terça-feira, 23 de julho de 2024

Mais forte que morto

 






Começando aquela manhã caminhando a beira do rio, com uma ópera desconhecida de fundo no meu fone de ouvido.

O que chamo da busca da paz, mas que às vezes só bagunça meus pensamentos.

Pois bem, paz comigo sempre vem do caos.

Não era um dia muito quente, pelo contrário, um vento irritante e continuo me confrontava.

O verão irlandês não segue um padrão.

No caminho, Riley e Mr. Wolf me cumprimentavam e do outro lado da rua, depois de muito tempo, la estava ela.

A velha cigana romena que me odiava desde o primeiro dia que pisei em Limerick.

Ela gritava aquele monte de maldição e palavras proibidas para mim como uma inimiga.

Era uma mistura da língua romani com romeno, logo soava mais agressivo.

O porquê do ódio eu nunca soube explicar, mas era algo de outra vida.

Eu só sorria e dava um tchauzinho.

E ela continuava seu caminho, agora com a sua paz afetada.

Algo raro acontecia nessa manhã, eu estava com o meu celular, porque tinha dado uma entrevista para uma rádio americana.

Maeve sempre trabalhou muito bem com o que ela chamava dessa obsessão americana por mim.

Mesmo sendo por telefone, a entrevista foi divertida, e logico que terminou com a mesma pergunta de sempre.

“Quando sai o novo livro?”

Ouvia isso cada dia mais.

Maeve cuidava da minha carreira e calculava cada movimento nessa pressão invisível e diária.

Meu celular era um artefato místico.

Era mais fácil encontrar a lança do destino do que eu com aquele aparelho na mão.

Mas essa era realmente uma manhã incomum.

Voltando para casa, ele começa a vibrar e eu desacostumado com aquele momento, fico encarando, esperando um entendimento daquela situação.

Na tela o nome Latini.

O que não fazia nenhum sentindo.

Acredito que umas 10 pessoas tem meu número,9 delas eu dou uma risada irônica se vejo ligando e dou as costas.

Apenas Faith eu me obrigo a atender, porque se não o fizer, ela faz da minha vida um inferno.

Ari e John não me ligam mais, aparecem na minha porta.

Maeve só usa email, e eu normalmente leio, o fato de não responder sempre, tem sido um problema que estamos melhorando na nossa relação de trabalho.

Rudolph, se precisa falar comigo, manda a polícia na minha casa, sempre com sua sutileza de um elefante bêbado.

Nem uma ex tem meu número.

Elliot fala comigo pelo blog, mantendo sua linha meio de fã mesmo sendo um amigo.

Mas Latini?

Esse não entrava em contato de nenhuma forma.

Achei estranho e com uma demora excessiva pela falta de costume, atendi aquela ligação.

- O meu filho da puta preferido ficou sentimental e decidiu me atender?
Achei que o tempo de cadeia ia te deixar mais duro para a escória da sociedade como eu. - Ele se divertia com cada detalhes dos tempos de Florença.

Faith já tinha me falado sobre o sorriso no rosto de Latini sempre que falava sobre a confusão que meus últimos anos de vida foram.

Mas eu ainda não o tinha encontrado para ouvir seu humor negro rebuscado sobre o que ele chamava de “o melhor livro não escrito do vigário”.

Latini tinha tentáculos em tudo que era lugar.

Era dono dos escritórios de Faith e John, da empresa de segurança privada internacional que Rudolph era responsável e de várias rádios pelo Brasil.

Hoje em dia era reconhecido internacionalmente, se envolvendo com a pior raça de republicanos nos Estados Unidos e grandes nomes da extrema-direita da Europa.

Mas la estava ele, com aquele tom dos tempos da faculdade de jornalismo, sarcástico e arrogante como sempre.

- Vigário, preciso de um favor.
Meu amigo, o rockstar que você conheceu aqui comigo, esta na Irlanda para um festival e já liberei todos seus acessos para o hotel, festas e o próprio show.
Ele não parece estar muito bem, parece ser depressão, e você sempre foi o cara que lidou bem nesse fundo do poço, acho que fará bem a ele essa visita. - por alguns milésimos de segundos senti uma preocupação legitima na voz de Latini.

Isso era algo inacreditável.

Em um dia normal, eu mandaria Latini se fuder e desligaria a ligação, mas fui pego de surpresa e sem reação, horas depois estava indo de encontro com o rockstar, mas conhecido como Anticristo.

Eu não sei dizer porque me sentia na obrigação de fazer um favor a Latini, mas la estava eu entrando em um hotel para uma noite que eu sabia do tamanho do problema.

Assim como na primeira vez que encontrei o anticristo, o filme se repetia.

Entrada especial para mim que levava direto para a cobertura do hotel, que era uma espécie de apartamento separado.

Era gigante, impossível de imaginar vendo de fora.

Um sorriso conhecido me recebia com uma garrafa de tequila na mão.

- A primeira dose é sempre comigo e depois subimos o Everest juntos. - A guitarrista da banda dizia ao me abraçar.

- Nada de trilha para mim hoje - Eu respondia virando aquela primeira dose de tequila com ela.

Na última vez que encontrei a guitarrista, ela me levou para outro mundo.

Acordei de manhã deitado na cama com ela e mais duas sem ter nem um flash de memória.

Hoje a missão maior era sobreviver ao backstage.

A guitarrista já era uma velha conhecida, dos bons tempos, onde limite era só uma palavra e não uma realidade.

Ela me pegou pela mão e me encaminhou para a sala mais reservada onde aquele rockstar decadente estava mergulhado em escuridão.

Veja só se não é o autor da minha biografia - Palavras tímidas e melancólicas saiam daquele homem que nem de longe parecia ser o anticristo criador de polêmicas na mídia.

E não, eu não era o autor da sua biografia, isso seria um convite para o futuro que eu realmente aceitaria.

Ao seu lado, em uma mesa de cristais, o famoso Everest.

- Vai trilhar na neve comigo? - Ele sussurrava enquanto com sua nota de 500 euros puxava a maior quantidade de pó que conseguia aspirar.

Ele apagava por segundos, como um transe, e voltava como se fosse uma viagem de horas, com aquele olhar perdido e as pupilas enormes.

Eu ainda me assustava, mesmo já tendo assistido aquele ritual por algumas vezes com Latini e até ele mesmo.

Não trouxe meu casaco para essa trilha, vou ficar na tranquilidade da tequila que sempre cuidou bem de mim - Eu dizia sorrindo enquanto a guitarrista já servia mais uma dose para nos.

O Everest, assim como o verdadeiro, deixava corpos pela trilha.

Aquela imensidão deixava muita gente desnorteada, e nesse caminho se você se perde, não existe segunda chance.

O anticristo sabia o caminho mesmo de olhos fechados, e antes mesmo que eu pudesse terminar uma próxima fase, ele já estava afundado naquela enorme montanha de cocaína novamente. 

Ele estava depressivo e fora de controle na droga que mais deixava ele em uma situação vulnerável.

Era visível que aquilo era uma situação extrema e que Latini não exagerava em me pedir ajuda.

Mas não sou um psicologo ou mesmo tenho grandes experiencias com essa droga.

Mesmo vendo a força que a cocaína tinha na irlanda.

A ilha esmeralda hoje em dia daria orgulho a Pablo Escobar.

Na cabeça de Latini eu era um ótimo exemplo de depressivo no passado e acho que para ele fazia sentido, um depressivo deve entender outro.

Além disso, mesmo de longe, Latini sempre queria soltar meus demônios, ele sempre foi essa pessoa.

Depois de algum tempo de conversa, a impressão era que não veria o anticristo muitas vezes mais, ele estava ladeira a baixo e eu já sentia uma energia de tragédia no ar.

Ele me falou sobre o projeto da sua biografia e falou que eu era a pessoa ideal para escrever.

Sorri e falei que se minha empresária autorizasse, eu topava.

Logico que falei isso para enrolar.

Não queria acordar com a notícia de que ao quarto ao lado, mais um rockstar tinha estourado seus miolos.

Depois de algum tempo, a guitarrista com uma nova garrafa de tequila veio me buscar e me tirar daquele umbral que eu me encontrava.

O anticristo sequer notou a minha ausência. 

Ele parecia uma mudança climática que destroçava todo o Everest.

A guitarrista nunca andava sozinha.

E como na primeira vez, dentro do quarto tinha mais duas amigas.

- Eu estou em uma fase mais calma, essa disposição de antigamente não existe mais. - Fazia meu discurso de quem estava focado em sair inteiro dessa vez.

- Eu também estou, por isso hoje vamos ficar só na tequila, sem drogas. - Ela apontava para a mesa do lado da cama, com pelo menos umas 10 garrafas, enquanto sorria com uma falsa ingenuidade na minha direção.

Sorrisos sempre foram meu fraco.

Mais uma dose de tequila aparecia e com ela minha esperança de manter uma noite tranquila se despedia.

La estava eu novamente, acordando com a boca seca, na cama com a guitarrista e suas amigas, com uma ressaca dos diabos.

Eu sempre me subestimava, mas sobrevivendo a essa noite, dessa vez com memórias, parecia que eu estava mais forte do que morto.

O vislumbre dos dias de glória não conseguiam amenizar a tontura e a vontade de vomitar.

Sai dali e fui direto pegar o carro que me levaria para casa.

Minha missão era só ouvir o anticristo e voltar para casa.

Tinha deixado Da Vinci sem comida e Filé de peixe ficava meio incomodada se eu ficasse fora.

Um rockstar jamais entenderia as minhas novas prioridades.


segunda-feira, 15 de julho de 2024

E se hoje fosse seu último dia?

 




Ontem ela estava de frente para o por do sol em Santorini e hoje esta aqui sentada em um banco de madeira em um pub em Limerick comigo.

Por mais diferente que seja os cenários, não fazia muita diferença naquele momento.

Limerick estava naqueles dias de agradecimento, para quem nunca desiste dela.

Quente o suficiente para ser aconchegante, sem ventos e com o céu avermelhado.

A cerveja gelada na mesa acompanhava aquele reencontro que tinha um sentimento tão especial.

A viajante era uma amiga dos tempos de restaurante, assim como a turca do ácido e o pato loco.

Trabalhamos juntos alguns meses apenas, porque ela já estava indo se jogar para o mundo.

Ela virou uma amiga secreta no restaurante, pois só conversamos no depósito, onde tomávamos vinho escondido e quando voltávamos ao trabalho, fingíamos não ter intimidade.

Sempre que ela começava a falar dos seus planos, de ir para o mundo, sem pensar no dia seguinte, aquela liberdade exalava uma energia vibrante e apaixonante.

Era uma energia que te energizava também.

No início parecia até algo fantasioso de uma jovem que vivia no mundo dos sonhos, mas ela era alguém que sempre lutava pelo que acreditava.

Hoje, depois de mais de 40 países, vivendo diferentes culturas, resolveu dar uma parada no seu amor antigo, que era como ela se referia a Limerick.

Casa, ela não conseguia dizer, para ela casa era o mundo.

A viajante tinha esse espirito cigano que se alimentava de experiências e de incertezas.

Não posso me aprofundar sobre ela, esse sempre foi o conselho dela.

Ela era um ladra de corações, roubava o seu e depois partia, mas comigo ela já chegou avisando isso de início.

Eu achava graça, pois eu também tinha uma certa fama parecida por aí.
A diferença é que como ela não fincava raízes em lugar nenhum, ela estava sempre indo embora, e não existia nada que fosse parar suas despedidas.

No fundo, ela gostava daquele sentimento, de perder algo e tentar cicatrizar isso com algo novo.

Ela sabia o quão corrosiva podia ser para alguém, e resolveu tatuar seu lema na costela.

“Don’t try”.

Que significava “não tente”.

E assim, com esse aviso de cuidado estampado, ela se sentia um pouco menos culpada, toda vez que vivia algo que sabia que iria terminar na próxima virada de página.

Ao mesmo tempo, ela tinha no braço uma tatuagem que dizia “Hic et nunc”, do latim que basicamente era o seu mantra, “Aqui e agora”.

Ninguém pode dizer que teve o coração despedaçado por ela por falta de aviso.

Ela vivia realmente o presente.

Estávamos ali aproveitando aquela tarde agradável, que como ela dizia, eram os momentos mais importantes da vida dela.

Sempre o agora.

A cidade estava cheia devido a eventos de música de verão, então tinha aquele ar diferente, de pessoas de outros lugares passando pela rua.

Ver pessoas diferentes sempre foi algo que me agradava e a ela também.

Talvez um dos fatores mais importantes da vida que ela levava fosse esse, sempre ver pessoas diferentes.

E como uma espécie de guru, começou a me aconselhar sobre a minha ideia de me jogar para o mundo.

Antes de qualquer conselho, ela tinha uma pergunta.

- E se hoje fosse seu último dia?
Essa era a vida que você ia querer?

E ela preenchia o silêncio que deveria ser minha resposta com pensamentos que trazia da sua experiência.

Como era importante deixar os nossos medos para trás, para evitar congelar com questionamentos de futuro que as pessoas vão jogar em você.

Realmente ela era muito madura sobre as suas escolhas.

Ela mostrava um pequeno ressentimento com pessoas próximas que a vinham como uma pessoa egoísta pelo fato dela viver a vida e as escolhas dela.

Ouvindo ela, dava para ter um entendimento melhor de como o tempo passa rápido e você não percebe como sua vida ta se evaporando.

Ela era muito cobrada pela família, por padrões que nunca foram dela.

Como criação de família, ter filhos, de estar longe de familiares.

Eu conseguia ver quanta pressão ela sofria com suas escolhas e se sentia injustiçada por esse apedrejamento moral.

Ela não conseguia acompanhar de perto o crescimento da afilhada, que era o amor da sua vida e até isso a família tentava jogar no psicológico dela.

Para a afilhada, ela era uma heroína dos quadrinhos, mesmo longe, sempre atenciosa e tão próxima quanto sua família.

Os pais diziam estar envelhecendo sem ela, filha única, e que isso era um dos maiores pecados perante deus.

Ela me respondia sorrindo, mesmo com a tristeza no olhar com essa carga psicológica.

- Não sou religiosa, meus pais viveram a vida deles.
Erraram, acertaram, expandiram o mundo deles o quanto quiseram e hoje querem que eu abra mão da minha vida, para viver a deles.
Não faz sentido.

Isso não era um desabafo de algo recente, pelo contrário, ela já tinha aprendido a lidar com aquilo.

Ela só estava ali mostrando as partes difíceis da minha futura escolha.

Sempre fui cobrado e chamado de egoísta pelas minhas fases mais reclusas.

Na fase viajante não será diferente.

Algumas pessoas se preocupam de verdade, mas se tornam toxicas com essa preocupação que faz de tudo para podar suas asas.

Outras só estão jogando em você as suas inseguranças.

Uns poucos não gostam de ver você fora da bolha, esses nem deveriam estar na sua vida.

Quando você expande seu mundo, sua forma de pensar, a tendência é perder bastante pessoas nessa caminhada.

Mas o que aprendi nessa vida louca, é que quem fica, é que importa.

Quem vai, tinha que ir.

A insegurança de outras pessoas não devem te envenenar.

Ouça sua culpa e veja ela ser honesta com você.

Se você foi honesto com suas escolhas, com o que desejava, as pessoas a sua volta estarão sempre por você la.

Você nunca vai estar sozinho.

Na sua busca, o ideal é não perder nem mais um dia.

Não existe amanhã nesse mundo.

Enquanto não se move e se deixa levar pelo que as pessoas querem para sua vida, você vai continuar com essa secura na boca.

Esse nó na garganta, que é aquela sensação de que o amanhã nunca vai chegar.

Você vai ouvir que esta fugindo da vida, mas, na verdade, esta fugindo para viver.

Imagine o seguinte cenário.

É te dada a oportunidade de ter uma vida livre, onde você pode ser o que você quiser.

Fazer e sentir o que você desejar.

Mas você optar por viver uma vida cheia de amarras.

Compra a versão dada que para ser feliz você precisa abdicar de viver.

E é isso que você faz, para juntar farelos que possa te dar uma segurança no futuro.

Futuro esse que é tão futuro que não existe nem a possibilidade de pensar como seria.

Abre mão do sorriso atual, para ter mais umas moedas guardadas debaixo do colchão.

Um dia, cansado com aquele sorriso sofrido no rosto, você decide que agora vai ser diferente.

Se dá um jantar de presente.

Olha aquele prato chique, da alta gastronomia na sua frente e consegue identificar entre vieras e trufas, algumas ervilhas soltas no prato.

Não faz muito sentido elas ali e você não é muito fã de ervilhas.

Mas é por la que você vai começar.

Agora é a fase de aproveitar as pequenas coisas.

Na primeira ervilha, seu mundo roda e desaparece.

Não pela experiência gustativa impressionante que você teve, mas sim porque você engasgou com ela e morreu ali.

Triste, sozinho, solitário, frustrado por não viver a vida antes e convicto que a vida é um sopro e perder tempo nela é uma sentença de pena de morte.

Seu dinheiro morreu la debaixo do colchão sem proposito.

As pessoas te esquecem com o passar do tempo, porque você viveu uma vida de engrenagem.

As limitações que você se impôs por culpa de algum seguimento social, tiraram o seu direito de viver, te cegaram e te tiraram aquele luar prateado de esperança.

Existem pessoas que ficarão felizes por ver você feliz, sem dar pitaco nas suas escolhas.

Se você não busca a sua felicidade, você esta sendo egoísta com você e com essas pessoas.

Mas ser egoísta não é o problema, ser infeliz que é.

Pensar muito sobre isso sempre me fez revisar cada escolha do passado, procurar novas respostas e identificar padrões de comportamentos errados.

Recalcular rota sempre foi uma ferramenta na minha vida, continuar dirigindo na direção errada nunca foi meu estilo.

Ali estávamos conversando sobre a vida e eu fui entendendo melhor nossas escolhas diárias.

Uma conversa diferente desses monólogos que vemos quando encontramos alguém que só quer despejar em você todos os seus problemas.

Era bom estar com a viajante de novo, ela tinha essa aura de quem realmente estava feliz.

Felicidade é essa soma de pequenos momentos positivos, que poucas pessoas conseguem juntar.

Não conseguem colecionar, porque estão tentando sobreviver ou estão vivendo a vida que outra pessoa quer.

A viajante está indo embora amanha, para a Colômbia.

Ela sabe exatamente o que faria se o dia acabasse hoje.

E eu vou aproveitar a boa companhia e a cerveja gelada, porque mesmo me jogando no mundo amanha, hoje eu já tenho a paz que procuro.

sábado, 6 de julho de 2024

Construindo uma casa pegando fogo na colina



Como um personagem que consegue quebrar a quarta parede, venho aqui comunicar que sua vida está uma merda e só você não percebeu.

Você cria uma imagem bonita para que as pessoas te admirem, seja por beleza ou uma falsa modéstia.

Uma imagem reluzente e sedutora que outrora você resolveu imitar de pessoas que achou relevante.

Mas na real, não suporta sua própria companhia por 1 hora.

Po isso a necessidade de nunca estar sozinho, de sempre estar criando falsos laços.

A pessoa que não consegue ser uma boa companhia para ela própria, nunca será para outras de forma verdadeira.

Você participa de grupos sociais que só estão com você enquanto você os ouve.

Tente questionar ou mesmo precisar de ajuda real e aí você conhecera os leais.

Já te aviso antecipadamente, daqui acompanhando sua história, você verá mais costas do que rostos.

O lado positivo disso é que você descarta quem quer que seja, e continua seu caminho, machucado ou não.

Claro, se você não quiser continuar essa vida fútil, onde frases prontas e sorrisos automáticos são o suficiente para inflar seu ego.

Bem-vindo ao clube dos que veem a ficha cair.

Luto, frustração, desanimo, arrependimento, medo.

Todos os sentimentos ruins juntaram-se como uma gangue e resolveram que agora é o momento de te espancar na rua.

É assim que você vai se sentir quando realmente enxergar o mundo a sua volta.

Perceber o quanto da sua intimidade foi violada com a sua autorização.

Como você mostrou os códigos, fechaduras e passagem secretas do seu eu para pessoas que você achou ser um porto seguro.

Eu sei, a sensação é de ser um idiota.

Ainda mais quando você vai percebendo que priorizou pessoas e escolhas baseado nessa confiança.

Se consola, seu narrador já passou, esta passando e passara por isso inúmeras vezes.

Nunca fica mais fácil.

As pessoas se aproveitam da sua fraqueza, esse é o padrão desses tempos sombrios.

Tudo isso se aplica para relacionamentos, amizades, ambientes de trabalho e até mesmo seu culto de domingo.

Onde tiver pessoas, você estará sujeito a isso.

O ditador do carioca que diz que todo dia acorda um malandro e um otário, é real.

E eles vão se encontrar no decorrer do dia, essa é uma atração mais forte que a do livro o segredo.

Mas você sempre vai acordar no dia seguinte.

E vai ter a chance de fazer diferente.

De rever conceitos.

Substituir pessoas na sua vida.

Mudar prioridades.

Fazer uma limpa no que te faz mal e focar no que te faz bem.

Curar essa miopia que te faz não enxergar como você é refém de uma manipulação emocional que vai te afundar e fazer você jogar sua vida fora.

Errar e se fuder na vida é uma constante.

Faz parte de lições e aprendizados que você vai ter tatuado na pele.

Mas essa tatuagem só vira um câncer se você deixar isso ir te consumindo sem lutar.

Sua vida é agora.

Seu passado te envenena e seu futuro te joga em uma crise de ansiedade.

Vá viver o agora.

Você fica evitando o sabor amargo de uma decisão que aparentemente é difícil sem entender que esse é o remédio que vai te salvar.

Muito fácil para mim falar isso para você, eu sou seu narrador e tenho todo o roteiro da sua história nas minhas mãos.

Te assisto incessantemente e sei cada passo que você dá.

Eu acompanho cada parte da sua construção.

Você esta construindo um lar muito bonito la no alto do morro, mas que está condenado de início.

De várias formas.

Essa colina que você escolheu, esta condenada com deslizamentos.

Enquanto você está preocupado em colocar plantas lindas na frente da casa, tem um incêndio tomando a casa na parte de trás.

Essa casa não parece ter futuro, mas você continua achando que é só uma fase ruim.

Quando eu preciso quebrar a quarta parede, eu sou invasivo e tenho por obrigação te constranger e te expor.

É tipo uma intervenção.

Um tratamento de choque.


Dizer que isso vai terminar mal parece um pleonasmo.

Ouça mais as vozes da sua cabeça ao invés de ouvir os outros.

As pessoas estão sempre te manipulando, com a intenção ou não.

Eu estou com você desde a casa na planta.

Sei do que você sempre precisou.


Mas você se excita em dar o controle da sua vida na mão de alguém.

Não tem terapia que consiga acessar esse problema.

Sua vida precisa mudar.

Você precisa se reencontrar.

Conseguir entender que não existe nada que é mais importante que sua felicidade.

Você tem medo da solidão, quando, na verdade, ela é sua amiga.

Ela que te ensina a viver melhor com você mesmo e como consequência melhor com outras pessoas.

Quando você a ignora, perde se um dos maiores aprendizados da vida.

A ignorância não é uma benção como fazem você acreditar.

Mundo fechado é sufocante e faz você ter mais probabilidades em ser o otário do ditado carioca.

Expanda seu mundo.

Abra seu horizonte.

Não deixe a ansiedade te cegar dos milhares de caminhos diferentes que estão a sua frente.

Combata a ideia de alguém governar esse lugar tão particular e importante que é a sua cabeça.

Jamais abra mão da sua paz.

Só assim você vai conseguir construir a sua casa.

Não abaixe a cabeça nem mesmo ao seu deus.

Sete vidas só um gato, (ou 9 na Irlanda.)

Você só terá uma.

Lute por ela.

Chore o quanto for, mas reaja porra.

Ver daqui você só se lamentado e mendigando atenção é revoltante.

Cresça, deixe de lado essa carência, mesmo que para isso você vire o vilão da sua história.

Do contrário, o fogo vai perder o controle e tomar tudo que você construiu até agora.

Para ser sincero, eu não vou me importar.

Serei o narrador de outra infeliz história.

Talvez eu esteja te manipulando, você só vai descobrir quando parar de ser manipulável.

Essa é a hora de pegar essa porrada de sentimentos presos que estão te sufocando e gritar o mais alto que puder.

Respirar fundo e fazer a mudança necessária.

Se tudo der certo e você seguir esse caminho, não haverá mais a necessidade desse narrador que os fala, vir aqui dar pitaco de como você vive essa insolente vida.

Espero receber o convite da tão aguardada inauguração da sua casa no alto da colina e não uma mensagem de condolências devido à sua morte prematura nesse incêndio que você criou.