sábado, 28 de maio de 2022

A vida é a porra de um sopro

 



Você pisca e uma vida se vai.

 

Você pisca e a sua vida se vai.

 

É muito difícil perder alguém.

 

Um sentimento complexo de entender e explicar.

 

Mas é um ponto onde todo mundo termina em algum momento.

 

Perdido e sem esperança.

 

O engraçado de tudo isso é que só sentimos e percebemos todo esse peso quando perdemos alguém.

 

E temos que sentir mesmo.

 

Faz parte de um ciclo natural.

 

O luto é um amigo solitário que você encontra na estrada em algum momento.

 

Mas e a nossa vida?

 

E a morte dela?

 

Você já parou para pensar que diariamente você está se matando?

 

Seja com droga, seja com álcool, seja com falta de sonhar ou mesmo com uma vida direitinha.

 

Não existe manual para uma vida feliz.

 

A forma correta de se viver.

 

Mas eu achei perguntas interessantes para te manter vivo.

 

Você continua sonhando?

 

Mesmo com toda suas responsabilidades e rotina do dia a dia para ter um futuro mais seguro, você está bem?

 

Você tem certeza que está fazendo o que você quer?

 

Independente da sua razão e seriedade em relação a vida, essa sua escolha diária está alimentando sua vontade de viver?

 

Eu sempre visualizei uma cena acontecendo comigo, como um spoiler do final da minha vida.

 

Eu sentado em uma cadeira de praia, no topo de uma montanha, assistindo a um meteoro que está vindo de encontro a mim.

 

Esse meteoro está vindo destruir a terra, e com isso um flashback na minha cabeça começa.

 

Lágrimas descem e memórias me atropelam.

 

No meu caso, arrependimento de não ter vivido a vida como sempre quis.

 

E o questionamento de todo mundo era fácil de responder.

 

Você está feliz?

 

Não.

 

Você está onde quer estar na vida?

 

Não.

 

Essa cena, essas perguntas e respostas me assombram desde sempre.

 

Arrependimento é algo que se tem que combater.

 

Mas se arrepender e não fazer nada por isso é pior, envenena.

 

O mundo joga todo o peso que eles não querem ser responsáveis nas suas costas.

 

Desconhecidos, amigos, família ,todo mundo pode ser o motivo da morte da sua alma.

 

Um melhor amigo pode te jogar de um precipício sem que você nem perceba.

 

Seus pais podem te aprisionar ao ponto de anular sua personalidade e sua vida.

 

Lógico que o contrário também acontece, mas isso as pessoas identificam com mais facilidade.

 

Escolhas são parte dessa história.

 

Mas as vezes perdemos o foco de onde queremos ir.

 

O que faz bem de verdade as vezes se perde pelo caminho.

 

Toda vez que isso acontece, sua alma perde um pouco da luz.

 

Faz um exercício agora.

 

Se olha no espelho, você enxerga sua luz?

 

Você acha que perdeu seu brilho?

 

Essas coisas não são difíceis de perceber, mas você tem que tirar a cabeça da merda e parar por 1 segundo.

 

E as vezes essa é a parte mais difícil.

 

Vivemos em um fundo do poço que acaba com a nossa esperança e que atrapalha até mesmo as coisas positivas que estão acontecendo com a gente.

 

Isso são sinais de que você está jogando sua vida fora.

 

Suas certezas estão erradas.

 

Você está morrendo e seu sorriso melancólico só mascara isso.

 

Álcool e droga normalmente te acompanha, ali bem de perto te tirando da realidade.

 

Te dando uma falsa sensação de que você está seguro ali.

 

Eu não sou contra isso, não mesmo.

 

Mas sei quando isso deixa de ser algo que realmente traz algo positivo.

 

O caminho de viver é muito fácil de se desviar.

 

As vezes penso sobre desistir.

 

Em algumas fases da minha vida me afasto do gosto de viver.

 

Nesse ponto sei que estou morrendo.

 

O corpo sente.

 

Suicídio sempre está rodeando.

 

Mas nunca foi minha praia.

 

Sempre fui de matar minha vida por falta de viver.

 

Mas enchi o saco disso.

 

Enchi mesmo.

 

Cheguei em um ponto da minha vida que não quero mais sentir que estou morrendo.

 

A minha alma estava implorando por cuidados.

 

Cheio de feridas cicatrizadas e outras recém-abertas.

 

Mas eu precisava me cuidar.

 

E não foi algo que precisou de muitas mudanças.

 

Pelo contrário.

 

Só precisei olhar para mim.

 

Parei um dia em frente ao espelho e me olhei em silêncio.

 

Eu consegui ver minha alma ali.

 

Eu consegui ver o que me alimenta.

 

Eu consegui ver o caminho que preciso seguir.

 

A vida está terminando e você está rodeado de pessoas que só querem te usar e sugar sua energia.

 

A falsa vida de rede social está te iludindo e te deprimindo.

 

E sua vida?

 

Está morrendo.

 

Toda vez que perco um amigo, eu faço uma reunião de testas franzidas com vários deuses de diferentes religiões.

 

E indago sempre o porquê de eu, que estou jogando minha vida fora continuar aqui, enquanto um amigo com tanta vontade de viver se vai.

 

Nunca obtive a minha resposta.

 

Mas talvez essa busca por viver seja algo que eles esperavam de mim.

 

Meu voltar a sonhar.

 

Meu amor por amar.

 

Deixando para trás qualquer coisa que me leve para um lugar ruim.

 

Vivendo.

Em algum momento você era feliz e não percebeu.


Em algum momento seu sorriso mudava o mundo, sua alma era leve e tinha o dom de me resgatar.


Em poucos momentos você se dava conta de quanto era forte e não deixava a negatividade te engolir.


E tudo era calmo, silencioso, aconchegante e mais parecia o topo do mundo.


Ali era você vivendo.


Se você ainda tem essa alma tão brilhante que reluz aqui, não deixa ela morrer.

 

Vai viver.


quarta-feira, 18 de maio de 2022

O homem que deveria ter vivido 900 anos

 




Limerick se encontra no seu padrão de dia habitual.

 

Chuvinha fina, tempo bipolar e aquele ar melancólico como se fosse um aviso de algo.

 

E sempre é.

 

Não tente se encontrar na cronologia dos fatos, eu mesmo não sei em que momento estou.

 

John na minha porta, com aquele olhar pesado e profundo, além da nuvem negra que costuma segui-lo quando ele é portador desse tipo de notícia.

                           

Não era a primeira vez e não seria a última que eu iria passar por essa situação.

 

A melhor pessoa da nossa galera para esse tipo de notícia era John.

 

Não tinha desespero ou exagero, sempre um tom calmo e mesmo assim demonstrava sua profunda tristeza.

 

Eu já esperava esse tipo de notícia nesse momento, fazia parte de um ciclo de acontecimentos que tem me perseguido e que eu venho tentando interromper.

 

Mas nem tudo é sobre nós ou temos poder para interferir.

 

A falta de controle sobre algumas coisas as vezes faz tudo ficar incontrolável.

 

A notícia que John trazia era que um grande amigo nosso dos tempos da faculdade tinha morrido.

 

- “Causas naturais” -  Ele se limitou a dizer.

 

Ele se formou advogado Junto com John e Faith, e trabalhava hoje em dia dando suporte jurídico ao Cassidy.

 

Na época de faculdade ele sempre foi um dos poucos que conseguiu furar a nossa bolha de grupo fechado.

 

Como ele gostava de dizer, também fazia parte daquela Máfia.

 

E sempre fez parte mesmo.

 

Além de ser o melhor amigo de Cassidy e ajudar na adaptação do pobre irlandês no Brasil, ele era sempre uma fonte que o escritório de Faith e John procurava para uma grande tese.

 

John sempre foi um advogado muito técnico, achava brechas em qualquer legislação só focado na tecnicalidade.

 

Faith era uma sedutora por natureza, seus argumentos eram sempre como uma flauta que encantavam os que estivessem ao seu redor ouvindo.

 

Mas o nosso amigo, mais carinhosamente chamado de o Homem de 900 anos, era um misto de tudo isso.

 

Tinha um dom para a oratória como poucos, uma visão estratégia digna de um russo jogando xadrez.

 

Focava na sua aptidão pela a boa lábia, com o poder de te enrolar em segundos.

 

Nasceu e cresceu rodeado da boemia carioca e de toda malandragem que se aprende por lá.

 

Sabia se defender de um golpe, bem como sabia criar os melhores se quisesse.

 

Mas nunca foi sua praia, se fosse não estaria trabalhando com Cassidy, e sim com Latini.

 

Gostava de levar a gente para beber nos botecos da Lapa e Santa Teresa.

 

Se sentia livre lá segundo ele.

 

Sempre foi um cara de manias e trejeitos de um idoso mesmo tendo nossa idade.

 

Usava algumas expressões que fariam meu avô se sentir velho.

 

Era um cara de um papo incrível, com uma serenidade nas palavras e muito amadurecido.

 

O apelido de homem de 900 anos foi criado pela sua caracterização de costume, boina na cabeça, colete no estilo coroa clássico além da experiência de vida que ele demonstrava.

 

Além do seu linguajar diferenciado, do tipo “sacada perspicaz “ e sempre me cumprimentava como “Nobre Vigário”.

 

Gostava de dizer que nós éramos os últimos da velha guarda, por causa do nosso espirito velho e sábio.

 

E talvez fossemos mesmo.

 

O “nobre” amigo participou de várias fases da minha vida, e com certeza bem marcante era o feedback dele para todos as minhas exs namoradas e rolos do passado.

Lembro da primeira vez que ele viu o amor da minha vida.

- Nunca perca essa mulher – Foram as palavras dele.

Algumas outras ele conheceu e sempre decifrou muito bem o que viria pela frente.

Era estranho, mas ele tinha realmente uma boa analise.


Mas nunca deixou de apoiar a minha vida sossegada.


Até porque ele acompanhou de perto a minha vida de cabeça para baixo.

 

Um fato bem interessante da nossa história, aconteceu nos primórdios da faculdade.

 

Nunca fui tão sociável quanto essa época, mas claro sempre acompanhado da nossa máfia.

 

Em algum ponto dessa fase, eu, ele e Faith estávamos um pouco fora de controle com fatores que iam além do álcool.

 

Latini também mas para ele era rotina.

 

Nessa fase nos enfiávamos nas coisas mais malucas possíveis.

 

Uma específica foi em alguma festa difícil de apontar em que momento, mas dentro do campus da faculdade.

 

Existia uns eventos clandestino onde o campus estava fechado e apagado e todos iam para lá para uma festa sem convites.

 

Só iam, quem sabia do dia e horário e era sempre uma insanidade.

 

Apelidamos de Detroit rock city em homenagem a um filme da época.

 

Na festa já completamente bêbado, uma menina loira que já tinha visto andando pela faculdade, sorriu e veio na minha direção.

 

Pegou no meu rosto e colocou uma bala na minha língua e depois me beijou.

 

Eu nem ao menos me toquei que a bala em questão, era a que dava outro tipo de alegria.

 

Faith olhava para mim com um semblante de reprovação apenas.

 

Eu seguia o curso do rio e ignorava qualquer coisa naquele momento.

 

E do mesmo jeito que aquele fato aconteceu, meu cérebro bêbado fez questão de ignorar.

 

Meia hora depois eu continuava ali bebendo, mas meu corpo queimava como eu nunca tinha visto e meu coração parecia que ia explodir.

 

O homem de 900 anos, se aproximou e me proibiu de beber, e me deu uma garrafa de água.

 

Ficou ali a minha volta, alerta para qualquer problema.

 

Não tentou me explicar nada, apenas me obrigava a beber água.

 

- Se você não morrer hoje, não morre mais - Falava sorrindo, mas sempre em alerta.

Aquela noite foi uma loucura.

 

Lembro de quase nada e de acordar no dia seguinte com a sensação de ter quase batido as botas.

 

Mais tarde no dia seguinte, nos encontramos no bar em frente a faculdade e ele me explicou o que tinha acontecido.

 

- A menina te deu um ecstasy inteiro e você engoliu sorrindo, sem nunca ter tomado.
Era a hora de ver se seu coração ia aguentar.
Parece que segurou bem a onda, de ecstasy você não morre mais. 
- Ele gargalhava.

Deixou bem claro que não adiantava me explicar isso na hora porque eu já estava muito bêbado e encantado pela pequena infratora que tinha me drogado.

Achou só prudente me hidratar e deixar o curso natural das coisas tomar conta.

 

Achei aquilo engraçado.

 

Ele era um cara que adorava jogar as coisas para o que ele dizia ser o curso natural das coisas.

 

E John chegava dizendo “Causas naturais”.

 

Parecia uma última piada infame daquele jovem com alma de coroa.

 

Ele fez parte de uma fase bem perigosa da minha vida, da dele e da de Faith.

 

A parte onde usávamos qualquer merda e jogávamos como se fosse uma roleta russa.

 

Como nada demais aconteceu, sempre foi o curso natural da vida o responsável por nos proteger.

 

Olhando hoje é realmente conflitante como éramos tão responsáveis em alguns pontos e tão idiota em outros.

 

Mas ele sempre foi um grande amigo.

 

Leal.

 

Leal para caralho.

 

O cara que abria mão da onda para não deixar o amigo se afogar.

 

Que mesmo depois de Ari e seu império nunca se aproximou por interesse.

 

Tocou a vida dele com tranquilidade como se fosse realmente viver 900 anos.

 

Nesse ponto, o curso natural das coisas nos traiu.

 

Levou ele antes da hora.

 

Poucos farão falta como ele.

 

A ideia por trás de uma amizade de verdade é um processo difícil de descrever, mas é muito fácil de sentir e reconhecer.

 

E mesmo ele não vivendo os seus 900 anos, seu legado vai ser levado com o nosso grupo de amigos de sempre e para sempre.

 

Mesmo que tenhamos que mudar o curso natural das coisas na porrada.


terça-feira, 10 de maio de 2022

Caminhos tortuosos e sorriso no rosto

 



 

Covardia?

Talvez.

Mas tudo é um ponto de vista.

Não se pode esperar clareza quando o mundo está turvo e sem perspectiva a sua volta.

O que eu podia fazer?

Meu primeiro sentimento era frustração.

E fiquei nesse lugar por algum tempo.

Depois precisava me mover para algum lugar.

Dois caminhos apareciam para mim.

Ódio ou desprezo.

A primeira opção estava muito próxima de amor, e esse sentimento já tinha se esvaído.

O segundo parecia ser o mais digno, alimentar um desprezo que levasse a irrelevância.

Depois de tudo, parecia ser o mais saudável.

Pessoas vem, pessoas vão.

Só ficam te machucando as que você deixa lá.

Nesse ponto decidi não ir na prisão odiá-la ainda mais.

Eu tinha resolvido apagar a existência dela da minha vida.

A única ligação que ainda tínhamos era a parte judicial e burocrática de toda a tragédia que foi Florença.

Nos jornais eu já tinha visto todas as desculpas para ela.

Foi enganada.

Foi manipulada.

As drogas e a depressão foram a causa.

Síndrome de Peter Pan.

Não tinha ninguém ao seu redor e mesmo assim alimentava uma falsa popularidade.

Uma família abusiva e tóxica.

Tudo era uma justificativa para uma mulher branca, loira de olhos claros pudesse ser uma vítima da injusta sociedade.

Resolvi botar uma pedra em cima disso.

Fechei o caixão.

Apaguei a existência dela com um ar melancólico e um som de banjo ao fundo.

Era hora de sair do fundo do poço.

Ouvi um dos conselhos de Faith e fui para terapia.

Talvez por sadismo.

Não era minha praia.

Mas me sentia responsável por toda a merda criada e pelas pessoas a minha volta.

Deixando bem claro, nunca fui covarde, e não teria problema em assumir se tivesse sido.

Mesmo a minha escuridão era uma escolha.

Sempre me responsabilizei pela merda dos outros.

Sempre me sobrecarreguei.

Mas não ia agir como um adolescente a partir dali me justificando como se meus problemas fosse a causa disso.

Eu tinha opções e isso era raro nesse mundo.

Eu fui a primeira terapia às cegas, indicação de Faith.

Nunca mais voltei.

Depois de uma sessão, eu tive a sensação que teria que procurar uma terapia para me ajudar no convívio com minha terapeuta.

 

Ela com aqueles olhos que te invadiam e te despiam em segundos, junto com uma técnica muito eficaz de invadir minha cabeça, eram uma combinação perfeita para mais um problema.

Segundo terapeuta.

Um senhorzinho muito educado.

Começou a conversar comigo e logo me ofereceu um drink.

- Não estou bebendo atualmente- respondi meio constrangido e sacando a situação.

Ele me reconheceu.

Nos minutos seguintes, olhando para sua vasta coleção de livros, me encontrei por lá.

Fazia sentido.

Eu era uma espécie de herói alcoólatra para uma grande parte dos meus leitores.

Abandonei o doce velhinho também.

Tentei uma terceira vez.

Um doutor mais tradicional.

No auge dos seus trinta, um balzaquiano.

Muito formal e técnico.

Terminei a sessão de terapia com uma lista com tanta tarja que me senti um anúncio erótico na tv.

Não fazia meu tipo tomar remédios.

Eu não queria perder minha empatia, minha libido e mesmo minha sanidade, já que eu considerava a grande maioria que usava como zumbis.

Resolvi abandonar a terapia.

Não parecia ser a ferramenta que consertaria o fudido Vigário.

Fiquei limpo de álcool por algum tempo, e era ridiculamente fácil não beber para mim.

Eu não era esse alcoólatra que falavam.

Resolvia meus problemas no álcool por escolha.

Criei algumas mudanças na rotina, para poder “recomeçar”.

Uma caminhada de manhã.

Correção de horários para dormir.

Uma alimentação saudável.

Nada de bebidas alcóolicas.

E até boxe comecei.

Depois de uma semana, percebi que mesmo que a nova rotina fosse mais saudável para mim, eu só estava me enganando.

Arrumando mudanças como se a mudança fosse me salvar.

Voltei aos meus horários fudidos e a alimentação despretensiosa.

A caminhada fazia as vezes, mais para me conectar com uma desaceleração de ritmo mesmo.

O álcool eu continuei afastado.

As últimas ressacas me levaram para lugares sombrios que eu não tinha intenção de voltar.

Saberia a hora de beber sem me preocupar com esse lugar.

E o boxe virou uma atividade interessante que perdeu o caráter diário, mas que fazia pelo menos duas vezes na semana.

Em um desses treinos, encontrei minha primeira terapeuta.

E nosso constrangimento era visível.

Uma sessão foi o suficiente para explodir nossas cabeças.

Ali achei melhor manter meu foco e apenas cumprimentei com a cabeça enquanto ela sorria de volta.

Eu estava voltando para uma fase na vida onde eu conseguia enxergar as coisas novamente.

Falta de controle da minha vida nunca foi problema.

Mas tudo ao meu redor tinha sido abalado pelo terremoto que se passou.

A vida adulta me cobrava decisões responsáveis e eu sempre gostei de manter esse quesito fora do discurso, e sim na prática.

Todas as minhas decisões irresponsáveis foram conscientes e com objetivos claros.

Essa era a loucura da minha balança moral.

A Mafiosa não ia ficar muito tempo presa.

Família de mafiosos e podre de rica.

Eu tinha decidido não vê-la mais.

Matá-la da minha memória e vida.

Mesmo com toda a problemática que ela viria a causar na minha vida.

Eu pensava nisso e ficava com vontade de fumar.

Costume esse que já estava afastado a bastante tempo.

Eu entrei nessa dança sem querer dançar.

Fui jogado lá e apontado como todo o mal do mundo.

Virei um bode expiatório para quem quisesse.

Eu podia me lamentar por horas, mas isso só iria me envelhecer anos em dias.

Além disso eu tenho um nó na garganta que me impede e uma ferida aberta no peito.

Os dias vem sendo pesados.

Eu respiro com dificuldade e cada passo é 20 vezes calculado.

A vida se tornou um pouco mais assustadora.

Minhas referências se bagunçaram.

Mas eu estava de volta.

Para onde?

Ninguém saberia dizer.

            Nem mesmo minha ex terapeuta de uma única sessão.