Uma hora a vida tinha que voltar ao normal.
Ari resolveu organizar uma viagem para Bratislava com o nosso grupo de amigos mais íntimos.
Eu, Ari, John, Faith, Elliot, Rudolph e Latini.
Eles ficaram preocupados de que eu desse uma pirada depois que recebi a notícia da tentativa de suicídio da minha ex.
E a viagem foi uma completa loucura, um futuro conto.
Depois dessa viagem, Faith voltou junto comigo, Ari e John para Irlanda, para passar uns dias.
Faith era uma ótima companhia, sempre sorrindo e moldando a energia da pessoa ao lado.
Foi importante para me trazer de volta ao dia a dia.
Antes dela voltar ao Brasil, estávamos um dia sentados em um pub jogando conversa fora.
- Você e o Ari não vão se assumir de vez? – Perguntei sorrindo.
- Vigário, eu tenho certeza que amo o Ari, quando estou com ele me sinto como a mulher mais feliz do mundo.
Mas estava solteira e me envolvi com um cara em uma noitada dessas e resolvi deixar rolar. – Faith parecia desabafar sobre esse fato meio envergonhada.
- Porra Faith, você jogou na balança tudo isso que falou e escolheu o cara da balada?
Vocês mulheres são realmente confusas em fazer escolhas.- falei ironizando
- Vamos esquecer esse fato e falar de você.
Agora que você já está bem mais positivo, faça o favor de ir encontrar a tatuada do voo – Ela falava isso em tom de ordem.
Alguns dias se passaram, Faith voltou ao Brasil e eu resolvi seguir seu conselho.
Quando voltamos da Bratislava, viemos na classe A e não havia ninguém ao meu lado.
A aeromoça veio me perguntar se poderia colocar uma pessoa ao meu lado, porque eles tiveram um problema de gerenciar os lugares na outra classe.
Eu aceitei sem problemas, desde que ela não regulasse meus uísques durante a viagem.
Ela apenas sorriu e disse que tínhamos um acordo.
No minuto seguinte eu fui surpreendido pela minha nova companheira de voo.
Uma mulher com um brilho diferenciado.
Eu não sabia explicar o que me chamou tanta atenção naquele momento.
Ela tinha várias tatuagens, mas esse não foi o fator que me deixou completamente perdido olhando aquela imagem que parecia irreal.
Ela tinha olhos cor de mel, era branquinha com os cabelos coloridos.
Um tom loiro com umas mechas rosa.
Sentou se ao me lado, se apresentou e perguntou se podia tomar um gole do meu uísque.
Antes de eu responder que sim, ela já estava tomando do meu copo.
No voo viemos conversando bastante e no desembarque ela me deu seu contato dizendo para procurá-la.
Até aquele momento em que Faith me intimou a encontrá-la, eu já tinha deixado isso de lado.
Mas logo em seguida resolvi seguir seu conselho e entrei em contato.
Nos encontramos algumas vezes, bebemos e ficamos cada vez mais próximos.
Virou uma espécie de relacionamento.
Ela vinha a minha casa passar os finais de semana.
Criamos a famosa rotina.
Depois de toda aquela loucura dos últimos meses, aquele relacionamento parecia ser uma terapia, na verdade, para ambos.
Ela passou por muita merda também antes de me encontrar.
Vinha de uma fase de abuso de drogas e agora estava focada a ter uma vida em paz.
Estávamos meses juntos.
Eu adorava cozinhar para ela.
Cozinhar não era minha praia, mas eu gostava de pegar umas receitas e tentar fazer algo.
Eram erros e acertos, mas sempre nos divertíamos.
Todo mês tínhamos a fase onde eu precisava ser mais cuidadoso do que o normal.
A fase das cólicas.
Eu passava o dia deitado ao seu lado, tentando lhe confortar de algum jeito, enquanto ela se revirava e gritava de dor.
Era realmente algo surreal, principalmente no primeiro dia.
Após passar horas sofrendo e sendo paparicada, ela vinha me agradecer com um beijo.
Logo em seguida estávamos transando como loucos.
O que era um erro quase que fatal.
Pois minutos depois ela estaria com as cólicas potencializadas ao quadrado.
E me xingaria até pegar no sono.
Era uma fase difícil, mas divertida.
Nos dias normais, adorávamos parar para ver filmes.
Mas pegávamos a programação da TV que estava rolando, então sempre víamos todos pela metade.
Era nossa especialidade.
Não lembro de ter visto um filme completo com ela.
Às vezes, quando começávamos um do início, eu ignorava o filme e ficava tateando suas tatuagens.
Eu tinha uma sensação de que podia sentir suas tatuagens de uma forma diferente.
E ficava ali por horas.
Ela por sua vez, se sentia muito relaxada com isso e dormia como um anjo com aquele semblante calmo que me transmitia tanta paz.
Nós éramos fadados ao fracasso na missão de terminar um filme.
Ficamos nesse relacionamento por um bom tempo.
Até que ela recebeu uma proposta de emprego irrecusável para os Estados Unidos.
Ela sentou se na minha frente e me explicou o quão sensacional era o contrato que tinha sido oferecido a ela por uma empresa americana.
Eu fiquei realmente feliz por ela.
Quando ela terminou de me contar todos os detalhes, ela tinha uma pergunta.
Você vai comigo?
Eu tinha vindo de alguns fracassos e situações difíceis do qual eu estava me restabelecendo.
Ela com certeza foi um dos motivos que me ajudaram a me reerguer.
Mas eu tinha esse sentimento de que não podia sair dali com aquela sensação de derrotado.
Tinha prometido para mim mesmo, sair dessa cidade com a sensação de dever cumprido, e para isso ainda faltava bastante.
Ela parecia já esperar pela minha resposta negativa.
Eu vi seus olhos de mel se encherem de lágrimas,quando ela me deu um abraço forte.
Ela então me agradeceu por fazer tão bem a ela durante esse tempo e se despediu dizendo que não queria me perder.
Iria manter contato e fazer de tudo para ficarmos juntos em breve.
No dia que voltei do aeroporto após me despedir, cheguei em casa e vi na minha cama a sua bolsa térmica para cólica.
Ela havia deixado como lembrança.
Agora toda noite usava sua bolsa térmica para me esquentar.
E ficava ali sonhando com a sensação do tocar suas tatuagens novamente.