Um misto de sensações eu estava passando nessa
manhã.
Sentado em um gramado cheio de pequenas flores
brancas, debaixo de uma grande e antiga arvore que estava trocando suas folhas.
Sol brilhando como um presente de Rá, deus do sol na mitologia egípcia.
Sol brilhando como um presente de Rá, deus do sol na mitologia egípcia.
Não tinha álcool saindo pelos poros e muito menos a velha amiga ressaca.
Vários corvos espalhados andando pelas flores a procura de comida, mas com aquela serenidade que lhe são peculiares.
Estava ali na missão de dar uma limpada na cabeça.
Missão essa que vinha sendo tentada várias e várias vezes repetitivamente sem sucesso.
Últimos dias tinham sido puxados no trabalho.
Posição que eu mesmo me coloquei.
Queria dar uma exagerada no batente com a mesma intenção, limpar a cabeça.
O sol realmente foi me dando uma boa sensação, quente na medida certa.
Achei minha posição de conforto ali sentado e resolvi escrever um pouco.
Sempre é um exercício que me tira certos pesos, ajuda a aliviar a ansiedade e a pressão mental.
Estava bem distraído quando sinto algo me abraçando, mas de forma muito leve para ser um abraço comum.
Ari ou Jhon jamais chegariam dessa forma, além disso tinha fugido para cidade vizinha sem avisar a ninguém.
Quando olhei para trás vi uma pequenina menina de uns 5 anos com um sorriso gigante de poucos dentes, olhos arregalados e uma felicidade notável.
Não tive tempo de reação.
Segundos seguintes eu tinha umas 15 crianças em cima de mim.
Aquilo parecia um devaneio da minha cabeça.
O ataque de fofura foi interrompido por uma senhora que vinha em minha direção se desculpar.
Ela era a professora das crianças e estava ali no parque para que elas brincassem.
-Me desculpe, mas é difícil controlar esse amor todo desses pequenos - Ela falava com um sorriso meio constrangido.
Enquanto isso as crianças se espalhavam pelo parque correndo, gritando e sorrindo.
Eu não tenho muita proximidade com crianças.
Elas no geral me deixam com uma sensação desconcertante.
Um molequinho de uns 6 anos, resolveu sentar ao meu lado e começou o que parecia ser um interrogatório de um crime hediondo.
Eu realmente não sabia lidar com crianças.
São de raciocínio rápido demais para mim.
São irônicas em um nível acima do meu.
Percebi que eu não ia conseguir escrever mais.
-Eu sou amigo de um leprechaun e você? - Falei com a esperança de que aquela frase sem sentido assustasse de leve o pequeno Irlandês e o fizesse voltar para os amiguinhos.
-Eu também, falo com ele sempre - Respondeu o moleque com um sorriso no rosto de quem tinha frustrado meu plano e de quebra colocado um pouco de confusão na minha cabeça.
Ele ficou ali uns 5 minutos, depois de usar todas as táticas de tortura que ele deve ter aprendido em um manual nazista.
Depois, se entediou comigo como todo mundo depois de tempo suficiente e saiu para brincar com os amigos.
A paz voltaria.
Engano meu.
Um conhecido do trabalho, que naquele momento percebi que tinha a inocência de se achar meu amigo me viu sentado lá escrevendo e achou uma boa ideia me fazer companhia.
Tem dias que o Tio Lúcifer tira um dia off e resolve se divertir comigo.
Meu “amigo” estava completamente bêbado e com um cheiro de quem não saia do bar a pelo menos 1 mês.
Ele usava fones de ouvido enquanto conversava, o que não fazia sentido algum e o fazia gritar na sua fala.
Eu tentei ser educado nos 2 primeiros minutos, mas sempre soube ser um bastardo profissional quando era preciso.
Coloquei meus fones também e só o respondia com sorrisos, acenos com a cabeça e sim ou não.
Ele não parecia se importar.
Peguei algo bem pesado em alemão e deixei tocando no último volume.
Aquilo parecia ser uma esperança no meio de todo caos.
Ficamos nessa terapia por uns 20 minutos até que ele resolveu continuar sua caminhada.
Saiu sorrindo dizendo como sempre era agradável me encontrar.
O mundo é realmente um sanatório.
Desliguei meus fones e voltei a minhas anotações.
Um casal de jovens com um ar problemático vinha em minha direção.
Eu achei aquilo improvável de acontecer.
O parque era enorme, mas eles resolveram sentar do meu lado.
Eu sei que a Irlanda é fria, mas hoje não era um dia que se precisava de calor corporal.
Eles deviam ter na faixa de uns 16,17 anos.
Típicos jovens rebeldes que você identificava apenas pela postura.
Abriram a mochila e puxaram duas cervejas, mesmo sendo proibido beber na rua na Irlanda.
Já dava para perceber que aquelas não eram as primeiras do dia, e como se não fosse o suficiente, puxaram um baseado gigantesco.
E como sou um privilegiado negativamente, toda a fumaça parecia direcionada ao meu rosto.
Podia levantar e caçar outro rumo mas tinha uma sensação estranha de que todas aquelas perturbações de alguma forma estavam me deixando mais leve.
Sabe se lá porquê.
Minha mente nunca fez sentido.
Tinha conseguido um progresso no meu texto.
Até o momento que tive uma sacada escrita genial, e quando ia por no papel, fui metralhado seguidas vezes por rajadas de água.
Olhava para frente e tinha um pestinha se divertindo com sua pontaria certeira.
Ele parecia orgulhoso com uma arma de água me encarando.
Eu não consegui nem ter tempo para ficar indignado.
Os dois adolescentes começaram a gritar com a criança.
Acho que a dona Mary Jane foi atingida por uma bala perdida.
A mãe da criança resolveu dar o ar da graça.
E eles três ficaram ali na minha frente por uns 5 minutos.
Gritando e falando todo tipo de barbaridade que estava disponível em seu arsenal.
A criança estava correndo pelo parque sem se importar.
Eu estava ali sentado e encharcado e achei melhor finalizar aquele momento de meditação revolucionária.
A minha sacada genial que ia escrever sumiu totalmente da minha cabeça.
Mas por incrível que pareça sai dali sem querer matar ninguém.
Tinha uma leveza na mente inacreditável.
Meu corpo parecia reagir ao caos como bons e velhos companheiros.
Parece que tinha alcançado minha meta.
Agora o meu demônio da garrafa gritava a próxima meta.
CERVEJA.
Mais do que genial!!! Como é incrível a estranha paz que este pequeno texto transmite... Parabéns e continue neste caminho.
ResponderExcluirEu gosto muito do que você escreve
ResponderExcluir