Fui perguntado em uma entrevista como controlava o futuro.
As pessoas achavam que falavam com algum estoico dos tempos gregos.
O escritor tem essa imagem, para alguns, de grande sábio, no meu caso ainda tinha esse plus de ser quase um eremita.
Essa fuga da mídia, só potencializava essa imagem.
No meio da entrevista eu via nos olhos da radialista, aquele sentimento de devoção e atenção a cada sílaba que eu pronunciava.
- Talvez um Nietzsche moderno - Ela falava me tirando um sorriso sem graça e um revirar no estômago.
Para aquela senhora, minhas palavras soavam como a de um filósofo insano.
Maeve adorava me colocar nessas situações constrangedoras.
Me encontrando sem saída nessas arapucas, jogava o jogo.
O famoso entrava no personagem.
- O sentido da vida é seguir sempre a procura do prazer, o hedonismo seria o caminho correto - La estava eu me divertindo naquela entrevista enquanto a entrevistadora se derretia em emoção como se realmente tivesse em frente a um grande pensador moderno.
Meu personagem era difícil de se manter, já que a ressaca naquela manha era gigantesca.
Mas aos olhos da entrevistadora, até isso ela confundia com algo apaixonante.
Fui vendido por duas horas como um dos escritores mais diferenciados do seculo.
Essas coisas me deixavam entediado e me irritavam sempre, mas segundo Maeve, a minha nova fase em qualquer mídia, era de uma educação refinada.
Sem ironias ou revirar de olhos.
As ironias fugiam às vezes, era mais forte que eu.
Ela também adorava se referir a mim como, um grande nome da contracultura.
Eu não fazia parte desse movimento, só era de uma geração diferente, e parecia que a nova geração do jornalismo não entendia a diferença disso.
O estoicismo também não fazia parte do meu eu, já que jamais aceitaria meu destino de bom grado.
Para mim, um livro nunca é definitivo.
Mesmo os meus, são palavras escritas que você reflete sobre, e pode ser levado para uma dimensão diferente da que eu me encontro.
Destino jamais seria algo como um livro já escrito.
No final da entrevista, todos no estúdio estavam hipnotizados pelas minhas palavras.
Mais uma vez eu não me orgulhava disso, mas fazia parte do personagem.
Na entrevista eu fui muito perguntado sobre futuro e então a ideia desse conto era falar sobre o futuro.
Mas 3 segundos a frente e a ideia já estava afundada no passado.
É muito difícil para nos, meros mortais, entender que não conseguiremos alcançar o futuro.
Se você conseguir planejar algo para o futuro e alcançar esse ponto, ele será, por milésimos de segundos, seu presente e virará passado sem você nem perceber.
O futuro vai estar la sorrindo e te assistindo de bem longe.
Às vezes é tudo mesmo sendo por nada.
Você pode tentar traçar seus passos novamente.
Uma logística.
Uma estratégia, dizem por aí que ajuda.
Parar e ouvir seus pensamentos.
Quando você fica em silêncio, consegue ouvir o caos que está rolando na sua cabeça.
Esse é um primeiro passo inteligente para se direcionar nessa busca perdida.
Você tem que entender que qualquer movimento que você faça no presente, altera seu futuro.
O menor que seja.
O efeito borboleta funciona bem para ilustrar.
Mas você precisa colocar isso em prática nas suas atitudes.
Porque você continua afetando seu futuro com escolhas erradas ou simplesmente se negando a escolher por algo.
Se omitir e jogar para de baixo do tapete para ganhar tempo, é o bater de asas de uma borboleta digna de clássicos de monstros japoneses.
Você ta fudendo tudo, que nessa altura, já sabe o que quer.
Só está sendo covarde de assumir.
Largar a bolha.
Deixar o conforto do “certo”, para mergulhar na incerteza.
Viver algo que vai mudar seu espírito e renovar sua alma.
Não tem cartilha, assim como conceito de felicidade, o futuro é incerto.
Existe quem siga o padrão “perfeito” da sociedade.
Anos de estudo e anos de dedicação em uma escravidão profissional, quer dizer, "sucesso profissional", que teoricamente te levaria próximo do futuro tão almejado.
Existe a ideia megalomaníaca de futuro.
Essa me diverte.
Você vai para cama e junto dos seus pensamentos acordados e sonhos profundos, planeja a revolução na sua vida.
Pode ser para os próximos meses, mas também pode se traçar um planejamento de anos.
Essa visão realmente me agrada.
Gosto de exageros.
Mas sempre tive em mente que nunca alcançaria nem a felicidade e muito menos um futuro.
Isso me tirou uma tonelada das costas que vejo as pessoas ao me redor carregando.
É difícil não falar de futuro sem falar de responsabilidade.
Você sempre estará nessa corda bamba.
E responsabilidade aqui abre um leque enorme.
Seja de sobrevivência, seja de responsabilidade afetiva ou mesmo voltando para o ponto zero, responsabilidade de futuro.
Se você for jogar seu futuro com algum especialista nesses quesitos sobrenaturais, vai ser lhe vendido um livro fechado, com capa dura e tudo.
Que significa que seu caminho está traçado, não importa qual escolha você opte.
Como eu já disse anteriormente, essa não é a teoria que me cativa.
Eu prefiro continuar acreditando nas asas da borboleta.
Morreria de tédio se meu futuro já estivesse todo escrito.
É engraçado como você pode ter anos de carreira e daqui a uma semana estar trabalhando com algo que nunca imaginou e se encontrar de alguma forma.
Viver um relacionamento de 10 anos, e com um estalar de dedos, nem lembrar que aquilo existiu.
Seria esse o seu futuro?
Ou você pretende seguir uma planilha?
Vou repetir uma coisa que falo sempre.
Seu passado é peça fundamental para seu futuro.
Um passado que você não deixou de lidar, vai trazer um presente saudável e com isso mais ferramentas para caminhar rumo ao inalcançável futuro.
Seu presente é o furacão que pode mudar tudo.
Essa escotilha você abre para fazer as mudanças de rota.
Chegou uma carta para mim.
Único meio que essa pessoa conseguiria se comunicar comigo.
E mesmo assim, com muita ousadia e perspicácia, porque existem filtros de defesa para essa mensagem não chegar em mim.
Maeve, minha agente, era o maior.
Mas dessa vez até ela tinha sido enganada.
A carta tinha o potencial de afetar os três tempos.
Uma onda do passado, que chega como um tsunami no meu presente para deixar meu futuro destroçado.
Cartas eram o conceito de palavras jogadas para o futuro.
A carta era de um envelope simples, quase uma carta de cobrança.
Sem remetente e só dados básicos como selo e meu endereço nela.
Mas no toque, eu já sabia que ela não era uma carta normal.
Até que senti o que me entregava que aquela leitura seria um caminho sem volta.
Ela tinha um cheiro.
Impossível de não reconhecer.
Memorias afetivas são uma merda.
Mas piores que elas, eram as palavras que tive que ler.
Palavras bonitas e rebuscadas.
Programadas exatamente para atingir esse tipo de memória.
Um grande plano arquitetado por trás de cada frase.
Tenho que admitir que meu sorriso de canto de boca era apenas por entender a intenção de cada palavra ali na minha frente.
O teor não me pegou como era a intenção.
Não senti nada, a não ser desprezo, por alguém achar que eu poderia cair naquele encanto em forma de escrita.
Talvez minha empatia tivesse tomado proporções mais aceitáveis ou eu estava virando um coração de pedra.
Mas não era isso.
Eu sabia reconhecer essa sedução.
Essa tentativa de me hipnotizar pelas palavras.
Sorriso era meu fraco, palavras não.
Logo eu, que respirava o conto do vigário como ganha-pão, cair no canto da sereia.
No final, ela aguardava uma carta de volta.
Uma carta resposta sobre futuro.
Mas eu jamais escreveria.
Deixaria morrer no presente e virar passado.
Talvez uma nota de rodapé.
Se tu não fez questão, porque eu teria que fazer.
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