Acordei de bom humor, o que era um milagre.
A temperatura batia 16 graus e saia uma espécie de sol lá fora.
Outro tipo de milagre no inverno irlandês.
E sim, eu estava com uma enorme ressaca.
Seriam milagres de mais para um dia, se eu acordasse sem ressaca.
Resolvi dar uma volta as margens do rio da cidade, o famoso rio Shannon.
Sempre que precisava limpar a mente, dava uma volta por lá e assistia as correntezas do rio passando.
Isso era um exercício muito bom de paz mental.
Mas existia a lenda de que o Shannon chamava as pessoas, lenda essa por causa do grande número de suicídio que acontecia ali.
Ao mesmo tempo que o rio me dava paz ,eu sentia como se estivesse olhando para o rio de Hades da mitologia, onde centenas de almas ainda pareciam estar presas ali.
Quando batia minha cota de tranquilidade, tomava um trago do meu uísque de bolso e saia logo dali negando seus chamados.
No caminho de volta para casa, comprei meus frangos fritos e umas cervejas e fui caminhando pela via principal aproveitando aquele clima agradável que fazia na cidade.
No meio do caminho, três mulheres com uma espécie de roupa parecida, pararam na minha frente com belos sorrisos no rosto, perguntando se eu tinha um minuto.
Eu apenas parei e sorri ,porque aparentemente eu tinha uma muralha feita a minha frente pelas três.
- Queríamos falar com você sobre Jesus. – Uma delas já informando sobre o que se tratava.
- Nada contra, mas ele não faz parte do meu ciclo de intimidade.- falei sem nenhuma espécie de ironia e de forma mais educada possível.
Porque realmente não tinha interesse de uma conversa religiosa na rua e com aquela ressaca ainda ali me chutando a cabeça.
No mesmo momento que dei a resposta, duas das mulheres já saíram em busca de outras pessoas na rua e só uma continuou ali na minha frente.
Elas devem ter percebido olhando para mim em segundos o quanto improdutiva seria aquela missão.
A única que ficou ,continuava ali me encarando com um grande sorriso e com um ar de vitória.
Que ao meu ver não fazia sentido nenhum, e isso me deixou um pouco confuso.
- Minha casa já é ali naquela porta amarela, não vou fazer você perder seu tempo. - falei achando que aquela era a melhor maneira de uma fuga educada.
Olhando dentro dos meus olhos, ela sorriu novamente com o mesmo ar de vitória de segundos atrás.
- Você não precisa falar comigo sobre jesus ou minha religião, podemos apenas conversar sobre a vida se você não se importar. – Ela continua com sua estratégia para me desconcertar.
E eu realmente estava desconcertado.
O sorriso, o ar de vitória e o olho no olho, que é algo que me incomoda um pouco.
Eu tenho uma teoria que os olhos são a janela da alma, e algumas pessoas tem esse dom de te invadir.
Não tenho medo de conversar com alguém que fale olhando nos olhos, pelo contrário, é o mínimo que se espera, mas algumas pessoas tem essa habilidade de se aprofundar só pelo olhar.
Ela parecia fazer isso naquele momento, e por isso me sentia desnorteado.
Começamos a falar sobre a vida no geral.
Ela contou que era americana, e que estava na Irlanda como uma espécie de voluntaria da sua igreja.
Ela era mórmon.
E até o momento eu não sabia nada sobre essa religião.
Ficamos ali conversando por um bom tempo.
Ela realmente era agradável e estava ajudando de alguma forma a diminuir nos efeitos da minha ressaca.
Pediu meu telefone e eu informei que não tinha.
Sempre odiei celulares, e depois que cheguei na Irlanda, resolvi driblar Ari e John, e não ter um.
Com a negativa do celular, ela apenas fez uma cara pensativa por alguns segundos enquanto continuava me olhando nos olhos.
- Ok, se você não estiver ocupado, amanhã nesse mesmo horário estarei em frente à entrada da sua casa para conversamos novamente.
Achei aquilo engraçado e topei sem pensar muito sobre o assunto.
- Só se for novamente, uma conversa sobre a vida, nada de religião. – Coloquei minhas regras na mesa
E ela apenas concordou com a cabeça.
Me deu um beijo no rosto e com seu sorriso leve, foi embora.
Entrei em casa um pouco confuso com aquilo tudo, mas mesmo assim me joguei na minha melhor terapia.
Frango frito e cerveja na minha cama.
No dia seguinte tudo ocorreu como combinado, e repetimos isso algumas vezes.
Acredito que lá pela quarta vez, convidei ela para ir conversar em um café.
Ela com sua leveza nas palavras habitual me disse que não tomava café, por causa da sua religião.
Mas que ao invés de ir a um café ,aceitaria conversar na minha casa.
Estava começando a chover e estávamos na minha porta, não parecia um plano maléfico arquitetado pela aquela bela mórmon.
Entramos na minha casa e com 2 minutos de conversa, já estávamos nos amassando no sofá.
Ela era linda.
E tinha o poder de me intrigar.
Tinha os cabelos compridos, castanho claro.
Sua pele era um tom claro com algumas manchinhas pelo rosto.
Sempre usava a mesma roupa, um sobretudo preto com uns pequenos detalhes em vermelho.
Era muito discreta e ao mesmo tempo bem apresentada.
Sempre com o seu livro de capa preta, que parecia ser uma espécie de bíblia dos mórmons.
Essas visitas a minha casa se tornaram constante.
E quanto mais intimidade, mas ela começava a se soltar e a falar sobre sua igreja.
No começo estava tudo ótimo.
Eu conseguia cortar o assunto rapidamente.
Mas começou a piorar.Tinha os cabelos compridos, castanho claro.
Sua pele era um tom claro com algumas manchinhas pelo rosto.
Sempre usava a mesma roupa, um sobretudo preto com uns pequenos detalhes em vermelho.
Era muito discreta e ao mesmo tempo bem apresentada.
Sempre com o seu livro de capa preta, que parecia ser uma espécie de bíblia dos mórmons.
Essas visitas a minha casa se tornaram constante.
E quanto mais intimidade, mas ela começava a se soltar e a falar sobre sua igreja.
No começo estava tudo ótimo.
Eu conseguia cortar o assunto rapidamente.
Um fato engraçado, era que todas as vezes que ela ia para minha casa, sempre estava com sua roupa tradicional e seu livro.
Íamos para cama e a primeira coisa que ela fazia era colocar o livro de capa preta ao lado.
Depois de toda a diversão mundana ,eu ficava ali encarando o livro sagrado.
Era um pouco estranho.
Com o tempo ela começou a me pressionar.
Ela não podia ter um relacionamento de fora da igreja, como ela dizia ,não era correto.
E eu não tinha nenhuma intenção de virar um religioso.
Nunca tive nada contra, mas nunca foi a minha praia.
Resolvi sentar com ela e deixar claro que por mais divertido que estivesse aquela relação, eu não iria para a igreja como ela queria.
Ela pareceu chateada mas rapidamente voltou com o sorriso mais tímido dessa vez no rosto e falou que infelizmente ela teria que terminar os nossos encontros.
Eu apenas concordei com a cabeça.
Dei um abraço nela e ela saiu pela porta.
Nessa época, Ari já tinha me obrigado a ter um celular em casa para emergências, e ela tinha esse número.
Acordei um dia com meu celular apitando, várias vezes seguidas.
E quando olhei tinha 27 mensagens pendentes.
Abri uma para ler e era um convite para ir à igreja domingo de manhã.
Número desconhecido.
Abri outra e era algo como “jesus ama você”, também de outro número desconhecido.
E todas as outras mensagens eram de mesmo teor, e todas de números diferentes.
Eu estava sendo atacado pela comunidade mórmon da cidade.
E desde então recebo de 15 a 20 mensagens por dia com convites para ir à igreja.
Foi a forma que a minha linda mórmon achou de se vingar de mim.
Não sou mais parado na rua por eles, parecem que eles me identificam e todos sempre dão um sorrisinho para mim quando passo.
Agora na minha rotina quando acordo ,tenho uma linda ressaca e várias mensagens para deletar.
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