terça-feira, 27 de agosto de 2019

A reencarnação de Janis Joplin




 
Depois de uma hora de voo e 2 litros de agua estava eu em Nova York.

Minha ressaca era insuportável, mas como Maeve estava um pouco estressada com meu atraso no aeroporto que quase custou nosso voo, meu sorriso irônico estava intacto.
Na saída do aeroporto tinha uma enorme e brilhante limusine preta com um motorista com um sorriso cansado sinalizando para nos.

Latini tinha mandando a limusine nos buscar.

Latini era o rei do exagero e ele sabia que eu odiava essas extravagâncias.

A limusine era uma péssima ideia e só fez minha ressaca piorar mais.

Nova York tem um transito caótico, e para aquele carro gigantesco as coisas eram 3 vezes mais complicadas.

O lado positivo foi que a viagem acabou sendo tão longa que consegui tirar um cochilo.

Depois de um bom tempo, o motorista parava em frente a uma das entradas do Central Park, informando nos que Latini estaria no memorial a John Lennon, o famoso Strawberry Fields.

Uma loira que não me era estranha se aproximou.

- Olá Vigário, vou acompanhar vocês até onde Latini esta. -  Ela falava com uma certa intimidade da qual eu não lembrava de onde vinha.

Fomos entrando pelo park, com aquela vista maravilhosa.

O central Park passa uma sensação muito boa, de leveza.

Não era a minha primeira vez ali.

Lembro que alguns anos atrás, fiz uma especie de fuga da minha realidade.

Peguei um flat minúsculo a 10 minutos de caminhada do park e ficava ali todo dia sentado tentando escrever algo que fosse diferente do que vinha fazendo.

Foram uns 15 dias de paz de espirito e sem ninguém ao redor.

O clima estava muito convidativo.

No decorrer do caminho ,eu me lembrei quem era aquela loira.

Latini era o meu amigo de índole mais questionável.

Qualquer passo que ele dava, era por mais humano pensado em interesses.

Eu a conheci quando ainda era uma jovem nos seus 18 anos.

Nos vimos pouquíssimas vezes, mas em algum momento aqueles traços me fizeram lembrar quem ela era.
Depois que Latini construiu seu império ,ele começou a investir em pessoas.

Mais especificadamente ,em mulheres com potencial de futuro para ele em alguma área.

E claro, mulheres bonitas do qual na grande partes das vezes ele viria a ter casos.

Ela era estudante de economia, muito avançada para a instituição que ela estudava.

Latini viu nela um business ,além de uma espécie de paixão naquela época.

Se é que Latini pode amar algo que não seja cocaína, álcool e sexo.

Ela estava muito bonita e amadurecida.

Além de rica.

Ela tinha sido bancada em Nova York logo nos seus primeiros anos de faculdade, na sua juventude.

E ela virou uma loba em Wall Street.

Era uma das mais respeitadas mundialmente em relação a bolsa de valores.

O touro de Wall Street tinha se entregado a ela a muito tempo.

Ela era uma brasileira que foi muito cedo para Nova York mas que assim como 90% das escolha de Latini, tinha criado um próprio império.

Latini tinha um estrela para essas coisas.

O fato de não ter escrúpulos parecia ser o diferencial.

Quando chegamos perto daquele símbolo branco no chão cheio de flores escrito IMAGINE ,tinha um bebe de menos de um ano, com um grande sorriso e transmitindo uma paz absurda ao lugar.

Todos sorriam levemente, a criança brincava com as flores ali no chão e um senhorzinho com uma voz doce e calma cantava algum clássico dos Beatles.

Eu parei ali naquele cenário por uns 5 minutos que pareceram uma eternidade.

Nem Maeve, nem a loba de Wall Street ou muito menos Latini ousaram me interromper daquela viagem.

Assim que a canção terminou, a mãe pegou sua criança ,e aquele ar foi voltando ao normal.

- Essas drogas que você usava no século passado fuderam mesmo seu cérebro -  Falava aquela voz inconfundível de Latini

Ele estava sentado em um branco bem próximo do memorial com uma garrafa de Vodka na mão.

- Minha viagem não foi suficiente para eu não perceber dois dos seus aspones a nossa volta -  Eu retrucava, depois de perceber dois homens que tinham toda a pinta de funcionários de Latini a nossa volta.

- Sei que você odeia isso Vigário, mas não se preocupe ,eles só estão aqui para evitar dor de cabeça com as autoridades locais por causa de álcool e outras coisitas mais.

Era proibido beber no Central Park, e mesmo assim Latini dava suas goladas em uma garrafa de vodka sem nenhum pudor.

- Quer um gole? Você demorou muito e foi o que restou do meu tradicional Breakfast no Central Park.
Uma vez por ano, como uma espécie de ritual, eu venho aqui e faço nevar no memorial.
Faço uma bela carreira, abaixo do IMAGINE e é assim que começo um novo ciclo.
A parte infame é dizer que eu não imagino, eu faço
.

Latini era um humano diferente, sem limites.

Cinco minutos antes de eu presenciar aquela cena que me gerou um enorme êxtase ,eu iria presenciar ,Latini ,um dos homens mais poderosos da política brasileira e respeitado em vários outros países, agachado cheirando um carreira de pó e fazendo uma piada tosca no memorial de John Lennon.

Essas horas eu via o lado positivo do transito de Nova York.
Saímos dali em direção ao hotel, onde estaria minhas roupas para o casamento de um amigo poderoso de Latini.

Um dos congressistas de maior força no momento nos Estados Unidos.

Eu dormi por horas, até ser acordado com Latini na minha porta no quarto de hotel.

Com todo seu exagero ,Latini vestia um fraque cinza com colete da mesma cor, uma cartola e uma bengala que acompanhava aquele ar meio do século passado.

Minha roupa era um pouco menos extravagante mas ainda assim exagerada.

Um terno de corte italiano preto, uma camisa social branca, gravata preta e colete vinho com um estilo gótico dos filmes de vampiros antigos.

Nada de cartola ou bengala, e mesmo assim me dei o direito de ignorar aquele belo terno.

Usei apenas o colete com a gravata por baixo.

Me sentia bem mais formal do que deveria.

A cerimonia era em uma cobertura que mais parecia um reino, de frente para uma das entradas do Central Park.

Uma vista que poucas fortunas tinham acesso.

Maeve usava um vestido longo vermelho com um decote recatado mas ao mesmo tempo provocador, que dava a ela um holofote assustador.

Acho que a noiva não ia ficar muito contente.

Ela se aproximou de mim com aquele cheiro único, com um sorriso de quem aguardava ser elogiada.
- Você está linda Maeve, como sempre – Eu fazia sua vontade sem nenhum tipo de obrigação.

E ela agradecia com seu sorriso leve.

Antes da cerimônia, Maeve e eu fomos a uma área do que seria a área do noivo.

Um enorme sala de estar onde estava o noivo, padrinhos e alguns pouquíssimos convidados.

Que inclui mulheres, drogas e álcool.

Na porta, todos deixavam os celulares, e só alguns tinham esse privilégio de participar.

Em terras tupiniquins diríamos que aquilo era uma despedida de solteiro horas antes do casamento.

Uma mesa gigantesca com comida japonesa, frios e frutas.

Do outro lado da sala, um grande bar, onde você mesmo se servia de qualquer bebida que imaginasse.

Uma Bancada a frente com um sistema antigo que produzia doses de absinto, onde pequenos cálices acompanhavam uma colher ao topo, onde havia um torrão de açúcar que era derretido lentamente por gotas de agua.

Um absinto com uma cor verde mais bruta, e que depois Latini me explicava que era uma produção mais caseira com a erva mais potencializada.

O que significava insanidade.

E a cereja do bolo que Latini apontava com um sorriso no rosto.

O que ela chamava de monte Everest.

Uma montanha enorme de cocaína da qual olhando eu não teria ideia do peso.

Algo absurdo de se imaginar naquele ambiente de poderosos.

Mas basicamente aqueles políticos tinham o mesmo modo de agir de Latini.

Todos viviam politicamente da tese religiosa e padrões de família arcaicos.

o famoso “bons costumes da família tradicional”

Latini era um ateu ,que vivia da faixada política de um religioso fervoroso.

Como uma bela piada pronta, ao me aproximar do monte Everest, via na bancada canudinhos para cheirar feitos de dólares e páginas de algumas passagens da bíblia.

Além disso para deixar aquele ambiente mais abstrato, facas e cutelos enormes para você usar para fazer a sua carreira.

Era insano.

Eu não cheirava.

Já tinha tido essa experiência umas duas vezes e nunca foi minha praia.

Mas era uma sensação perigosa que estava sempre à espreita tentando me seduzir.

Peguei um daqueles belos charutos cubanos que tinha aos montes naquele salão, passei a ponta do charuto levemente no Everest apenas para dar um sabor diferenciado e fui fumar longe daquela linda obra prima.

Latini parecia uma criança que mergulhou de cabeça em um pote de chantili.

Havia pó em toda sua cara ,e seu sorriso mole era visivelmente adulterado.

Maeve fumava um beck com a loba de Wall Street.

E aquela cena era de um tesão absurdo.

Duas mulheres maravilhosas flertando, com um baseado e todo aquele poder que elas tinham exalando delas.

Mulheres poderosas que assumem essa postura normalmente são como lenha com gasolina em uma fogueira.

Voltamos todos para a cerimonia depois de umas duas horas naquele covil.

O noivo parecia um astronauta na lua.

Tenho certeza que no dia seguinte ele nem saberia que casou.

Eu conversava com um senador que era um dos padrinho e que eu já havia sido apresentado em outra ocasião por Ari.

Era um senhorzinho muito respeitável e de ótimo papo.

Sem nenhum tipo de cegueira pelo poder.

Um homem que dignamente não foi corrompido pelo poder.

Ele já estava se despedindo de mim ,quando em tom de brincadeira pediu para que eu tomasse conta da sua filha na festa.

Ele então chamou ela e me apresentou.

E eu achei um sentido para estar ali naquela festa.

Ela devia estar no auge dos seus quase 30 anos.

Tinha um semblante que me lembrava a famosa cantora Janis Joplin.

Uma versão mais jovem de aparência e menos afetada pela a vida de abusos.

Ela também tinha um ar meio hippie.

Sua roupa para o casamento com certeza seria reprovada se ela não fosse a filha do senador.

Não tinha aquele potencial de formalidade que esses tipos de cerimonias pedem ,muito menos naquela alta cúpula da sociedade.

Mas ela não se importava.

Estava lá com seu vestido simples ,com seu tom meio Woodstock.

Ela tinha um tom meio ferrugem no rosto, que era algo que eu adorava e que estava fazendo parte das mulheres que entravam na minha vida recentemente.

Sua brancura flertava com um nível baixo de albinismo.

Ela se despediu do seu pai e ficou ali conversando comigo.

E se divertia com meu sotaque brasileiro no inglês.

Era bom aquela conversa com alguém que se sentia bem comigo sem saber nada sobre minha carreira de escritor.

Depois de um tempo conversando ela me convidou a acompanhá-la para um lugar mais reservado.

Naquele momento a festa estava no auge da loucura.

Todos os convidados estavam em uma vibe que deixariam uma rave no chinelo.

Cheguei um minúsculo cômodo que parecia um quarto.

Apenas uma cama e um espelho.

Ela puxou um cigarro eletrônico desses que era moda nesse momento da sociedade.

Era um vaporizador com extrato de cannabis.

Ela avisava que podia ser um pouco mais forte do que fumar um baseado normal.

Eu não sou um fã de tecnologias no geral, mas eu andava com a mente aberta para a atualidade.

Ficamos ali fumando aquilo.

E ela achava graça do apelido que dei, de Janis, e resolveu cantar para mim.

E incrivelmente ela tinha uma voz linda.

Aquilo me excitava ainda mais.

Em 10 minutos estávamos se pegando como loucos.

Um dos casamentos mais ricos e poderosos estava acontecendo e eu e a reencarnação de Janis Joplin ali naquele quartinho de empregada fumando e transando como o melhor que a plebe pode oferecer.

Ficamos ali por umas duas horas.

Quando sai ,demos de cara com Maeve e a loba de Wall Street ajeitando os vestidos em um corredor.

Quando me viu, Maeve deu um sorriso culpado do qual eu já conhecia muito bem.

-Vigário ,se prepara que em 5 horas vamos pegar um jatinho particular para Vegas.
Latini ,eu e você vamos para um fim de semana de folga que você tanto merece.

Eu apenas achava graça.

A minha reencarnação de Janis e a loba de Wall Street ,também foram convidadas e resolveram nos acompanhar.

Depois de um belo banho e mais sexo no chuveiro ,nos dois saímos a caminho do aeroporto comendo tudo o que podíamos.

A larica tinha chegado com tudo.

No jatinho fui informado que Ari  e John estariam lá para esse fim de semana, que depois desse casamento parecia ser improvável de igualar a loucura acumulada.

Sentado no jatinho ,ouvia Latini no telefone dizendo o quão doente ele estava e por esse motivo estaria ausente de uma votação importante no congresso.

Ele me viu ouvindo aquela conversa e como tradicionalmente, deu uma piscada e rebolava sua língua no meio de dois dedos, simulando um sexo oral.

Latini era um lixo.

Mas quem era eu para julgar.

Estava a caminho da minhas merecidas folgas em Las Vegas e só isso importava.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Não há dor que o uísque não resolva



De volta aos meus dias em solo americano com Maeve.

Agora em Washington D.C., berço do homem mais poderoso do mundo.

Eu já conhecia Washington de outras épocas.

Eu ,Ari e John já estivemos em uma festa na casa branca.

Com direito a tomar umas belas doses de whisky na área onde o presidente fazia suas reuniões mais informais ,além de acordo questionáveis.

O Presidente da época era um cara legal, tinha um apreço muito grande por Ari, já que Ari era um grande movimentador de business na terra do Tio Sam.

Eu tinha uma palestra em uma faculdade respeitada da cidade, basicamente com o tema cultura e literatura.

Além de uma homenagem no famoso Capitólio ,antro da política americana.

A homenagem com certeza era alguma besteira que Latini devia ter organizado com seu conhecimento no espectro político.

Fui lá acompanhado de Maeve.

Tomei dois copos de algo bem forte que eles serviram e apertei a mão de alguns senhores que pareciam vir do Texas.

Recebi um papel e alguns aplausos pelo meu esforço com a cultura literária.

Um dos senhores que estavam ali, se apresentava como um grande fazendeiro e empresário, além de responsável por grande parte da produção de uísque do Teenesse.

Se aproximou de mim ,depois de sua apresentação, dizendo estar interessado em bancar um roteiro escrito por mim para um filme que eu daria as diretrizes.

Agradeci dizendo que no momento estava em uma busca espiritual mas que aceitaria algumas garrafas do seu uísque como um convite a pensar na proposta.

Ele sorria como uma criança que havia conseguido o seu tão esperado sorvete e mandava que um dos seus funcionários pegasse meu endereço para enviá-los.

Maeve sempre na minha retaguarda, fazia aquela cara de desaprovação e me fulminava com os olhos.

A história da minha busca espiritual era uma piada que usava sempre para negar convites de trabalhos.

John, Ari, Maeve e Latini já eram conhecedores dessa piada batida.

Aquele ambiente e toda a adulação era demais para minha pessoa.

Sai daquela sala enorme, na presença de grandes poderosos ,com um sorriso irônico no rosto e pegando uma garrafa daquela bebida forte e escura com o garçom.

Saímos dali e fui ouvindo poucas e boas de Maeve.

Como de praste.

No caminho paramos em um lugar mais sossegado para comermos algo, beber e trocar ideia.

Maeve queria saber sobre minha relação com a era digital.

Eu escrevia para um blog, mas meu aprofundamento moderno estava longe de ser algo atualizado.

Até mesmo celular eu evitava usar.

E ela começou a me falar sobre os aplicativos para relacionamentos.

Eu já tinha ouvido falar sobre ,mas nunca me interessei em saber como funcionava.

Ela então achou uma boa ideia eu experimentar para escrever sobre.

Em 2 minutos ela criava na minha frente um perfil e colocava ativo.

E lá estava eu olhando algo que parecia um menu de pessoas.

A muitos anos atrás, existiam lugares com esse tipo de tecnologia, porém em uma versão bem mais arcaica, onde você tinha um livro com várias mulheres e fazia sua escolha.

Famoso Book.

Mas só o principio foi usado nesse aplicativo, aqui era algo que teoricamente você procurava relacionamentos.

Ou mesmo como alguns descreviam, algo informal.

Eu nunca fui do tipo de escolher mulher por beleza.

Nunca fui visual.

O que é completamente estranho para os homens de hoje em dia.

Eu era tocado por algo, algum trejeito, palavra ou mesmo sensação.

Fotos não funcionavam.

E eu acabava reprovando 99% das fotos que apareciam para mim.

Maeve olhava para mim sem acreditar no que estava vendo.

-Vigário se você não der ok para algumas, não vamos conseguir interagir e assim você não vai ter essa experiência para falar sobre. – Ela falava irritada com o meu descaso.

Resolvi então, abri cada perfil e ir lendo suas descrições para ver se aquilo me ajudava.

E nesse caminho, funcionou melhor.

Eu gostava de alguns textos que vinha na descrição.

Uns com humor, outros com uma pitada de solidão, alguns que faziam você pensar.

Realmente palavras eram meu ponto fraco.

Ai me apareceu aquele perfil.

“É estranho estar aqui de volta.
Seja gentil.
Eu mandarei a primeira mensagem.
Não tenho interesse em relacionamentos no momento.”

Aquela mensagem explodiu minha cabeça.

Eu queria decifrar cada parte dela.

Era uma americana de cabelos de um preto azulado.

Olhos verdes enormes.

Tinha um ar triste em todas as suas 5 fotos.

E aquilo me deixou ainda mais intrigado.

-Como funciona agora? -  Eu perguntava sem a menor ideia de como aquilo funcionava.

- Você gostou dela, e agora tem que esperar para ver se ela vai gostar do seu perfil também.
Se isso acontecer, vai abrir um lugar para vocês começarem uma conversa. – Maeve me explicava com toda calma do mundo.

Resolvi ir para o hotel mais cedo, porque me sentia esgotado.

Aquela bajulação toda, me sugou.

Maeve resolveu ficar mais um tempo no restaurante que estávamos, porque estava flertando com uma garçonete japonesa.

Estava lá na noite sentado escrevendo algumas coisas aleatórias quando ouço um bep.

Aquele som estranho vinha da minha calça que estava jogada no outro lado do quarto.

Fiquei pensando por uns 5 segundos, quando me dei conta de que o celular da conta do aplicativo de relacionamentos estava comigo.

Olhei e tinha uma notificação.

Quando abri, senti meu sorriso aparecer naturalmente no meu rosto.

Aquela americana que tanto tinha me intrigado, também tinha gostado do meu perfil.

Agora o próximo passo era, como falar com ela?

Havia um lugar para uma conversa privada agora, porém no seu perfil ela dizia que deveria ser a primeira a mandar mensagem.

Esse tipo de coisa não era muito bom para alguém ansioso como eu.

Fiquei ali quebrando a cabeça procurando uma solução e nada.

Eis que surge uma mensagem dela.

“Me adicione no aplicativo tal e conversaremos por lá.”
Aquilo só podia ser uma piada.

La estava eu procurando um segundo aplicativo, que também não tinha a mínima ideia de como usar.

Fiz umas pesquisas na internet, fiquei ali revirando e em dez minutos já estava apto a pelo menos responder ela com facilidade.

A primeira pergunta que ela fez fazia parte de mais uma porta em um labirinto.

“Como é sua aparência?”

Aquilo não fazia sentido.

Ela vinha de um lugar onde me aprovou pelas minhas fotos, logo ela já sabia como eu era.

Quando a respondi dessa forma, ela achou graça e disse que queria ver como eu me descrevia.

Eu estava me sentindo um pouco travado, e ela em alguns momentos monossilábica.

Tinha outro problema.

Esse aplicativo novo onde ela queria conversar, apagava as conversas assim que eu lia.

E eu estava achando tudo aquilo muito insano e além da minha compreensão em relação a tecnologia.

Resolvi pedir desculpa pelo incomodo e agradecer pela atenção.

Ela achou graças e mandou uma foto.

Ela segurava um copo de uísque com um sorriso meio tristonho, e uma frase embaixo da foto.

“Não há dor que o uísque não resolva.”

E aquilo era mais uma peça para meu quebra cabeça.

Eu já tinha um palpite.

Coração partido.

Coloquei para ela que também não tinha intenção de relacionamentos e que iria ficar só mais dois dias na cidade.

E a convidei para tomar um copo de uísque no restaurante da esquina.

Ela respondeu com carinha sorridente e uma mãozinha de ok.

Essas comunicações atuais são estranhas demais para esse velho de outro século.

No dia seguinte ,no horário combinado ,lá estava eu.

Sempre pontual.

Ela parecia não seguir essa linha.

Já tinha passado 15 minutos desde o horário que havíamos combinado.

A garçonete japonesa veio na minha mesa sorrindo ,e puxando assunto, querendo mais informações sobre Maeve.

Algo que eu jamais faria ,nem sob tortura.

Maeve tinha um jogo muito eficiente no quesito sedução e mesmo para não se apegar.

Não poderia atrapalhar.

Aquela garçonete com sua educação e sorriso peculiar dos orientais, aproveitava para começar o que parecia um flerte comigo.

E eu ali, completamente constrangido com o fato de no auge da minha experiência de vida, ter sido enrolado por um aplicativo.

-Acho que vou continuar nossa conversa em outra hora, sua companhia chegou. – A garçonete se despedia da minha mesa sorrindo.

-Desculpe pelo atraso, mas pensei algumas vezes antes de resolver vir. - Minha primeira experiência em um aplicativo de relacionamento falava timidamente ao se aproximar da minha mesa.

Ela se sentou, pedimos um copo de uísque cada um e começamos a conversar sobre a vida.

Sempre fui bom em decifrar incógnitas.

Nasci com esse dom como o dom com as palavras.

E toda minha análise ,por palavras e expressões faciais anteriores estavam corretas.

Ela estava machucada.

Vinha de um termino de um relacionamento longo que a afetou bastante.

Ela não queria sentir mais afeto por ninguém.

Como um cão de rua que foi abandonado e espancando pelo seu antigo dono.

Nossos olhares quando se cruzaram formaram faíscas de primeira.

Eu me senti incendiado, e podia ver isso nela.

Não demorou muito e fomos para a casa dela.

Ela abriu uma garrafa de uísque e ficamos ali até de manhã.

Apenas curtindo um ao outro e a nossa bebida.

Repetimos a dose no meu último dia.

Mais uísque, sexo e aquele afeto que estávamos criando um pelo outro.

Acordo com o celular do aplicativo berrando.

Era Maeve dizendo que precisávamos ir para o aeroporto.

Acordei ela com um beijo e me despedi.

Ela tinha o mesmo sorriso triste que vi pela primeira vez no seu perfil.

- Não se preocupe, não há dor que o uísque não resolva. – Ela debochava.

Ela abraçou-me, deu um beijo quente e um tapinha na minha cabeça.

Qualquer coisa te acho na Irlanda, vou atrás do maior consumidor de álcool daquelas bandas e chego até você. -  Ela falava agora pela primeira vez com um sorriso com bons sentimentos.

Sai da casa dela com a cabeça explodindo de ressaca, garganta seca e uma sensação de que dessa vez, não queria ir embora.

Eu e Maeve nos encontramos e fomos direto para o aeroporto porque tínhamos o casamento no dia seguinte em Nova York com Latini.

No avião, a aeromoça me ofereceu uma dose de uísque.

- Não obrigado, mas dessa vez acho que o uísque não vai resolver. - Falava com ela como se ela pudesse entender aquela piada interna.

Peguei uma garrafa de agua e fui tentando me livrar pelo menos daquela ressaca maldita.