Eu vinha de dias complicados.
Meio baixo astral.
Era a primeira vez em algum tempo, que me trancava em meu quarto no escuro por uns dias.
Fazia bastante tempo que não era tocado por essa sensação negativa que me jogava para baixo, que me deixava imobilizado.
Minha defesa sempre foi a escuridão.
Fugia do mundo e me afundava em leituras.
Depois de alguns dias, tomei coragem e sai do quarto.
Coloquei meu moletom estilo pijama, meus chinelos, prendi meus cabelos em forma de coque e coloquei Mozart no talo nos meus fones de ouvido.
Aquele estilo estranho que sempre me encontrava, para ir fazer minhas caminhadas pela manhã.
No começo, quando cheguei na cidade, eu conseguia perceber como eu era observado pelas ruas, com olhares de estranheza.
O tempo foi passando ,e as pessoas já me conheciam como escritor hoje em dia.
Tanto que já havia sido entrevistado na rádio da cidade.
Depois da entrevista, parecia que as pessoas já me vinham apenas como um excêntrico.
Parte da bagagem que você recebe quando se vive de criar mundos, personagens e personalidades com a escrita.
Além disso, eu já era bem conhecido nos pubs da cidade, dos mais movimentados aos mais marginais.
Minha energia estava aos poucos de volta depois de tanta negatividade.
Só quem passa por essas ondas de melancolia e angustia sem sentido, consegue entender como é esse sentimento.
Você se sente um lixo e perde o gosto de viver sem motivo algum.
Esse sentimento pode permanecer lá por dias, semanas ou mesmo meses.
Fazia bastante tempo que não era pego, mas o importante da luta é sempre os dias de pé.
O resto você deixa para trás.
Repito uma espécie de mantra que criei com os anos nessa luta ,que é não se cobrar por algo que não tenho controle.
Parece muito fácil para quem está de fora, mas é muito difícil de não deixar isso te afetar.
Então continuo repetindo esse mantra infinitamente até que meu cérebro entenda isso de forma natural.
Hoje em especial, enquanto caminhava, tinha uma sensação estranha e estava mais observador.
Tentava olhar o mundo ao meu redor.
Observava o movimento dos carros e das pessoas na rua.
Pássaros voando, cachorros com seus donos interagindo com aquela selva de pedra.
E rostos estranhamente conhecidos.
Os moradores de ruas já faziam parte da minha mente fotográfica.
Alguns já até me cumprimentavam.
Um jovem loiro que sempre passava por mim pela rua principal com o rosto inchado, pôs choro.
Sempre com seu terno azul bem alinhado e seu sapato social de couro lustroso que demonstrava que ele tinha um bom emprego.
Mas sempre que passava por mim ,tinha esse semblante de quem tinha terminado de chorar, ou mesmo de quem ainda estava chorando.
Sempre tive vontade de chama ló para trocar uma ideia.
Ele parecia alguém que precisava de ajuda.
Eu tinha um pouco de medo de não encontra-lo mais em uma dessas minhas caminhadas pela manhã.
O que é estranho, quando você associa que ele era apenas um desconhecido do qual não sabia nem o nome.
Logo em seguida era a parte de analisar como já tinha meus passos automaticamente pensados.
Aquele meu movimento de caminhar até uma certa altura da rua, e atravessar para o outro lado quando chegava a uns 20 metros de distância daquele grupo de meninas mórmons sorridentes.
Era um filme repetido na minha cabeça, que me dava a sensação de que aquilo já tinha acontecido.
E não era apenas sentimento de rotina.
O maltrapido que sempre me pedia 1 euro para uma dose.
Mesmas palavras, mesmos gestos e mesma energia.
Misteriosamente eu pegava minha carteira já visualizando a cena onde eu retirava a moeda de 1 euro e entregava a ele.
- Essa vai ser por nós - Ele dizia.
Comigo repetindo aquela frase no mesmo momento mentalmente.
Aquela cena de um Cisne mais ousado, que saia da área do rio e vinha tentar atravessar a pista principal.
A tranquilidade dos motoristas que aguardavam aquela travessia, com um bom humor estranho para quem acorda cedo.
Enquanto eu escolhia meus cogumelos no mercado, eu via uma luz diferenciada se aproximando.
E eu já sabia quem era exatamente, por causa daquela sensação de ter vivido aquela cena antes.
Era uma funcionária do mercado que sempre estava ali organizando as frutas e verduras.
Meio baixo astral.
Era a primeira vez em algum tempo, que me trancava em meu quarto no escuro por uns dias.
Fazia bastante tempo que não era tocado por essa sensação negativa que me jogava para baixo, que me deixava imobilizado.
Minha defesa sempre foi a escuridão.
Fugia do mundo e me afundava em leituras.
Depois de alguns dias, tomei coragem e sai do quarto.
Coloquei meu moletom estilo pijama, meus chinelos, prendi meus cabelos em forma de coque e coloquei Mozart no talo nos meus fones de ouvido.
Aquele estilo estranho que sempre me encontrava, para ir fazer minhas caminhadas pela manhã.
No começo, quando cheguei na cidade, eu conseguia perceber como eu era observado pelas ruas, com olhares de estranheza.
O tempo foi passando ,e as pessoas já me conheciam como escritor hoje em dia.
Tanto que já havia sido entrevistado na rádio da cidade.
Depois da entrevista, parecia que as pessoas já me vinham apenas como um excêntrico.
Parte da bagagem que você recebe quando se vive de criar mundos, personagens e personalidades com a escrita.
Além disso, eu já era bem conhecido nos pubs da cidade, dos mais movimentados aos mais marginais.
Minha energia estava aos poucos de volta depois de tanta negatividade.
Só quem passa por essas ondas de melancolia e angustia sem sentido, consegue entender como é esse sentimento.
Você se sente um lixo e perde o gosto de viver sem motivo algum.
Esse sentimento pode permanecer lá por dias, semanas ou mesmo meses.
Fazia bastante tempo que não era pego, mas o importante da luta é sempre os dias de pé.
O resto você deixa para trás.
Repito uma espécie de mantra que criei com os anos nessa luta ,que é não se cobrar por algo que não tenho controle.
Parece muito fácil para quem está de fora, mas é muito difícil de não deixar isso te afetar.
Então continuo repetindo esse mantra infinitamente até que meu cérebro entenda isso de forma natural.
Hoje em especial, enquanto caminhava, tinha uma sensação estranha e estava mais observador.
Tentava olhar o mundo ao meu redor.
Observava o movimento dos carros e das pessoas na rua.
Pássaros voando, cachorros com seus donos interagindo com aquela selva de pedra.
E rostos estranhamente conhecidos.
Os moradores de ruas já faziam parte da minha mente fotográfica.
Alguns já até me cumprimentavam.
Um jovem loiro que sempre passava por mim pela rua principal com o rosto inchado, pôs choro.
Sempre com seu terno azul bem alinhado e seu sapato social de couro lustroso que demonstrava que ele tinha um bom emprego.
Mas sempre que passava por mim ,tinha esse semblante de quem tinha terminado de chorar, ou mesmo de quem ainda estava chorando.
Sempre tive vontade de chama ló para trocar uma ideia.
Ele parecia alguém que precisava de ajuda.
Eu tinha um pouco de medo de não encontra-lo mais em uma dessas minhas caminhadas pela manhã.
O que é estranho, quando você associa que ele era apenas um desconhecido do qual não sabia nem o nome.
Logo em seguida era a parte de analisar como já tinha meus passos automaticamente pensados.
Aquele meu movimento de caminhar até uma certa altura da rua, e atravessar para o outro lado quando chegava a uns 20 metros de distância daquele grupo de meninas mórmons sorridentes.
Era um filme repetido na minha cabeça, que me dava a sensação de que aquilo já tinha acontecido.
E não era apenas sentimento de rotina.
O maltrapido que sempre me pedia 1 euro para uma dose.
Mesmas palavras, mesmos gestos e mesma energia.
Misteriosamente eu pegava minha carteira já visualizando a cena onde eu retirava a moeda de 1 euro e entregava a ele.
- Essa vai ser por nós - Ele dizia.
Comigo repetindo aquela frase no mesmo momento mentalmente.
Aquela cena de um Cisne mais ousado, que saia da área do rio e vinha tentar atravessar a pista principal.
A tranquilidade dos motoristas que aguardavam aquela travessia, com um bom humor estranho para quem acorda cedo.
Enquanto eu escolhia meus cogumelos no mercado, eu via uma luz diferenciada se aproximando.
E eu já sabia quem era exatamente, por causa daquela sensação de ter vivido aquela cena antes.
Era uma funcionária do mercado que sempre estava ali organizando as frutas e verduras.
Ela sempre se aproximava, mas em uma distância
mínima que me deixava próximo o bastante para eu que eu pudesse contemplar aquela
beleza de forma reservada.
Ela nunca nem notou minha presença.
Ela tinha um vermelho natural no seus cabelos que pareciam ter uma luz vinda de um pôr do sol de Santorini.
Usava óculos que dava um ar de seriedade e tinha a pele coberta de sardas.
Tinha um olhar melancólico e organizava as coisas em silencio e saia dali para outro setor depois de perceber que tinha alguém naquele mesmo setor que ela.
Essa era a cena que já tinha passado na minha cabeça antes mesmo de acontecer.
E ela ia acontecendo como um filme repetido.
- Você realmente se diverte nessa tarefa de escolher seus cogumelos né? – Ela falava comigo com aquele sorriso tristonho.
E aquela frase me deixou congelado, sem reação.
Ela simplesmente mudou o roteiro daquele filme.
Eu tinha a certeza de que aquilo era um Déjà vu, e ela fazia todo o caminho para ser.
Todos os movimentos, até mesmo as pausas para respiração mais profunda de ambos.
Aquela frase não cabia ali.
Por alguns segundos eu fiquei completamente fora do ar.
- Desculpa, talvez eu tenha atrapalhado seu momento sagrado – Ela falava me trazendo de volta para aquele momento.
-
Essa é a parte mais importante do meu dia. - Respondia
completamente desconcertado e meio gaguejando.Ela nunca nem notou minha presença.
Ela tinha um vermelho natural no seus cabelos que pareciam ter uma luz vinda de um pôr do sol de Santorini.
Usava óculos que dava um ar de seriedade e tinha a pele coberta de sardas.
Tinha um olhar melancólico e organizava as coisas em silencio e saia dali para outro setor depois de perceber que tinha alguém naquele mesmo setor que ela.
Essa era a cena que já tinha passado na minha cabeça antes mesmo de acontecer.
E ela ia acontecendo como um filme repetido.
- Você realmente se diverte nessa tarefa de escolher seus cogumelos né? – Ela falava comigo com aquele sorriso tristonho.
E aquela frase me deixou congelado, sem reação.
Ela simplesmente mudou o roteiro daquele filme.
Eu tinha a certeza de que aquilo era um Déjà vu, e ela fazia todo o caminho para ser.
Todos os movimentos, até mesmo as pausas para respiração mais profunda de ambos.
Aquela frase não cabia ali.
Por alguns segundos eu fiquei completamente fora do ar.
- Desculpa, talvez eu tenha atrapalhado seu momento sagrado – Ela falava me trazendo de volta para aquele momento.
Minha reação foi patética, mas aos olhos dela foi algo divertido.
Mesmo com aquele semblante triste, ela sorria timidamente.
Ela acenou se despedindo dizendo que me encontrava novamente no dia seguinte.
E eu fiquei ali parado olhando para os meus cogumelos.
Eu não sabia o porquê eu fui pego tão de surpresa.
Se foi pela destruição do meu Déjà vu, do qual eu tinha tanta certeza ou se foi por ter sido notado por ela.
Ser notado por alguém que você não espera é uma sensação muito esquisita.
Nesse caso gerou algo inesperado e forte que me deixou com um sentimento muito bom.
Como se eu tivesse recebido uma descarga elétrica, positivamente falando.
E eu andava precisando disso depois daqueles dias.
Eu iria volta mais preparado quando fosse comprar meus cogumelos no dia seguinte.
Eu começaria uma conversa.
Nós teríamos um relacionamento.
Eu saberia o porquê daquela tristeza que ela demonstrava na sua energia.
Eu lutaria por nos.
Lutaria por ela e com ela.
Isso pode ser apenas uma descrição de um novo Déjà vu.
Pode ser a minha imaginação de escritor criando ilusões ou o começo de um novo conto.
Gostei, interessante a abordagem do conto!
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