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quarta-feira, 20 de maio de 2020
O cometa oriental
Ainda no meu tempo de bancário, antes de John e os outros, minhas aventuras eram um pouco mais sóbrias.
Quer dizer, não alcoólicas.
Naquela época eu tinha o habito terrível de fumar diariamente uma caixa de cigarro de filtro vermelho.
Não era fã de nada alcoólico, o que é espantoso comparando com minhas rotinas atuais.
Mas sempre fui adepto de colocar meu corpo para funcionar fora da normalidade.
O LSD era uma pedida para época.
Eu não era um usuário fervoroso, mas as vezes mergulhava naquele mundo abstrato para produzir melhor.
Mas a frente nos primeiros períodos de faculdade ,larguei a vida do ácido de lado e comecei a conhecer o mundo dos jovens.
Aquilo era tudo mundo novo e desconhecido ainda no Rio de Janeiro, o famoso Ecstasy.
Mas também foram poucas vezes.
Depois que tive meu primeiro encontro com o álcool, eu larguei todas essas amantes e fui ter uma vida fiel.
Até o velho companheiro do cowboy, deixei de lado.
Eu tinha uma rotina mais saudável e mais sociável.
Ainda sem aquela sombra pesada que eu carregaria no futuro.
Tinha como parceria minha amiga de infância Caroline, que era da minha idade.
Ela sempre foi uma grande amiga, e me colocava nas melhores situações possíveis.
Estava sempre no meu pé ,me incentivando a escrever.
Era uma fã de carteirinha dos meus textos.
Eu sempre encontrava com Caroline e as vezes íamos visitar seu irmão Alex que era 2 anos mais novo que nos.
Ele tinha esquizofrenia e era muito calado.
Adorava a irmã e ficava feliz com minhas visitas.
Alex era muito tranquilo e fazia tratamento a muito tempo.
Morava com os pais de Caroline, enquanto ela já tinha saído de casa com 17 anos.
Caroline sempre foi uma espécie de gênio com números e começou a mexer com investimento desde nova.
Começou com seu dinheiro de merenda e aos 16 já tinha um histórico de investimento financeiro que lhe proporcionou um emprego de aprendiz na área.
Esse foi só o incentivo para que ela fosse atrás de conquistar o mundo com o seu perfil agressivo no mundo da bolsa de valores.
Eu conhecia Caroline desde criança, e éramos inseparáveis.
Na nossa adolescência começamos a ter atritos.
Caroline era muito a frente da sua idade, então começou a focar bastante na sua área e com isso quase não saímos mais.
Eu tinha meu trabalho de bancário, também aprendiz, do qual eu odiava e fazia como se fosse um robô.
Não havia nenhum prazer, apenas quando eu batia o ponto e pegava meu cigarro.
No meio dessas cobranças para ela aproveitar mais a vida, batia um peso na consciência e ela aparecia com um sorriso no rosto pronta para me levar para alguma festa.
E juntos, nos éramos imbatíveis no quesito se divertir.
Nunca tivemos nada sexual, Caroline era a irmã que não tive.
Um dia, Caroline apareceu na minha casa com aquele largo sorriso habitual e seus olhos arredondados brilhando de felicidade.
- Fiz um investimento muito alto pela empresa, que foi um tiro certeiro que nenhum velho daqueles de 30 anos de mercado chegou perto.
Precisamos comemorar. - Ela sorria se gabando.
E ela já tinha tudo planejado.
Caroline morava perto de uma colônia de japoneses e tinha muito amigos de lá.
Eu conhecia uma menina de lá, que tinha sido da nossa sala no colégio quando nós éramos mais novos, mas que não via fazia muitos anos.
- Hoje a Japa me convidou para uma festa lá na colônia.
Uma festa tradicional que eles fazem todos os anos.
Eu já fui algumas vezes, acho que você vai gostar.
Sem contar que a Japa esta solteira e talvez seja a chance de eu tirar você dessa vida de lobo solitário. – Ela falava com aquele tom implicante costumeiro.
Eu topei.
Não Pela Japa, que eu já nem lembrava mais como era, mas porque eu raramente falava não para Caroline.
Além de que Caroline tinha feito um comercial absurdo sobre as comidas das festas na colônia.
Alex foi conosco.
Chegamos lá e toda a colônia, que era uma espécie de vila ,estava toda enfeitada com temas e cores que davam o ar do mundo oriental.
A entrada da vila tinha sido enfeitada para se parecer com aqueles castelos orientais de camadas.
90% dos convidados eram da própria vila, mas Caroline era uma velha conhecida daquele lugar.
Passou parte da infância lá ,e os pais da Japa adoravam ela e Alex.
Quando chegamos ,Caroline ia cumprimentando todos da vila e me apresentando como seu melhor amigo.
Alex estava mais reservado ,e vinha atrás de mim constrangido, cumprimentando rapidamente aquelas pessoas que ele já conhecia.
Uma senhorinha veio em nossa direção e trouxe uns empanados fritos que pareciam aqueles empanados de frango.
Achei estranho porque esperava um peixe cru de primeira.
Ela brilhava os olhos ao ver aquilo e comia super satisfeita.
Na minha mordida, uma surpresa.
Aquilo não era frango, nem peixe ,era carne de porco.
- Essa carne de porco é uma receita da vó da Japa.
Comia isso tanto quando era criança aqui. – Caroline Falava naquele tom saudosista.
Realmente tinha um gosto muito bom e ficamos ali nos deliciando.
Alex hesitou em um primeiro momento, mas depois se entregava ao poder daquela iguaria.
Estava ali parado quando um quadrado preto se aproximava do meu rosto.
- Vigário então resolveu aparecer para me visitar depois de anos. – A Japa estava ali na minha frente me entregando saquê.
Ela sorria e ia em direção a Caroline com o seu saquê.
Eu fiquei ali meio perplexo com a imagem que estava na minha frente.
A Japa estava completamente diferente da imagem que eu tinha na minha cabeça.
Fazia bastante tempo que não a via, então isso ajudou na imagem desatualizada da minha mente.
Ela tinha aqueles traços orientais bem fortes, os olhos puxados de uma forma engraçada mas bem sutil.
Um sorriso tímido.
Cabelo escuro longo e bem liso.
E uma cintura fina que não sei bem descrever ,mas que teve um potencial avassalador pra mim naquele momento.
Ela saiu por um instante para buscar uma bebida sem álcool para Alex, enquanto Caroline vinha cochichar no meu ouvido.
- Parece que minha missão de tentar fazer vocês dois ficarem mais próximos, já começou bem.
Faça o favor de conserta seu rosto porque seu queixo caiu ao ver a Japa.
Além disso parece que você fez a japonesa abrir os olhos pela primeira vez na vida dela. – Caroline se divertia com aquela situação.
O resto da noite foi nos quatro ali, comendo e bebendo naquela festa tranquila que a colônia tanto se orgulhava.
Depois de algumas horas Alex começou a se sentir mal.
Ele começava a se apavorar quando tinha crises, e talvez aquela quantidade de pessoas em volta ali pudesse estar desencadeando isso naquele momento.
Caroline resolveu ir para casa que era ali próximo com ele e pediu para que eu ficasse na festa.
Mesmo muito interessado ali em continua a conversa com a Japa, resolvi que também iria embora, e deixaria eles em casa antes.
- Vigário, vou com você levar eles e depois você volta comigo, porque preciso de companhia aqui na festa por mais tempo.- A Japa falou deixando bem claro que eu tinha que seguir suas coordenadas.
Caroline só sorria.
Deixamos os dois no apartamento de Caroline, e quando estávamos descendo as escadas, a Japa disse que queria descansar e foi sentando na escada.
Ficamos ali conversando, enquanto basicamente eu só seguia seus comandos.
Até que ela veio na minha direção e me deu um beijo.
E ficamos ali por um tempo.
Aquela escada ia ser o começo de uma aventura.
A Japa ia embora em três meses morar no Japão e por esse motivo não queria compromisso.
Segundo ela, não queria sofrer ou fazer alguém sofrer, e por isso queria apenas se divertir comigo.
Eu já morava em um apartamento minúsculo alugado, e lá virou o que ela chamava de nosso tatami.
Ela adorava aparecer as duas da manhã no meu apartamento.
Interfone tocava e eu olhava pela janela, e lá estava ela com sua bicicleta no meu portão.
Nunca quis pegar a cópia da minha chave.
E eu achava graça daquilo.
Ela era uma ótima companhia, mesmo com aquela tristeza no semblante que ia aumentando de acordo com a proximidade da nossa despedida.
Ela tinha um fogo que era difícil de acompanhar.
Lembro daquela cintura linda, que dava uma ênfase as curvas do seu corpo maravilhoso.
Aquela pele lisa e gostosa de tocar.
O cheiro que o cabelo dela tinha que me deixava extasiado.
Ela sabia como mexer comigo.
Ficava ali me atentado, cochichando besteiras no pé do meu ouvido.
Aquelas madrugadas eram realmente divertidas.
No final eu estava esgotado com ela de conchinha agarrada em mim aproveitando aquelas poucas horas de sono, até que o alarme tocava para eu ir trabalhar.
Existia uma química gostosa e que não era forçada.
Meu apartamento era um quadrado, que tinha nosso cheiro.
Sua bicicleta já fazia parte daquela loucura, já que não tinha lugar para guardar.
Então colocávamos ela no banheiro.
Todo o perrengue era parte da nossa diversão.
Ficamos nessa rotina até o dia da sua ida para Japão.
Caroline só foi saber que ela ia embora no último mês.
E se sentia culpada por fazer aquela ponte entre nos.
Segundo ela, a Japa já tinha se apegado.
Eu sem nenhuma cerimônia, também já estava.
E aquilo seria algo para lidar.
Na verdade ,seria um ótimo treinamento para as despedidas futuras.
Um dia antes da viagem ,eu já tinha visto ela cedo e ela decidiu que aquela seria nossa despedida.
Caroline ia ao aeroporto no dia seguinte, e eu ao seu pedido não iria.
Sai do trabalho e fui direto para casa com aquela sensação pesada no peito.
Tomei meu banho e fui dormir mais cedo.
Duas da manhã meu interfone tocou.
Eu levantei assustado e fui na janela, e ela estava ela sorrindo com sua bicicleta.
Ela entrou na minha casa com aqueles empanados de porco da sua vó e uma garrafa de saquê.
Comemos e tomamos toda a garrafa de saquê curtindo uma conversa leve.
Estávamos completamente alcoolizados quando começamos um sexo selvagem no chão do quarto.
Foi uma coisa bem doida, um fogo difícil de explicar.
Minhas costas estava toda arranhada depois disso.
Minha camisa ela tirou rasgando.
Eu tinha mordidas no corpo.
Depois de algumas horas naquele modo animal.
Estávamos os dois mortos, jogados em cima do outro, respirando fogo.
Uma garrafinha de agua era o nosso único socorro depois daquilo tudo.
Ficamos ali deitados recuperando o ar e olhando para o céu estrelado que estava a nossa frente.
A minha janela aberta ajudava a devolver nosso oxigênio perdido.
Ali deitados olhando o céu, totalmente em silencio, os dois tiveram a mesma visão.
Um traço brilhante passava correndo pelo céu.
A japa deu um pulo.
- Você viu isso?
Será que era uma estrela cadente? - Falava espantada.
- Vi sim, e parece que fomos premiados.
Porque eu li no jornal hoje sobre a passagem de um cometa bem próximo, que daria para ver a olho nu, mas esqueci completamente. – Eu respondia lembrando do que tinha lido mais cedo.
Depois de passar por aquele momento único, apagamos ali mesmo no chão.
No dia seguinte, meu alarme tocou e ela se levantou comigo.
Nos arrumamos em silencio.
Ela tinha avisado que sairia antes de mim, e na hora que estava pronta, me deu um abraço.
Ficou em silencio por uns segundos.
Eu conseguia ouvir sua respiração ficando pesada.
- Obrigada por tudo.
Eu não vou esquecer o bem que me fez.
E também não vou te esquecer.
Lembra do cometa de ontem?
Então, pensa que assim como ele, eu vou passar por aqui de novo daqui uns anos. – Ela falava com aquele sorriso tímido e a voz embargada.
- Outra coisa, vou te deixar um presente, que vai ser uma dor de cabeça para você, mas que é um jeito de você não me esquecer.
A bicicleta é sua a partir de hoje.
Cuide dela. – Ela dava uns tapas no meu peito, me punindo por todo aquele carinho.
Me deu um beijo e quando ia tentar falar algo ,ela colocou um dedo na minha boca, como quem pedisse silencio.
Aquilo era o ponto final para não estragar aquela noite perfeita.
Eu vi ela saindo pela porta e consegui perceber as suas lágrimas caindo.
E essa foi a última vez que a vi.
A bicicleta dela está até hoje na minha casa do Brasil.
Hoje estava aqui na cama ,lembrando dela e da promessa de aparecer novamente como o cometa.
Só fico imaginando se ela reprogramou seu trajeto para a Irlanda.
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