era o responsável por acompanhar a sua recuperação e se ela precisava de algo.
O fiz prometer que tomaria conta dela mesmo que sem ser percebido.
No meu sonho ela aparecia sorridente e vinha ao meu encontro para me dar um abraço.
Eu estava paralisado no sonho como fiquei quando acordei e como estou só de pensar nessa possibilidade.
O sonho parecia muito real e era algo que me remetia ao momento atual.
Não era como nos antigos sonhos,onde éramos os jovens inconsequentes,mas sim aquele ar mais maduro que a vida adulta nos deu.
Ela não tinha um anel de casamento nos dedos e esse detalhe me pegou.
Não sei explicar,não falamos quase nada e ao mesmo tempo tinha tanta informação ali.
E era isso que estava me fazendo fritar.
Meu inconsciente entendeu o tanto de mensagem mas eu não conseguia acessar.
Me sentia dentro da pirâmide de Gizé lendo toda aqueles hieróglifos sem poder traduzi-los.
Anos eu não tinha notícias ou mesmos sinais em sonhos dela.
Eu nunca deletei ela da minha memória,mas peguei qualquer estímulo que me trouxesse a lembranças dela e tranquei em um baú bem escondido na minha mente.
Por isso o baque foi tão forte essa manhã.
Eu estava tendo um pico de adrenalina novamente com essa investigação mental sobre o sonho.
Nem o meu chá ou minha lareira estavam segurando a onda.
Parecia que essa ia ser a próxima aventura do vigário.
Resolver essa cicatriz do passado que não parava de pulsar.
Tirei toda a roupa e fui andando para fora da cabana.
Fiquei ali por uma eternidade deixando a chuva cair pelo meu corpo e assistindo toda aquelas diferentes cores se misturarem ao meu corpo naquela paisagem.
Eu não tinha mais idade para esses excessos mas não me preocupei com isso.
Deixei que toda aquela situação fluísse normalmente como meu eu interior pedia.
Ali o tempo parou.
A terra parou de girar.
Parecia que eu estava finalmente desencarnando.
Mas não.
Era só a beleza que precedia o novo caos que eu iria encontrar futuramente.
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